Tudo pertence aos deuses, e os deuses são amigos dos sábios,
e os amigos têm toda a sua propriedade em comum, logo, tudo pertence aos sábios, argumentou Diógenes deitado na sua barrica, antes de suster a respiração durante vários dias e deixar aos seus amigos, não se sabe se deuses se sábios, um belo cadáver de mais de noventa anos. Brilhante da unção diária com óleos e unguentos, o cadáver de Diógenes, uma combinação de todas as coisas como todas as coisas, poderia ter sido a iguaria de um banquete póstumo, caso fosse levado a sério, Diógenes e não o seu cadáver, os cadáveres são sempre, quase sempre, levados a sério. Brilhante como uma lanterna e antropófago, em teoria, caso tivessem teorias os cadáveres ou fossem usados para iluminação, nem mesmo o cadávert de um filósofo tem essa utilidade. E Diógenes foi um filósofo, como atesta a história que dele contam sobre a ocasião em que um homem lhe bateu com uma vassoura, e como atestam as posições do cínico sobre a propriedade privada. É que antes de morrer Diógenes deixou bem claro que na casa de um rico não há lugar para se cuspir, a não ser na sua cara.
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