quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Uma trampa

A eleição de Trump é para mim uma má notícia. Custa-me que a nação mais poderosa e a maior economia do mundo vá ser liderada por um tipo asqueroso, que tem uma visão abjecta da mulher e do seu papel na sociedade e que defende a xenofobia. Mas é isto. Que é bastante, porque eu acho que a vida privada de uma pessoa não deve ser tida nem achada para as suas funções públicas, mas o carácter, sim. Mas diz pouco sobre o que serão os próximos quatros anos, porque, se a campanha pôde ser um triste reality show (desculpem o pleonasmo!), feita de um conjunto de boçalidades e bestialidades, a presidência terá de ser fazer de decisões, de medidas concretas. E sobre estas ouvimos muito pouco nos últimos meses. Há a emblemática promessa de um muro que separe os EUA do México, que eu, com o optimismo que me resta, acredito que nem terá projecto arquitectónico. Embora receie que se possam construir muros dentro da sociedade americana.
A eleição de Trump é como a febre: não constitui doença em si, mas é um sintoma que não devemos negligenciar. Aliás, já deveríamos estar alerta desde que foi escolhido como o candidato republicano. E, mesmo antes disso, o resultado do referendo de 23 de Junho tinha vindo mostrar uma coisa: quando se olha de cima, a nata é a primeira coisa que se vê, mas não é a maioria do leite. E a democracia - felizmente! - faz-se do copo todo.

26 comentários:

  1. É pertinente. Pois... [segue-se um enxerto meio sarcástico, meio verdadeiro a partir de outra época]

    "Elogio da Loucura" dos que fizeram invenções sofisticadas sobre o perfil de Donald Trump. Inventaram tanto que não conseguiram captar o que se estava a passar. Pois... Foram atrás dos ganhos imediatos, seguindo o caudal que substituía o "reality show" das eleições pelo "reality show" de Trump.
    «(…)
    o idiota como tal se comportava. Na rua, passava rente às paredes, gaguejante de humildade. Sabia-se idiota e estava ciente da própria inépcia. Só os “melhores” sentiam, pensavam, e só eles tinham as grandes esposas, as grandes amantes, as grandes residências. E, quando um deles morria, logo os idiotas tratavam de erguer um monumento ao génio.

    E, de repente, tudo mudou. Após milénios de passividade abjeta, o idiota descobriu a própria superioridade numérica. Começaram a aparecer as multidões jamais concebidas. Eram eles, os idiotas. Os “melhores” se juntavam em pequenas minorias acuadas, batidas, apavoradas. O imbecil, que falava baixinho, ergueu a voz; ele, que apenas fazia filhos, começou a pensar. Pela primeira vez, o idiota é artista plástico, é sociólogo, é cientista, é romancista, é prémio Nobel, é dramaturgo, é professor, é sacerdote. Aprende, sabe, ensina.

    No presente mundo ninguém faz nada, ninguém é nada, sem o apoio dos cretinos de ambos os sexos. Sem esse apoio, o sujeito não existe, simplesmente não existe. E, para sobreviver, o intelectual, o santo ou herói precisa imitar o idiota. O próprio líder deixou de ser uma seleção. Hoje, os cretinos preferem a liderança de outro cretino.
    (…)»
    [Nelson Rodrigues - A Cabra Vadia - Novas Confissões, São Paulo: Companhia das Letras, 1995]

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  2. Estas eleições, muito mais do que a vitória de Trump mostram a enorme derrota do Partido Democrata e, principalmente, de Obama e do que o orelhudo achava ir ser o seu "grandioso legado". Por várias vezes, de há vários anos, venho dizendo que Obama ficará para a história como o pior presidente Americano do pós-guerra, a par ou talvez pior ainda do que Jimmy Carter. Esta estrondosa derrota - que é também de Obama num plano muito pessoal - parece de alguma forma começar a abrir o caminho para este entendimento. Não foi apenas Trump que ganhou. Foi o Grand Old Party que também venceu contra todos os que o supunham moribundo devido à mudança demográfica na América. Ganhou a House, o Senate e, nas eleições estaduais que também estavam em disputa ganhou francamente. Os eleitores Americanos quiseram pôr um ponto final na Obamalândia. A estratégia de dividir as comunidades Americanas e aumentar as tensões raciais e étnicas perdeu inapelavelmente.

