Na sequência do meu artigo no DN a semana passada sobre Governar
com Ideologia, o meu amigo Pedro
Braz Teixeira publica hoje um artigo em jeito de resposta, Interesse Nacional. Já sei
que hoje deveríamos estar a falar do Centeno, mas decidimos debater estas
coisas mais abstratas.
(1) Eis o ponto fundamental de discordância – eu acho que não é possível definir
“interesse nacional” sem fazer referência a uma ideologia; o Pedro defende que
há exemplos de violações do “interesse nacional” que, sendo gritantes, não necessitam
de um referencial ideológico.
(2) Todos os exemplos que o Pedro apresenta são violações do interesse
nacional. Mas o Pedro acha que são objetivamente violações do interesse
nacional. Eu acho que são subjetivamente violações do interesse nacional.
Subjetivamente porque pedem uma moldura ideológica (por sinal, eu e o Pedro
temos a mesma pelo que não surpreende a nossa concordância sobre as referidas
políticas). Provavelmente, nestes casos concretos, estas políticas públicas são
uma violação do interesse nacional do ponto de vista de muitas ideologias. Mas,
na minha análise, não posso excluir que existam ideologias que apoiam estas políticas
e entendam que não são violações do interesse nacional.
(3) Isto leva ao ponto seguinte – o uso do “interesse nacional” no debate político.
Nada tenho a opor se for aceito por todos que o “meu” entendimento de interesse
nacional pode ser distinto do “teu” entendimento de interesse nacional. Isso só
é possível com um entendimento subjetivo. Discordo quando o debate é
apresentado como o interesse nacional contra uma particular ideologia. Porque
isso é dizer que há portugueses bons e portugueses maus. Como cita o Pedro, “é
fugir ao saudável combate das ideias. Mas, acima de tudo, é insistir num
discurso pouco democrático.”
(4) Não tenho problema em subscrever a frase do Pedro, “Ora, na prática, há
um conjunto de circunstâncias em que me parece não só legítimo mas também
essencial invocar o interesse nacional ao criticar certas opções políticas,”
sempre e quando essa invocação não seja para aspirar a uma superioridade moral.
Mais concretamente, assim como eu e o
Pedro podemos achar que o consulado socrista (2005-2011) feriu o interesse
nacional, aceito que outros possam genuinamente entender que o consulado
passista (2011-2015) feriu o interesse nacional. Não concordo, mas aceito. E só
posso aceitar porque o interesse nacional é ideologicamente subjetivo. Se não aceitar,
estou a optar por uma arrogância ideológica que é, na minha forma de ver,
profundamente anti-democrática.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.