O meu nome do meio é caos.
Cada um dos meus sete pés
assenta em cada um dos sete mares. Vejo do topo dos arranha-céus mais altos
todas as curvas do planeta com os meus inumeráveis olhos. Vejo elefantes tão
fáceis de esmagar como formigas, baleias tão fáceis de sufocar como
escaravelhos. As minhas narinas aspiram fumos de centrais nucleares e fumos de
padarias, o fedor das lixeiras e o fedor das habitações precárias. Todos os
gritos chegam aos meus ouvidos, todas as explosões, todo o estrondo do metal
amassado e todos os sons irritantes das derrapagens da borracha no asfalto.
Sinto as células que degeneram, os tumores que progridem, as artérias que
rebentam. Tenho línguas para provar todos os venenos. Tenho estômagos para
digerir todos os alimentos podres. O ar inquinado passa pelos meus pulmões, a
água turva pelos meus rins, a gordura suja pelos meus fígados. Na minha barriga
cabem todos os homens. As minhas gargalhadas são tufões, os meus bocejos
tremores de terra. Dos meus narizes saem ciclones e dos meus excrementos
epidemias. Sou feio a ponto de quebrar espelhos e janelas, de desenraizar
árvores e aplanar montanhas. Há muito que esperam de mim que abra as minhas
asas. Que cubra todos os pontos da terra com os meus terrores, como se não
estivesse já em todo o lado. Mas eu não tenho asas.
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