    Foi uma vitória pacífica dos cidadãos comuns contra o establishment. Foi uma tremenda derrota da comunicação social que se acha imbuída da obrigação divina de influenciar as eleições em vez de limitar-se a dar notícias objectivas e factuais. Derrota também para os comentadores políticos a manifestar uma vez mais a inutilidade da ciência política e patetices afins. Foi uma enorme derrota do execravel politicamente correcto em benefício dos sentimentos oprimidos de todos aqueles que cada vez mais têm que optar entre o silêncio ou falar e ser enxovalhado. Há dois anos Brigitte Gabriel, num colóquio na Heritage Foundation e em resposta a uma questão despropositada sobre o islão, disse, textualmente, “It Is Time We Take Political Correctness and Throw It In The Garbage Where It Belongs!”. Estas eleições foram sobre isto também. A vitória do pragmatismo sobre o patético, irreal, divisivo, castrador e destrutivo politicamente correcto.

    On this fine day I salute you, Americans, for your wisdom.


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    1. As insanidades que este senhor (ou será senhora? o nick name Zuricher não esclarece) ainda se toleram (nem que seja recorrendo ao Alka-Seltzer).
      Mas este naco de prosa mostra bem a natureza da personalidade da criatura: «de Obama e do que o ORELHUDO achava ir ser o seu "grandioso legado».
      Entre ter as orelhas grandes e cérebro ou ter orelhas normais e ter nascido sem ele (como parece ter sido o caso desta criatura), eu prefiro de longe o primeiro caso, do Obama.
      Deixo à consideração dos visitantes deste post que tenham cérebro (que parece serem todos menos um tal Zuricher) alguns factos sobre os mandatos de Obama.
      - Recebeu uma recessão (em 2008, na maior crise económico-financeira mundial pós-1929) e pôs o país a crescer 3,5%;
      - Recebeu 10% de desemprego e deixou menos de 5% (criaram-se 15 milhões de empregos);
      - Tornou os EUA independentes energeticamente (com a revolução do gás de xisto);
      Criou o Obamacare, que proporcionou protecção na saúde a 2,5 milhões de Americanos só em 2016, podendo expandir-se no futuro);
      - Eliminou o terrorista Bin Laden;
      - Fez o Acordo Nuclear com o Irão;
      - Assinou o Acordo das Alterações Climáticas de Paris;
      - Normalizou as relações com Cuba.
      Tudo isto apesar da oposição dos Republicanos na Câmara dos Representantes no 1.º mandato e desta e do Senado no 2.º
      É evidente que não foi o presidente perfeito.
      Qual foi?
      E que teve insucessos.
      Qual não teve?

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    2. Senhor (ou senhora) Zuricher:
      Da BBC Mundo esqueceram-se de o (a) convidar para esta equipa que dois peritos (Iwan Morgan, especialista em História dos Estados Unidos pela Universidade Colégio de Londres, e David C. Eisenbach, especialista em História presidencial da Universidade de Columbia) que chegou a estas conclusões sobre os melhores e os piores presidentes dos EUA.
      Nem, ao menos, fez parte do painel de 47 historiadores do Instituto para os Estudos das Américas inquiridos para o mesmo efeito.
      Mas que injustiça!
      Imperdoável!
      Só essa falha justifica a ausência de Obama na lista do pior de todos eles.
      Assim nem lá aparece.
      Safou-se o «orelhudo».
      Ver aqui o artigo completo:
      http://observador.pt/2016/11/09/quem-foram-os-melhores-e-os-piores-presidentes-dos-estados-unidos/

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    3. Algum "fact-checking" (coisa de que a Esquerda parece gostar muito) e outras considerações

      - Pôs o país a crescer 3,5%. Independentemente de que quem põe serem as galinhas, os EUA estão no 10º ano consecutivo com crescimento inferior a 3%:

      https://www.cnsnews.com/news/article/terence-p-jeffrey/us-has-record-10th-straight-year-without-3-growth-gdp

      - Desemprego inferior a 5%: nunca a taxa de participação da população activa no mercado de trabalho, nos EUA, foi tão baixa como agora. Os "5%" são camuflados pela enorme massa que já não consta dos registos do desemprego por ter desistido de procurar trabalho ou por ter empregos apenas em part-time, contra sua vontade.

