Que coisa. Ainda não estou em mim. Fiquei-me para ali, com certeza, entre os
cacos e os estilhaços.
Posso saber onde procurar-me, então, entre os cacos e os
estilhaços. Sei até quais são, ou diria entre cacos e estilhaços. O que, diga-se
a título, mesmo só a título, de aparte, parece um verso de uma canção de
intervenção. Era o que me faltava agora pôr-me a pensar nestas coisas, o que
vale é que não estando em mim não posso pensar em nada. Ou será que posso. Que
maçada, não se pode abrir a boca e é só gente a contrariar, mesmo que seja eu
que, não estando em mim, se calhar posso contrariar-me. Por exemplo. Eu digo,
tenho um grande nariz. Não tens nada, digo eu. Em quem acredito eu, que digo
duas coisas contrárias. Em mim ou em mim. Quem é que está a ser sincero, eu ou
eu. Censuro-me o nariz ou louvo-me o nariz. Neste momento nem interessa saber
se o nariz de facto é grande ou não. Já abandonámos o nariz há muito tempo.
Está lá, é possível que também entre os cacos e os estilhaços, com as suas
dimensões absolutas e relativas, e já quase me esquecia dele se não me pusesse
outra vez a falar dele, o que só pode ser um boicote meu contra mim. Isto só lá
vai à estalada, penso, ou então sou eu que penso, fantasiando que me aperto o
pescoço e me dou um pontapé nas canelas. Ou um piparote no nariz, lá está ele
outra vez, o nariz e eu que voltei a falar nele. Malandro, eu, pois claro. E o
nariz, que é, de facto, e diga eu o que disser, grande.
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