terça-feira, 23 de agosto de 2016

Na mesma...

A minha mãe passava a vida a dizer-me que eu era um bicho do mato, não suportava ninguém, criticava toda a gente, era insuportável, ninguém me iria aturar, etc. Eu ouvia aquilo e passava-me ao lado. Era o que era. Até lhe dava uns olhares altivos quando ela me criticava, estilo "in your face, Mom!" Ela dizia "Tu olhas para uma pessoa e parece que estás prestes a comê-la!" Olhar de predadora, que bom! O que ela considerava grandes defeitos, eu achava que eram elogios.

Estava a ler um blogue que eu achava muito giro há uns sete ou oito anos, que me tinha ajudado a manter o meu português, e hoje em dia acho insuportável. Sempre que leio um post recente dá-me vontade de esganiçar a autora e perguntar "What the fuck happened to you?" -- os insultos são muitos mais fáceis em inglês. Eu sei que podia tirar aquilo da minha feed, mas sou uma pessoa fiel e houve uma altura em que a moça me ajudou, sem saber que me ajudava.

Enquanto dava asas à minha imaginação de atacante de bloggers, lembrei-me do que a minha mãe me dizia e perguntei-me se estava a ser difícil como ela achava que eu era. A consciência das nossas mães é uma coisa muito chata. Foi mais ou menos nessa altura de auto-dúvida que, num dos blogs de poesia do Gil T. Sousa, apareceu um post com um poema de Jorge de Sousa Braga, que me encantou e eu pensei "Era mesmo isto que eu queria, assim vale a pena ler blogues. Rita, tu és o máximo, estás na mesma, nunca mudes. Sê como eras quando a tua mãe te criticava!"

esse verão

Vinha meio nu
Trazia uma cesta de vime cheia de amoras
que colhera nas margens do rio
Passara a tarde toda de silvado em silvado
Na sua mão direita um pequeno arranhão
– Tão quente tão quente
esse verão

~ jorge de sousa braga
o poeta nu

1 comentário:

  1. Nos EUA existe um aforismo segundo o qual dois é muito, três é uma multidão.

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