      - Gás (e petróleo) de xisto. E eu que pensava que tinha sido o engenho e a iniciativa privadas a fazerem-no! Afinal foi o Nobel da Paz de 2009.

      - A maioria dos americanos não gosta do Obamacare, que acha que a prejudicou. Julgo que, mais que expandir-se, será revogado pelo triunvirato republicano Casa Branca/Senado/Câmara dos Representantes.

      - O terrorista Bin Laden. Estamos de acordo. Prosseguiu a política de George W. Bush de dar caça a essa tenebrosa criatura. Em contrapartida, libertou de Guantánamo alguns dos homens mais perigosos do mundo, vários dos quais voltaram à jihad.

      - Acordo Nuclear com o Irão: como se trata de matéria controversa e de benefícios duvidosos, é questionável incluir-se isto na lista dos feitos de Obama.

      - Acordos "Climáticos": típica fezada da Esquerda diletante. Esteja-se de que lado se estiver deste debate, os acordos não passam de fantasias para inglês ver e para sossego das almas mais ecológicas.

      - Cuba: e os cubanos de Miami responderam com maciça votação no candidato republicano. Abriu a Cuba sem nada em troca. Este ano, o regime comunista cubano já prendeu mais de 9.000 opositores.

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    4. Quanto aos 47 historiadores, a minha avó sempre me recomendou que não baseasse a minha opinião em menos de 48 historiadores.

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    5. EStas coisas dependem sempre dos indicadores que se usam, mas se usarmos o PIB real, como é comum, o valor máximo foi de 3,3%, de facto: https://fred.stlouisfed.org/graph/?g=9Jft

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    6. Quanto à taxa de participação da população activa ela é, de facto, baixa, mas não parou de aumentar desde 2011. Mas é um facto que é baixa: https://fred.stlouisfed.org/series/LREM64TTUSM156S
      Infelizmente, não penso que seja conjuntural, parece-me que é uma nova realidade a que as economias ocidentais vao ter de se habituar.

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    7. Não sei se será tanto assim, Luís, "uma nova realidade a que as economias ocidentais vao ter de se habituar", para o citar. No Reino Unido, por exemplo (que cito por ser o país que melhor conheço fora de Portugal), não só o desemprego está abaixo dos 5%, como a taxa de participação da população activa está em níveis recorde. O Ocidente não, estará, portanto, condenado a baixas taxas de paricipação.

      Quanto ao crescimento da economia americana, como explicar, então, a continuada política de taxas de juro baixas do Fed?

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    8. -"O Ocidente não estará, portanto, condenado a baixas taxas de participação."

      Espero que tenha razão, naturalmente.

      -"Quanto ao crescimento da economia americana, como explicar, então, a continuada política de taxas de juro baixas do Fed?"

      Isso é uma pergunta com resposta demasiado longa. Mas enquanto não houver pressões inflaccionistas as taxas de juro não deverão subir muito, é a minha aposta.
      Mas repare que eu ali em cima limitei-me a dar-lhe factos, que até concordam com o que disse. Não entrei em argumentações

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    9. Sim, reparei nisso, e eu não pretendo argumentar, mas apenas trocar pontos de vista. Obrigado.

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    10. Durante muito tempo, o principal argumento de quem era contra o QE da FED era mesmo o risco de a inflação disparar por aí acima. Claramente, essas pessoas estavam erradas.
      Olhando só para a taxa de desemprego, imagino que a maioria dos economistas diria que estaria na altura de começar a subir as taxas de juro. Mas, olhando para a taxa de emprego a conclusão é que ainda há margem para aumentar o emprego sem pressões salariais.
      E, nos cálculos da FED, o PIB ainda está abaixo do PIB potencial. Não tanto quanto em 2009 (quando estava 6 ou 7% abaixo), mas ainda assim 2% abaixo do potencial. Enquanto assim for, se os cálculos estiverem a ser bem feitos, a políticas monetária expansionista não deverá ser revertida.

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    11. Sr. Burmester:
      1813 caracteres para me responder é demasiado para a fraca importância que eu tenho.
      Não perca o seu tempo comigo porque eu já o conheço demasiado bem para alguma vez pensar em gastar um simples caractere consigo.
      Portanto, estamos conversados: definitivamente.

