Um blogue de tip@s que percebem montes de Economia, Estatística, História, Filosofia, Cinema, Roupa Interior Feminina, Literatura, Laser Alexandrite, Religião, Pontes, Educação, Direito e Constituições. Numa palavra, holísticos.
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
Gimme a beat!
Donald Trump chamou nasty a Hillary Clinton durante o debate. Alguém comprou a morada NastyWomenGetShitDone.com e ligou-a a HillaryClinton.com. Os Estados Unidos são um país espectacular!
Ah! #nastywomen e #nastywomengetshitdone são as hashtags do momento no Twitter e no Facebook. And you know what else is nasty?
"My first name ain't baby, it's Hillary - Madam President if you're nasty."
Olá, é a primeira vez que comento aqui, embora já siga o blog há algum tempo ;) . Sei que a Hillary não é a candidata ideal da maioria dos autores do blog, mas acho que todos a preferem a Trump. De qualquer das maneiras, ontem ao assistir ao debate Hillary disse uma frase muito parecida com uma que Mariana Mortágua disse há uns tempos 'go where the money is' e foi muito criticada aqui pelo blog (e eu em geral concordei com o que foi dito). A minha pergunta é : Porque é que esta frase está a ser largamente ignorada pela imprensa dos estados unidos? E por aqui pelos autores deste blog? (Ainda há pouco li um post no facebook de um dos autores que sigo deste blog, o Luís Aguiar-Conraria, que achou que a Hillary esteve fantástica no debate e ele foi, e bem, um dos grandes criticos da frase de Mortágua). Gostava de tentar perceber as diferenças de posição num caso e no outro ;). Se é porque os EUA são um país diferente em que não há qualquer fantasma do comunismo? Se é porque o Trump é tão mau, que por piores coisas que a Hillary diga o Trump há-de dizer alguma coisa sempre pior?
Cumprimentos e continuação de bons posts a todos os autores! Mário Horta
Olá Mário! Obrigada pelo seu comentário e pela excelente pergunta. Vou tentar responder à sua pergunta, no entanto eu diria que o que a Mariana Mortágua disse e advoga, não é diferente do que os governos PS e PSD têm dito e feito. O governo anterior também preferiu aumentar impostos a fazer reformas e reduzir desperdício.
Os EUA e Portugal têm problemas opostos: a carga fiscal nos EUA é muito mais baixa do que em Portugal e o tamanho da despesa comparado com o PIB é menor nos EUA (104%, note-se que parte desta dívida foi devido à Guerra no Iraque, que é uma despesa temporária) do que em Portugal (129%). Os impostos nos EUA favorecem os mais ricos (a distância entre pobre e rico nos EUA é muito maior do que em Portugal), mas os mais pobres não estão tão protegidos pelo estado social nos EUA como em Portugal.
Os EUA têm uma infraestrutura envelhecida, há sítios onde gastar o dinheiro de forma produtiva, e há ricos que beneficiam bastante da infraestrutura existente sem pagar impostos, como é o caso de Donald Trump. Por exemplo, o imposto que financia o Highway Trust Fund já não é actualizado desde 1993 (ainda está em 18,4 e 24,4 cêntimos para gasolina e gasóleo respectivamente, i.e., nem sequer foi actualizado para compensar a inflacção). Há desperdício nos EUA, sem dúvida, mas não tanto como em Portugal porque o sistema de justiça aqui é mais eficaz e o enquadramento legal da corrupção é melhor.
O problema com o que Mariana Mortágua disse, pelo menos para mim, é que não ataca o desperdício e aumenta a carga fiscal, quando Portugal é um dos países com maior carga fiscal. O rácio das receitas de impostos-PIB é 26,9% nos EUA e 37% em Portugal.
Enquanto que os americanos são muito bons a justificar porque precisam do dinheiro e a atitude do governo é mesmo respeitar o esforço dos contribuintes que pagam imposto, em Portugal os políticos têm uma atitude de "o que é vosso é nosso".
A evasão fiscal também é um sério problema em Portugal e sempre que o governo agrava a carga fiscal, são os mesmos a pagar impostos. Os perdões fiscais dos governos recompensam quem não paga. Quem paga nunca é recompensado. Parte do problema é a atitude dos portugueses. Por exemplo, num inquérito recente nos EUA 86% dos respondentes disseram que pagar impostos é um dever dos cidadãos. Ninguém nos EUA perguntaria a um cliente "Quer factura com IVA ou paga sem IVA?" Toda a gente acha normal ir à loja e pagar o imposto no fim. Quando querem fugir aos impostos, os americanos mudam de estado ou de condado, mas a impostos federais ninguém foge. Os americanos são obrigados a declarar e pagar impostos independentemente do país onde vivem.
"Sei que a Hillary não é a candidata ideal da maioria dos autores do blog,"
Para mim é mesmo a ideal. Já a apoiava há 8 anos.
Em relação à pergunta, a minha resposta é a mesma da Rita. Os problemas em Portugal e nos EUA não são iguais. Já agora, em relação à frase da Mortágua, não foi tanto a frase que me incomodou, foi o discurso que a precedeu. Um discurso em tudo igual ao oponente da Clinton das primárias, o Bernie Sanders. Um tipo que me parece quase tão louco como o Trump. Mas há outras coisas onde esta assimetria acontece. Por exemplo, tenho medo dos efeitos negativos de mais aumentos do salário mínimo em Portugal e sou favorável a aumentos nos EUA.
Só mais uma coisa, eu disse que a Clinton esteve fantástica no sentido de ela ter ganhado o debate. Não no sentido de eu concordar com ela. Tenho muita pena que ela seja contra o acordo comercial que a Europa e os EUA estavam quase assinar. Tenho sérias dúvidas sobre a mentalidade bélica dela e tenho pena que não tenha defendido comércio mais livre. Não gosto nada de alguém que esteja sempre a falar mal das importações, como o aço chinês. Mas, de facto, no contexto, essa acusação foi perfeita e mortal.
