terça-feira, 8 de novembro de 2016

Dia de Eleição

Boa Terça-feira! Hoje é o grande dia em que finalmente temos a oportunidade de nos livrar da campanha eleitoral que tem sido bastante deprimente. Gostaria de vos deixar aqui alguns links para terem melhor ideia do que se passa por estas bandas. Reparem que, nestas eleições, talvez cerca de um terço dos eleitores já tenha votado antecipadamente.

No Washington Post, há um artigo sobre o peso dos centros urbanos. Cerca de 50% dos votos saíram das zonas mais densamente povoadas. Aliás uma das ideias para a existência de um Colégio Eleitoral é mesmo contrabalançar a disparidade entre os centros urbanos e as zonas rurais e dar oportunidade a que as zonas menos povoadas, algumas delas também mais pobres, também tenham voz a nível nacional.

Na Raw Story, explora-se os limites da análise de dados nestas eleições. Em princípio, estas eleições irão ser as mais votadas de sempre. Houve muita gente que se registou pela primeira vez para votar e, como tal, temos pouca informação acerca dessas pessoas, pois não estando registadas, também não são consultadas para responder nas polls. Mas nem toda a gente é ignorante acerca dessas pessoas: o Partido Democrata tem feito um enorme esforço para aumentar o número de pessoas registadas e mobilizá-las para votar. Para além disso, recolhem dados e muitos destes eleitores têm vindo a ser acompanhados desde a primeira eleição de Barack Obama; mas todas as eleições há pessoas novas que entram no sistema.

Hoje, por todo o país, voluntários irão buscar pessoas a casa e levá-las aos sítios de voto; este esforço chama-se "Get Out the Vote". Note-se que o jogo de campo dos Democratas é muito bom, mesmo as conversas que os voluntários têm com os eleitores obedece a um guião, as palavras são escolhidas para maximizar a probabilidade de os eleitores votarem Democrata. O Partido Republicano não só não está tão bem organizado, dado que houve bastantes problemas nos gabinetes locais, que são em menor número do que os dos Democratas, têm falta de dinheiro, etc., como tem havido notícias de pessoas simpatizantes de Donald Trump se colocarem no exterior dos edifícios de voto, com armas na cintura, a intimidar os eleitores (ver um relato aqui). O Partido Democrata já processou o GOP por intimidação de eleitores.

Isto, para quem está em Portugal, pode parecer um pouco estranho porque efectivamente, nos EUA, pode-se fazer campanha até o eleitor estar muito perto do sítio onde vai votar. Não há período de descanso, os partidos levam eleitores a votar, etc., mas o princípio dominante nos EUA é o da confiança: os partidos merecem a nossa confiança e presume-se que agem no melhor interesse da sociedade até prova em contrário. Se se portarem mal, então são levados a Tribunal. Havendo um bom sistema de Justiça, que é relativamente ágil, os americanos não se importam de correr riscos.

5 comentários:

  1. "Aliás uma das ideias para a existência de um Colégio Eleitoral é mesmo contrabalançar a disparidade entre os centros urbanos e as zonas rurais"

    Não sei se dois dos aspetos do colégio eleitoral não se anularão nesse aspeto - por um lado, a sobrerempresentação dos pequenos estados (sobreproduto de cada estado ter dois senadores e pelo menos um Representante) beneficia (surpresa) os pequenos estados; mas por outro, como quase todos os estados distribuem os seus votos no colégio eleitoral pela regra vencedor-leva-tudo, isso pode levar a que um voto popular a mais num grande estado possa representar mais votos a mais no CE do que num pequeno estado (um exemplo extremo - se os EUA só tivessem dois estados, um mais povoado que o outro, o vencedor do estado mais povoado ganhava sempre as eleições).

    Talvez sejam esses dois efeitos a anularem-se mutuamente que fazem que só muito raramente o colégio eleitoral seja diferente do voto popular?

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    1. A criação do Colégio Eleitoral teve que ver com questões demográficas - e é de notar que, à época, não havia o golfo que hoje há entre centros urbanos e áreas rurais - e com os direitos dos estados, nomeadamente os mais pequenos. Convém não perdermos de vista que os EUA são, basicamente, um estado federal.

      Nota: Dois estados não atribuem a totalidade dos seus votos ao vencedor, Nebraska e Maine. Em ambos, além da atribuição de dois votos correspondentes aos senadores) ao vencedor, é também atribuído um voto por cada círculo eleitoral da Câmara dos Representantes. Daí, por exemplo, se ter vindo a falar com bastante regularidade, nestas eleições, do 2º círculo eleitoral do Maine, que poderá pender para Donald Trump.

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    2. Dizia o Donald Trump, no terceiro debate, que o texto original da Constituição devia ser preservado porque os "Founding Fathers" sabiam exactamente o que o país precisava. Este era o argumento para defender a Emenda da Constituição que dá aos americanos o direito de portar armas. Ora, se é um direito consagrado numa emenda, então não é um texto original da Constituição.

      É uma escolha pessoal a escolha de argumentos para defender o Colégio Eleitoral. Há quem prefira olhar apenas para os argumentos iniciais; mas eu acho que essa interpretação literal é limitada porque, quando se falou do suposto anacronismo do Colégio Eleitoral, quando Bush ganhou as eleições a Gore, uma das justificações usadas para a preservação do Colégio Eleitoral foi exactamente a que eu dei acima. Queria-se dizer que, se o Colégio Eleitoral fosse mesmo anacrónico e não fizesse sentido nenhum, os americanos já o teriam mudado, assim como criaram emendas para a Constituição quando o texto original demonstrou ter algumas lacunas.

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  2. Nunca tentei informar-me sobre a razão para ter-se legislado que, em Portugal, a campanha não inclua a véspera das eleições e, se alguém souber, agradeço que venha suprir esta lacuna.

    Em termos de crenças, pergunto se terá sido uma medida ao encontro de paternalismos com o objectivo de, supostamente, protegerem o povo de si mesmo... No meu conhecimento não existe razão nenhuma para o dia de nojo que, na realidade, costuma ser furado através da esperteza saloia do costume.

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    1. Essa institucionalização do "dia de reflexão", caro Isidro, foi, a meu ver, um reflexo do temor que os políticos portugueses tinham da "imaturidade" do eleitorado, por alguns, nomeadamente Álvaro Cunhal, definida como "o atraso cultural do nosso povo" (que, na opinião dele, só não seria atrasado do Mondego para baixo - repare-se que as famigeradas campanhas de "dinamizaçao cultural", durante o PREC, apenas tiveram lugar no Norte, especialmente nos "cantões reaccionários dominados por caciques" do Minho e Trás-os Montes, já que, por exemplo, no Alentejo, o povo não carecia de "dinamização cultural"). A votação por listas é também um reflexo desse temor dos políticos perante o eleitorado "obscurantista". O fosso nunca cessou de cavar-se, entretanto.

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