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  3. Venceu o discurso abertamente não russófobo. Se for levado a sério, e não descartado pela falcoaria residente, hoje podemos estar mais distantes de uma Terceira Guerra Mundial, e os povos do Médio Oriente e do Norte de África mais perto do sossego.

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    1. Sem sombra de dúvida, NG. Hillary era a guerra e disso penso não haver dúvidas em lado nenhum. O seu passado atesta-o e, aliás, ela é apoiada pelo "Partido da Guerra". As empresas ligadas às indústrias bélicas deram muito dinheiro para a sua campanha e nada para a de Donald Trump o que não é pormenor que possa ignorar-se levemente.

      Há uma diferença muito grande entre estar debaixo da pata do Military Industrial Complex - precisamente o perigo para que o Presidente Eisenhower advertiu - e ter este ao serviço da Nação. Trump (como Reagan) está neste segundo caso. A ameaça duma guerra em grande escala ficou substancialmente mais arredada. Mais do que com Obama até.

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  4. 'Hillary era a guerra e disso penso não haver dúvidas em lado nenhum. O seu passado atesta-o e, aliás, ela é apoiada pelo "Partido da Guerra".'

    Com todo o respeito, mas está a falar a sério? Vive nos EUA e só vê Fox News? Onde costuma ler/ouvir essas informações? A sério que fiquei curioso .

    Com os melhores cumprimentos,
    Mário Horta

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    1. Ó Mário Horta,
      que dúvidas sobre a capacidade de discernimento e visão de política internacional lhe suscitam, por exemplo, este vídeo de Hillary?

      https://www.youtube.com/watch?v=UtH7iv4ip1U

      Para avaliar a qualificação para assumir a Presidência dos EUA, isto é mais ou menos importante do que uma conversa de balneário gravada à socapa?

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  5. *** LONG – Dividido em duas partes ***

    Sim, estou a falar a sério. Não vivo nos EUA e quando por lá vivia ou quando lá vou não vejo televisão. Nem a Fox nem outro canal qualquer. Aliás, não vejo televisão por hábito há muitos anos em lado nenhum.

    Em relação ao apoio pelo partido da guerra, é ver para onde foram maioritaria e desproporcionadamente as contribuições do military-industrial complex nesta campanha eleitoral. Das industrias de defesa em geral.

    Em relação ao passado de Clinton não tem a ver com ler isto ou aquilo escrito escarrapachadamente aqui ou ali (embora isso aconteça várias vezes dado a coisa ser muito crassa) mas com conhecer história recente. Sem precisar ir muito longe no tempo (mas já lá chegaremos), na questão Síria, Hillary Clinton defendeu recentemente a criação duma no-fly zone. Ela sabe perfeitamente que isso seria equivalente a uma declaração de guerra à Russia e, se não soubesse (hoje estou generoso...), foi advertida disso pela Força Aérea Americana. Pois deu-lhe e deu-lhe e deu-lhe! O que não é surpreendente dado Hillary ter sido a proponente do envolvimento Americano na Síria para levar a cabo a queda de Bashar al-Assad. Começou com envolvimento da CIA, evoluiu para fornecimento de armas aos rebeldes (inenarravel a esquizofrenia disto conjugando o que foi e está a ser feito na Síria e na Líbia) mas tem vindo, naturalmente, a escalar. Se não tivesse sido o envolvimento Americano quando as coisas começaram a azedar nunca a guerra civil Síria teria acontecido. O regime teria conseguido dominar a situação. Mas Mrs. Clinton resolveu que era bom aquecer um pouco as coisas e deu no que todos sabemos.

    Andemos pelo passado da senhora e isto só o que a minha memória consegue lembrar-se assim de repente ao voar dos dedos sobre o teclado. Haverá, certamente, pormenores que não retive e seriam relevantes na questão mas o que recordo basta.

