Uma das coisas que pensei é a questão da avaliação contingente, que, em economia ambiental e de recursos naturais, é um método que se usa muitas vezes quando tentamos dar um valor a bens que não são de mercado. Um cidadão pertencer à UE não é um bem de mercado, pois não é uma coisa que se possa comprar facilmente (se bem que haja países que permitem a cidadãos obter a nacionalidade de um país da UE, pode-se também obter cidadania por casamento, imigrar e esperar anos até nos qualificarmos para a cidadania, etc.).
Mas o meu ponto é que é um bocado difícil para as pessoas decidirem se vale a pena ou não, quando não têm uma boa noção dos custos e benefícios da sua decisão. Ou seja, mesmo se lhes fizéssemos a pergunta, contingente a um cenário, não conseguiríamos ter certeza de que a sua resposta verdadeiramente representava o valor que davam ao bem, pois, na altura da resposta, o cenário seria uma construção hipotética e as pessoas ainda não tinham sentido a consequência real. É mais ou menos isso o que aconteceu a algumas pessoas que responderam ao referendo.
A peça de opinião da Sandra já está no Expresso e eu gostei muito porque ela toca mesmo na questão crucial de que havia quem não soubesse as implicações do voto que fez. E ao ganhar o "Não", muitas pessoas perceberam melhor as consequências de estar, ou não estar na UE, ou seja, há mais informação na economia.
"Se um referendo é um ato democrático que dá voz a todos aceitando as preferências da maioria, a sua repetição pode ser um ato de grande coragem democrática e de defesa dos reais interesses dos cidadãos. E não seria algo inédito. A Dinamarca assim o fez quando o “Não” venceu com 50.7% dos votos o referendo a 2 de Junho de 1992 ao Tratado de Maastricht. Um ano mais tarde, após negociações que permitiram incluir 4 cláusulas de exclusão a partes do tratado, a Dinamarca votou sim num novo referendo.
Qualquer processo de decisão está envolto em emoções e racionalidade. Há quem decida com a cabeça e muitos há que decidem exclusivamente com o coração. É pena é que de entre os atuais arrependidos muitos não tenham tido a capacidade de antecipar o seu próprio arrependimento na altura de votar."
~ Sandra Maximiano, Expresso, 1-7-2016
Já não há pachorra para este chorrilho de verborreia anti-democrática, ainda por cima prenhe de sobranceria elitista e disfarçado de supostos sentimentos democráticos. De uma vez por todas, convençam-se: deixem de pretender dar lições de democracia à mais antiga democracia do Mundo. THE PEOPLE HAVE SPOKEN! GET OVER IT, FOR HEAVENS'S SAKE!
ResponderEliminarEu cá já fui buscar um enorme balde de pipocas:
Eliminarhttp://www.nakedcapitalism.com/2016/07/brexit-huge-spanner-in-the-works-negotiation-of-new-uk-trade-deals-verboten-till-exit-complete.html
Aparentemente já há uma moção nesse sentido nos Commons, proposta por um MP do Labour - i.e. que haja um novo referendo no final da negociação, para "ratificar" o acordo.
ResponderEliminarAnti-democrática Geraldes? Os referendos são anti-democráticos?
ResponderEliminarEu disse precisamente o oposto, "Tiro ao Alvo".
EliminarNão me pareceu, caro Geraldo. E explico: interpretei o seu desabafo ("este chorrilho de verborreia anti-democrática") como uma crítica à posição da Sandra, quando ela defende que a eventual repetição do referendo "pode ser um ato de grande coragem democrática".
EliminarSim. Estamos na democracia do perguntamos o número de vezes necessário até obter a resposta que pretendemos. Daqui só saímos para a guerrra aberta.
ResponderEliminarIsso, NG, é a democracia à moda da UE. As coisas não funcionam assim no Reino Unido.
EliminarPois eu acho que o que esta historia prova e que nao ha povos de primeira e de segunda.
EliminarA posição demonstrada nesta crónica (não a crónica toda há uma parte introdutória ao tema interessante) que tive oportunidade de ler no Expresso é simplesmente ridícula. Generalizando o argumento, Portugal está na final do Campeonato da Europa eu sou português e quero que Portugal ganhe, mas Portugal perde logo a final deve ser repetida para ver se o resultado é diferente, é este o argumento da autora. Isto vindo de uma pessoa normal tolera-se, vindo de um economista é grave, espero que continue a escrever papers sobre Economia Comportamental e nunca tenha de tomar decisões que afectem a vida real das outras pessoas. Ora isto aplicado nos mercados financeiros compra a acção x ela desce o agente económico tem de assumir o prejuizo. Aos agentes cabe prever o impacto das suas acções antes de as executar não é depois, o A mata B mas arrepende-se depois, pronto vamos perdoá-lo porque se arrependeu. Isto em termos de uma sociedade seria o caos.
ResponderEliminarChoca-me que a Rita Carreira que está ligada aos mercados financeiros venha elogiar a posição da autora, visto isto ser a antítese do funcionamento dos mercados financeiros.
No entender de alguns comentadores, um Partido político que não alcance, em eleições, o número suficiente de votos para conquistar o poder, deve arrumar as botas e desistir de lutar, isto em defesa da democracia...
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