Na CNN, há uma peça acerca do condado nos EUA onde há mais utilizadores do Obamacare. Cerca de 1/3 da população usa, mas a maioria odeia ter de usar e odeia ser subsidiada. Querem tomar conta de si próprios, mas a noção do valor das coisas está completamente divorciada da realidade. Por exemplo, quando eu tinha 23 anos e vim para os EUA, há quase 22 anos, tinha de comprar seguro de saúde e custava $60 por mês. Naquela altura, trabalhava part-time na universidade, cerca de 12 horas por semana, por $5.15/hora (salário mínimo, na altura) antes de impostos, ou seja, uma semana do meu trabalho dava para comprar o seguro de saúde para um mês. Nessa altura, Hillary Clinton andava a tentar criar um sistema melhor de saúde e não a deixaram.
Uma das pessoas na peça da CNN queixa-se que o seguro de saúde do Obamacare começou por custar $50 só para ela, mas depois subiu para mais de $600/mês por causa de ter casado e de a família ter um bom rendimento. Pode receber seguro pelo emprego do marido, mas esse seguro não paga a gravidez e ela está grávida (é normal, nos EUA, os seguros não terem cobertura para mulheres grávidas, tratamento de infertilidade nas mulheres, aborto por necessidade médica, etc.). Estas são as mesmas pessoas que querem um serviço de saúde privado em que as companhias fazem o que lhes dá na telha, em vez de universal, que seria mais barato e teria níveis de cuidados mínimos, e depois se queixam dos preços serem altos e da cobertura ser uma porcaria.
O grande mercado de seguro de saúde é o das empresas: são as empresas que compram o seguro e os benefícios que querem oferecer e os empregados pagam parte do custo. Os preços de seguro fora desse mercado são muito mais caros, obviamente, porque a pessoa paga tudo ou tem de ser pobre para receber subsídio do governo. E as mulheres são discriminadas nos seguros de saúde, sempre foram. Acham que a Women's March era porquê?
Ou seja, quem está descontente e quer manter a porcaria de sistema que existe, trate de arranjar um emprego com os benefícios que quer -- nunca foi tão fácil arranjar um emprego, basta procurar na Internet (Indeed.com) e quase toda a gente tem acesso à Internet através do telemóvel. Também se pode procurar nos computadores dos centros de desemprego, nas bibliotecas, etc. Já há décadas que os EUA são conhecidos por ser um país com grande mobilidade de trabalhadores, mas essa mobilidade está a diminuir. Dado que tantas destas pessoas se queixam de não haver bons empregos onde estão, porque não se mudam?
Para além disso, os estados republicanos revoltaram-se contra o Obamacare e dificultaram e bloquearam a sua implementação porque queriam que o sistema funcionasse o pior possível. Agora os residentes queixam-se que o sistema não funciona e que a culpa é do governo federal, quando a culpa é da política seguida pelos governos a nível do estado. Lixam-se a eles e lixam os outros...
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