Como um nosso leitor me acusou de não publicar comentários, lá fui eu ver os comentários. Já não ia lá há meses. Encontrei um muito engraçado, que acabou no SPAM, a gozar comigo por causa das minhas contas poupança-reforma. Diz assim: "Para a pequena burguesia desta pessoa que acha que vangloriar-se das suas contas fidelity de classe média baixa e' muito impressionante." A pessoa que escreveu isto não deixou o nome, mas acho que o que disse é pertinente.
Para eu vos dar uma boa ideia do que é estar nos EUA, tenho de falar nas contas poupança-reforma porque faz parte do que é viver nos EUA e é uma parte muito importante. É lógico que eu podia falar de tudo isto do ponto de vista teórico, mas julgo que falando do ponto de vista pessoal posso dar-vos a ideia do que é ser emigrante, das coisas que eu aprecio no país que me acolheu, e do que me atraiu aos EUA, pois quando eu vim para aqui da primeira vez, e até da segunda, não foi com intenção de ficar.
Sempre gostei bastante da forma como os americanos falam do planeamento da reforma e foi logo uma das primeiras coisas que notei. Ainda no outro dia pensei que tenho de vos falar nos livros e nos programas de rádio sobre este tema. Aqui, falar deste tópico é sinal de responsabilidade, não é sinal de arrogância. Para além disso, ter opções de investimento combina muito comigo porque, não sei se já repararam, mas tenho uma certa fobia de gerir mal o dinheiro e de acabar na pobreza. Não acho que seja suficientemente grave para eu ir ao psi, mas é uma pequena loucura minha que está perfeitamente controlada, por enquanto. [Não acham que tenho imenso medo de doenças psiquiátricas? Há quem tenha medo de cancro; eu tenho medo de ficar maluca -- é perfeitamente razoável.]
Por falar em maluquices, em Portugal, há uma certa esquizofrenia relativamente ao dinheiro: as pessoas julgam os outros pelas roupas, carros, férias, etc.; fugir a impostos é bem-visto; enganar quando se pode é quase um desporto nacional; mas falar da forma como nós fazemos o planeamento das nossas poupanças é vangloriarmo-nos e um sinal de sermos de "classe média baixa". Porque é que devemos ter vergonha do que planeamos fazer com o produto do nosso trabalho? Notem que um dos grandes problemas da macroeconomia portuguesa é mesmo o país ter poupanças tão fracas, que precisa de se endividar junto ao exterior -- mas essa lição é do FAlex e do LA-C.
Suponho que, para o nosso leitor, quem tem dinheiro não precisa de planear nada porque já o tem; quem planeia é quem não tem. Tente-se explicar isso ao Warren Buffett de forma a ele não nos achar uns idiotas completos -- acho impossível!
Não percebo a necessidade de classificar alguém numa classe, a não ser que se esteja a dizer que há classes de pessoas que deviam estar caladas ou ter vergonha de não pertencerem a outra classe. Mas quem acha isso não tem grande classe.
A poupança, o instrumento "judeu", é, em Portugal e desde o final dos anos 70/princípio dos anos 80, mal-vista, exactamente pelas razões que aponta.
ResponderEliminarÉ um labéu de "classe-baixa". Quem triunfou na vida exibe - é suposto exibir - despreocupação com o dinheiro. É um sinal de estatuto, como o relógio, o fato, o carro ou as férias.
Quem poupa tem preocupações com o dinheiro. Se as tem, é porque não teve o sucesso necessário para deixar de as ter.
É um raciocínio tão infantilmente lógico como corrupto e inquinado. Mas demonstra a sociedade adolescente em que ainda vivemos.
Olha… O Alexandre (ou sua sombra, suponho) está de volta! Bem vindo… E com que sabedoria! É mesmo isso, digo eu…
EliminarÉ que esta treta de haver sexagenários infantis, e também com metade dessa idade, a dizerem, compulsivamente, de que gostam e não gostam, sem necessidade alguma, tem muito que se lhe diga…
Que tristeza… (e obrigado, porque sim.)