    - Hillary Clinton, ainda como Senadora, apoiou tanto quanto pôde a expansão da NATO até às fronteiras Russas incluindo a aproximação da NATO à Georgia que, claro, desembocou na guerra por lá em 2008. O tempo passou, ela chega a Sec de Estado e continuou a brincadeira que redunda, por fim, na guerra recente na Ucrânia. Na questão Ucraniana, em todo o caso, não esteve sozinha. A UE também adorou a ideia de chegar calor à palha a ver o que acontecia;

    - Hillary Clinton era Sec de Estado aquando do envolvimento dos US na Líbia, deposição do Coronel Khadaffi e muito do que se seguiu. Foi ela a grande proponente do envolvimento da NATO naquele país e continua a defender as suas acções mesmo apesar de tudo isso ter levado ao estado a que a Líbia chegou bem como a tudo o que tem acontecido no Sahara e no Sahel que seria impossivel sem a anarquia na Líbia;

    - A retórica de Hillary Clinton em relação à Rússia tem sido, ao longo dos anos, de molde a azedar cada vez mais as relações entre EUA e Rússia. Houve até um episódio engraçado em que ela disse que Putin não tinha alma e este respondeu que um líder internacional, no mínimo, devia ter um cérebro. Houve muito mais ataques a Putin e, por fim, quando estava a apear-se de Sec de Estado deixou como conselhos para Obama, essencialmente, destratar e hostilizar Vladimir Putin. É Hillary Clinton a grande culpada e artífice do deteriorar de relações entre EUA e Rússia em total contraponto ao entendimento anterior. Não havia quaisquer motivos para hostilizar a Rússia. Hillary optou conscientemente por fazê-lo;

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  6. - À questão Síria aludi mais acima.

    Ora, onde chegou, Hillary Clinton usou o seu poder para fomentar a guerra. Como Senadora apoiou a expansão da NATO até às fronteiras Russas redundando na guerra entre a Rússia e a Georgia e, mais recentemente, na aventura Ucraniana. Como Sec de Estado criou tensões com a Russia onde elas não existiam antes, hostilizou Putin tanto quanto pôde, algo que, aliás, continuou enquanto candidata com a acusação infundada e já desmentida por Assange da interferência Russa nas eleições Americanas e, há uns meses, chamou "bully" a Putin. Ainda enquanto Sec de Estado levou a cabo acções que a tornaram directamente responsavel pelo caos na Líbia e na Síria bem como do que daí tem redundado. É obra!

    A situação mais séria é, evidentemente, a contínua hostilidade, fricção e escalada com a Rússia que, deixada sem freios, levaria inevitavelmente a uma guerra em larga escala.

    Não estamos a falar duma mulherzita burra e estúpida. Hillary Clinton é uma mulher arguta e inteligente. Até sou capaz de aceitar que não conseguisse prever o desastre que ocorreria no Sahara e no Sahel na sequência da queda de Khadaffi. A custo sou capaz de engolir que não conseguisse imaginar o que aconteceria na própria Líbia embora aqui, para assumir isto teria simultaneamente que admitir que alguém que chega a Sec de Estado e não se apercebe duma coisa destas é um crasso erro de casting e não tem capacidade para as funções. Mas nem com muito boa vontade posso admitir que não se tivesse apercebido do resultado do envolvimento Americano na Síria por si patrocinado. Aí sim, ela claramente sabia o que estava a fazer, sabia que estava a mexer num vespeiro que não é a Síria mas sim o Médio Oriente e conscientemente foi em frente para o que era uma guerra civil óbvia. Durante a campanha fez questão de elevar a fasquia e defender o equivalente a uma guerra aberta com a Rússia. Perante tudo isto não podemos atribuir as acções de Hillary Clinton a mero desconhecimento. Não. Hillary Clinton claramente deseja a guerra e, atrevo-me mesmo a dizer, teria gosto numa guerra em larga escala entre os EUA e a Rússia.

    Quanto ao onde costumo ler/ouvir, olhe, sigo regularmente (pelo menos as headlines diariamente ou quando saem) Financial Times, Wall Street Journal, Washington Post, New York Times, Bloomberg, Reuters e zerohedge. Vários outros consulto ou sigo, mesmo, em momentos específicos quando necessário. E isto há muitos anos. Grande parte do meu tempo é passado tentando perceber o mundo que me rodeia. Tanto por gosto como por ser importante para os meus alfinetes. Daqui que, olhe, qualquer destes permite seguir o fio dos acontecimentos dos últimos, muitos, anos.