Olá, é a primeira vez que comento aqui, embora já siga o blog há algum tempo ;) . Sei que a Hillary não é a candidata ideal da maioria dos autores do blog, mas acho que todos a preferem a Trump. De qualquer das maneiras, ontem ao assistir ao debate Hillary disse uma frase muito parecida com uma que Mariana Mortágua disse há uns tempos 'go where the money is' e foi muito criticada aqui pelo blog (e eu em geral concordei com o que foi dito). A minha pergunta é : Porque é que esta frase está a ser largamente ignorada pela imprensa dos estados unidos? E por aqui pelos autores deste blog? (Ainda há pouco li um post no facebook de um dos autores que sigo deste blog, o Luís Aguiar-Conraria, que achou que a Hillary esteve fantástica no debate e ele foi, e bem, um dos grandes criticos da frase de Mortágua). Gostava de tentar perceber as diferenças de posição num caso e no outro ;). Se é porque os EUA são um país diferente em que não há qualquer fantasma do comunismo? Se é porque o Trump é tão mau, que por piores coisas que a Hillary diga o Trump há-de dizer alguma coisa sempre pior?
ResponderEliminarCumprimentos e continuação de bons posts a todos os autores!
Mário Horta
Olá Mário! Obrigada pelo seu comentário e pela excelente pergunta. Vou tentar responder à sua pergunta, no entanto eu diria que o que a Mariana Mortágua disse e advoga, não é diferente do que os governos PS e PSD têm dito e feito. O governo anterior também preferiu aumentar impostos a fazer reformas e reduzir desperdício.
EliminarOs EUA e Portugal têm problemas opostos: a carga fiscal nos EUA é muito mais baixa do que em Portugal e o tamanho da despesa comparado com o PIB é menor nos EUA (104%, note-se que parte desta dívida foi devido à Guerra no Iraque, que é uma despesa temporária) do que em Portugal (129%). Os impostos nos EUA favorecem os mais ricos (a distância entre pobre e rico nos EUA é muito maior do que em Portugal), mas os mais pobres não estão tão protegidos pelo estado social nos EUA como em Portugal.
Os EUA têm uma infraestrutura envelhecida, há sítios onde gastar o dinheiro de forma produtiva, e há ricos que beneficiam bastante da infraestrutura existente sem pagar impostos, como é o caso de Donald Trump. Por exemplo, o imposto que financia o Highway Trust Fund já não é actualizado desde 1993 (ainda está em 18,4 e 24,4 cêntimos para gasolina e gasóleo respectivamente, i.e., nem sequer foi actualizado para compensar a inflacção). Há desperdício nos EUA, sem dúvida, mas não tanto como em Portugal porque o sistema de justiça aqui é mais eficaz e o enquadramento legal da corrupção é melhor.
O problema com o que Mariana Mortágua disse, pelo menos para mim, é que não ataca o desperdício e aumenta a carga fiscal, quando Portugal é um dos países com maior carga fiscal. O rácio das receitas de impostos-PIB é 26,9% nos EUA e 37% em Portugal.
Enquanto que os americanos são muito bons a justificar porque precisam do dinheiro e a atitude do governo é mesmo respeitar o esforço dos contribuintes que pagam imposto, em Portugal os políticos têm uma atitude de "o que é vosso é nosso".
A evasão fiscal também é um sério problema em Portugal e sempre que o governo agrava a carga fiscal, são os mesmos a pagar impostos. Os perdões fiscais dos governos recompensam quem não paga. Quem paga nunca é recompensado. Parte do problema é a atitude dos portugueses. Por exemplo, num inquérito recente nos EUA 86% dos respondentes disseram que pagar impostos é um dever dos cidadãos. Ninguém nos EUA perguntaria a um cliente "Quer factura com IVA ou paga sem IVA?" Toda a gente acha normal ir à loja e pagar o imposto no fim. Quando querem fugir aos impostos, os americanos mudam de estado ou de condado, mas a impostos federais ninguém foge. Os americanos são obrigados a declarar e pagar impostos independentemente do país onde vivem.
"Sei que a Hillary não é a candidata ideal da maioria dos autores do blog,"
EliminarPara mim é mesmo a ideal. Já a apoiava há 8 anos.
Em relação à pergunta, a minha resposta é a mesma da Rita. Os problemas em Portugal e nos EUA não são iguais. Já agora, em relação à frase da Mortágua, não foi tanto a frase que me incomodou, foi o discurso que a precedeu. Um discurso em tudo igual ao oponente da Clinton das primárias, o Bernie Sanders. Um tipo que me parece quase tão louco como o Trump.
Mas há outras coisas onde esta assimetria acontece. Por exemplo, tenho medo dos efeitos negativos de mais aumentos do salário mínimo em Portugal e sou favorável a aumentos nos EUA.
Só mais uma coisa, eu disse que a Clinton esteve fantástica no sentido de ela ter ganhado o debate. Não no sentido de eu concordar com ela. Tenho muita pena que ela seja contra o acordo comercial que a Europa e os EUA estavam quase assinar. Tenho sérias dúvidas sobre a mentalidade bélica dela e tenho pena que não tenha defendido comércio mais livre. Não gosto nada de alguém que esteja sempre a falar mal das importações, como o aço chinês. Mas, de facto, no contexto, essa acusação foi perfeita e mortal.
EliminarMuito obrigado pela vossa paciência em me explicarem detalhadamente as vossas posições. Fiquei bastante esclarecido ;) !
EliminarCom os melhores cumprimentos,
Mário Horta