sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

telemóvel esquecido no quarto

tenho um amigo que é dj há uns 17 anos, e quase não usa discos há uns 15. maquinetas. daquelas de fazer um barulho enorme e abanar as almas. máquinas do caralho, portanto. um dia destes tenho que lhe perguntar o que é que ele põe na declaração de IRS. será que, fiscalmente, ele é igual a um artista de variedades que toque nel monteiro em casamentos, bapizados e bodas de diamante? tinha a sua piada, se ele fiscalmente fosse quase o nel monteiro.
e o IVA das putas? será que devia ir tudo à taxa máxima? é capaz de não ser o mais indicado. um broxe pode ser um luxo um bocado burguês, mas uma punheta está muito perto de ser um bem essencial.

mas o meu amigo dj. disse-me uma vez que tinha conhecido o valter hugo mãe, e que o gajo era um idiota. a minha admiração pela obra do valter hugo mãe deixou-me um bocado desconsolado. mas o meu amigo exagerar era algo longe de ser inédito, por isso acabei por me esquecer do assunto. passado uns tempos comecei a seguir  o valter hugo mãe e os posts dele no facebook - que passam maioritariamente por opiniões disfarçadas de poesia, que não chegam a ser nem uma coisa nem outra. e não que eu desrespeite as opiniões do senhor, mas o valter hugo mãe do facebook estava aos bocadinhos a estragar-me o valter hugo mãe dos livros. e os livros dele são importantes demais para mim. ainda que às vezes lhes tenha que fugir porque a escuridão é um lugar onde se entra de cabeça mas se sai muito devagarinho, por mais bonita que seja. e assim lá se foi o valter hugo mãe do meu mural.

nesse aspecto, como em outros, o valter hugo mãe tem muito em comum com o saramago, imperador absoluto do reino da magia, mas assustador a puxar para o ridiculo quando descarregava o cartuxo politico em direção a um tipo de esquerda que saber fazer contas como eu.

sobra o lobo antunes. que é rude, que não dá entrevistas, e quando as dá está a usar o pulover do meu pai de 1975, a fumar para a camâra e a mandar tudo para o caralho com a violência de quem se está devidamente a cagar para aquilo tudo. porque o universo do génio e a realidade estão a buracos negros de distância e tentar juntá-los há de dar uma trabalheira do caralho, e provavelmente acabar em desastre. e é por isso que ignoro o valter hugo mãe que está  fora dos livros, ou o que o saramago dizia.

e isto tudo porque estava há um bocado um gajo no autocarro a dizer ao outro que um doutoramento em economia não servia de nada porque quem o tinha continuava a não saber nada sobre economia. e achei que em vez de lhe responder, o melhor era dar uma de lobo antunes, acender um cigarro imaginário e manda-lo com este texto a puta que o pariu.

4 comentários:

  1. "no autocarro a dizer ao outro que um doutoramento em economia não servia de nada porque quem o tinha continuava a não saber nada sobre economia"

    - A minha solidariedade, porque isso não passa de INVEJA assim definida:
    «(...)
    Eu própria acho estranho e infantil que uma pessoa da minha idade, com a minha formação académica e principalmente com o trabalho pessoal que fiz (...), só agora - meses - tenha percebido, ou querido perceber, que a inveja "má", a inveja "odiosa", a inveja "destrutiva" existe re-al-men-te!!

    Não sou ingénua, claro que não.

    A inveja trabalha-se, fala-se, entende-se e "mastiga-se" num processo de trabalho individual.

    O que eu quis evitar - negar - foi a evidência de que existem pessoas - aqueles de quem gostamos, aqueles com quem convivemos, aqueles que nós nem imaginamos que nos dão importância e aqueles que não nos conhecem, mas sabem de nós através de quem nos conhece - que ganham e desenvolvem sentimentos por nós que verbalizam e contaminam o mundo à nossa roda. É a inveja. A inveja que corrói, que se instala e tem que destilar para fora não vá o invejoso sufocar e afundar-se nela. E aí surgem os impropérios, surge a intriga, surge a difamação.

    É a inveja dos fracos.

    A inveja faz parte de ser-se pessoa. Todos temos e sentimos inveja. Não tem mal, não, nem faz mal. Até nos faz crescer.

    O problema é quando a inveja "cega" e destrói o próprio e o seu alvo.

    É isto que é a "era da inveja" - um vale tudo para que aquele que tem uma autoestima danificada e estragada possa sobreviver. Sobreviver no meio da gente que segue o seu caminho de vida.
    (...)»
    [IM-C Mai./2016]

    ResponderEliminar
  2. Foda-se, tanta alarvidade junta. Os meus parabéns.

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.