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    1. Caro Zuricher, obrigado pela paciência e disponibilidade em ter escrito um (aliás dois) post(s) tão longo(s), a esclarecer-me a sua visão, embora não me tenha explicado porque é que é o Partido Democrata é o 'partido da Guerra'.

      Não digo que a Hillary seja uma santa, mas pôr todas as culpas nela é simplesmente demagógico. As tensões entre os USA e a Rússia sempre existiram. E sinceramente vejo muito mais como o vilão da história o Putin do que o Obama ou a Hillary. Podem tentar fazer o spin sobre isto que quiserem mas para mim é sempre uma teoria da conspiração muito pouco consistente. Mas o ZeroHedge (que é certamente desses sites que enumerou, o qual fundamenta mais a sua opinião) é muito bom nesse tipo de spin e teorias mal fundamentadas Pró-Putin, eu é que não as como, mas pronto.
      Todos esses conflitos no Médio Oriente decorrem da Primavera Árabe, claro que há sempre dedo do mundo Ocidental (incluindo a Rússia), que fornece armas a ambos os grupos ou apoia um dos lados. O conflito na Syria também decorre daqui. E não isento ninguém de culpas, mas agora quererem-me convencer que o Khadafi, o Bassar Al-Assad e companhia limitada que são todos uns santos e que os outros são os maus, é melhor tentarem na porta ao lado.
      Quem começou o conflito com a Líbia foi o Presidente Sarkozy e foi ele que pressionou a Hillary a apoiar essa intervenção. Não foi a Hillary Clinton que lhe apeteceu.

      'Atrevo-me mesmo a dizer, teria gosto numa guerra em larga escala entre os EUA e a Rússia.' Possa! Olhe eu acredito que nenhuma potencia nuclear se atreve a começar uma guerra com outra potencia nuclear. Tem um pouco a ver com estas teorias aqui https://en.wikipedia.org/wiki/Polarity_(international_relations), https://en.wikipedia.org/wiki/Neorealism_(international_relations) etc.

      Com os melhores cumprimentos,
      Mário Horta

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    2. Não disse que o Partido Democrata é o "Partido da Guerra" mas sim que Hillary Clinton é apoiada pelo "Partido da Guerra", ou seja, pelo Military-Industrial Complex na sua versão mais negativa.

      Não é no Zerohedge que mais fundamento a minha opinião embora o leia diariamente. Aliás, rarissimamente leio artigos de opinião. É apenas mais um sítio onde recolho elementos para alinhavar o meu pensamento. Em relação a Putin, também podemos falar sobre ele noutro momento em que venha mais a propósito. Digo-lhe apenas que considero a Rússia de Putin o maior perigo para a Europa e já há muitos anos tendo, aliás, desenvolvido isto numa coisinha que escrevi em Setembro de 2014. Mas a questão aqui é a acrimónia entre EUA e Rússia e esta é de autoria de Hillary Clinton. Exclusivamente dela. A grande culpa de Obama aqui foi ter deixado. Durante os tempos de Condoleeza Rice não houve acrimónia nenhuma com a Rússia e os dois países conviveram amenamente.

      Quando a Primavera Árabe começou disse e escrevi que o único país onde, talvez, pudesse ter vingado seria na Tunísia e mesmo assim... Recordo-me de ter escrito também que no Egipto era questão de tempo até os militares voltarem a tomar o poder. E foi o que realmente aconteceu. Tanto na Líbia como na Síria, sem o dedo Americano teria acontecido o mesmo que nos restantes países: teria sido tudo resolvido internamente sem problemas de maior. O único país que precisaria de apoio externo para debelar a brincadeira se esta fosse mais longe seria o Bahrain por não ter este, na realidade, forças policiais ou militares que se vejam e precisar da ajuda Saudita para seja o que for. O Bahrain, aliás, é, de facto, um protectorado Saudita. Em todos os restantes, sem dedo Americano, as coisas teriam acabado por si e sem maiores problemas. Claro que Khadaffi teria continuado a governar na Líbia que, por seu lado, teria continuado a ser o país mais próspero de África. E, claro, que Bashar al-Assad teria continuado a governar tranquilamente na Síria. Aliás, a pergunta que se impõe é se estes países podem, sequer, ser governados sem ser com regimes totalitários adaptados especificamente a cada um deles. A Líbia, directamente, não pode. A Síria pode ter umas nouances mais aqui ou ali mas também não anda longe.

