quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Estar ou não estar

Segundo o INE, em 2015, o último ano do governo PSD/CDS, a emigração tinha atenuado e a imigração tinha aumentado. O saldo migratório não era o suficiente para compensar a baixa natalidade e a mortalidade, mas era uma melhoria. Os demógrafos dizem que "há uma nova esperança relativamente à situação económica".

Talvez os demógrafos devam reconsiderar o tempo verbal que usaram, dado que 2015 foi no passado e já estamos a menos de dois meses do fim de 2016. Em 2016, a economia portuguesa deteriorou consideravelmente, logo só daqui a um ano é que saberemos se o suposto "optimismo demográfico" é de facto uma tendência ou apenas um outlier. Especulo que ler estes dados com demasiado optimismo reflecte acima de tudo um grande desespero de dar boas notícias, mesmo sendo de governos anteriores, até porque já toda a gente se esqueceu que 2015 era do outro ou então nem notam o ano.

Deve-se assinalar que há aqui uma incrível distorção dos factos: o efeito da situação de Angola, que era um país importante para o saldo migratório português. Eu, que estou aqui no Texas e saí de Portugal há 19 anos, conheço três homens que estavam em Angola e regressaram a Portugal. O regresso não foi motivado por Portugal estar numa situação melhor, ou seja, não regressaram porque tinham bons empregos, mas sim por a situação de Angola se ter deteriorado tanto.

Não deixa de ser irónico que, ao mesmo tempo que se usa o mau desempenho económico de Angola para explicar o mau desempenho de partes da economia portuguesa, como as remessas de emigrantes, também nos querem convencer que foi a nova esperança da economia que contribuiu para o regresso de portugueses de Angola.

Enfim, é a lógica à portuguesa: distorcida da forma que mais convier para agradar a quem está no governo e desagradar à oposição. Seriedade intelectual, está quieto...

5 comentários:

  1. Eu, que tenho uma banal licenciatura em biologia, pintava a cara de preto se me citassem a dizer coisas destas num jornal (o artigo do Público ainda é pior). O geógrafo especialista em migrações, doutorado, professor associado na Universidade de Lisboa, nem pestaneja. Pobres alunos.

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    1. Efectivamente, com lógica desta é difícil ter boas notas, a não ser que se suspenda o pensamento crítico e se saiba a inclinação política do professor.

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    2. É o jornalismo e a investigação científica de referencia, cara IsabelPS.

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  2. Olha, olha, como é que eu adivinhei?! Resolvi googlar "Jorge Malheiros" e "Tempo de Avançar" e bingo!

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  3. Deixa-me cá ver se tenho pipocas em casa...
    http://www.dn.pt/sociedade/interior/indice-de-bem-estar-em-portugal-voltou-a-crescer-em-2015-5479604.html

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