      Não pretendo convencê-lo de nada. Mas saliento um facto incontestavel: era, Khadaffi e é Bashar, o líder internacionalmente reconhecido de dois países soberanos. Aliás, era óbvio o que viria a acontecer na Líbia na sequência do vazio de poder. Bem sei que para a maioria dos Europeus não o seria mas a esmagadora maioria dos Europeus e Ocidentais não tem as ferramentas mentais necessárias a entender o que se passa por aqueles sítios. Nomeadamente não têm interiorizado o tribalismo e como funciona, logo, não conseguem entender nem prever aquelas coisas. Mas isto não é desculpa para o Governo Americano, evidentemente. Podiam não ser e não eram santos, naturalmente. Mas os seus países tinham prosperidade, segurança e sossego invejaveis nos respectivos contextos regionais.

      Em relação à Líbia, peço desculpa mas a pressão primeira foi de Hillary Clinton para um intervenção da NATO. Sarkozy queria-a mas não se atrevia. Hillary Clinton deu o grande push e foi ela quem convenceu Obama. Na altura o New York Times (tenho quase a certeza de ter sido este) fez uma reportagem muito longa sobre o assunto.

      Em relação às teorias que apresenta, sendo-lhe franco eu ligo pouco a questões teóricas. Limito-me a ir construindo um raciocínio a partir do zero e adicionando-lhe dados ao longo dos anos.

      No caso de Hillary Clinton, dado todo o seu historial, dado ter semre promovido posições agressivas lá onde chegou, pois não tenho quaisquer dúvidas de que ela é a guerra.

      Já agora um aspecto. Para a minha carteira, Hillary Clinton ter ganho as eleições teria sido muito bom. Acho que nada me faria ganhar tanto dinheiro e tão rapidamente neste momento como a guerra, preferencialmente uma grande guerra. Mas, ainda assim, não a desejo e é este o motivo primordial pelo qual disse, logo de início, Clinton NÃO!

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  7. Caro NG, você quer dizer que um comentário apanhado fora da entrevista que nem se sabe o contexto serve para avaliar a 'capacidade de discernimento e visão de política internacional'. Mas uma conversa que as pessoas sabem o contexto, que é reincidente nesse tipo de comentários, etc, etc já é conversa de balneário. Vai certo...A mim parece-me mais que o seu critério é do 'clube Republicano' é bom, do 'clube democrata' é mau. Simples como isto. A Hillary, em termos de conteúdo, ganhou os debates todos com Trump, fosse qual fosse o tema (também já tinha ganho ao Obama há 8 anos atrás). Portanto, o que o leva a crer que o Trump vai fazer a America 'so great' 'so good' 'excellent' 'wonderfull' etc etc? É que, muito francamente, eu não vi um único argumento com pés e cabeça, e parece-me que isso é tudo uma questão de fé e de clubite partidária.

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    1. Ó Mário Horta, o "comentário apanhado fora da entrevista" é uma ilustração material daquilo que o Zuricher explica muito bem nos seus dois comentários anteriores. Acho que já aqui o disse. Hillary Clinton, Vitoria Nuland e Samantha Power são três mulheres que carregam a responsabilidade de decisões que conduziram a muitas centenas de milhares de cadáveres no Norte de África, Médio Oriente e Leste Europeu. A derrota da primeira é a oportunidade de não acrescentar muitas mais. Infelizmente, não a certeza.

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  8. E aqui temos o discurso de vitória. Não faz de Trump um ser humano decente, porque não faz desaparecer o monte de alarvidades que lhe ouvimos, mas parece confirmar que o Trump eleito se distancia do Trump candidato. Que é, de resto, algo a que estamos muito habituados em política: as eleições transformam as pessoas e as promessas. Um bocadinho como o casamento.
    http://www.vox.com/policy-and-politics/2016/11/9/13569124/donald-trump-wins-2016-presidential-election-victory-speech-transcript

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    1. Sara, os três discursos, os de Obama, Trump e Hillary, foram bons e muito adequados ao momento. Gostei de ouvir os três.

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