Parece que foi há muito tempo, mas foi apenas na última Quarta-feira que o The New York Times publicou uma entrevista com o Presidente Trump, na qual ele disse duas coisas que causaram furor: (1) se ele soubesse que Jeff Sessions se afastaria da investigação da interferência da Rússia nas eleições americanas, não o teria convidado para Attorney General; e (2) deu a entender que a hipótese de afastar Robert Mueller, o Special Counsel que está a investigar as ligações à Rússia, ainda está a ser considerada.
A cadeia de comando é a seguinte: Mueller trabalha independentemente, mas sob Rod Rosenstein, o Deputy Attorney General. Rosenstein trabalha sob Jeff Sessions, mas este afastou-se da investigação da Rússia, e Jeff Sessions trabalha sob o Presidente. Há falta de clareza acerca do poder do Presidente de afastar directamente Mueller, mas poderia ordenar a Rosenstein que o fizesse. Rosenstein já disse que não afastaria Mueller, logo o Presidente poderia afastar Rosenstein e o seu sucessor poderia afastar Mueller sob ordens do Presidente -- a questão, nesse caso, reduzir-se-ia a o Presidente encontrar alguém que se disponibilizasse a fazê-lo. A CNN tem uma peça que discute as opções legais disponíveis para o Presidente Trump interferir com a investigação de Mueller. No entanto, se Trump decidir afastar Mueller, a haver consequências, estas necessitariam de uma acção do Congresso e, neste momento, não se sabe se existe vontade política nesse sentido.
Depois da publicação da entrevista ao NYT, muitos analistas concluíram que as declarações do Presidente Trump se reduziam a um desejo de que Jeff Sessions apresentasse a sua demissão, mas Sessions disse que não o faria. Quase a seguir, surge uma notícia publicada no The Washington Post a indicar que havia comunicações interceptadas pelas agências de espionagem americanas que indicavam que Jeff Sessions teria discutido questões da campanha presidencial de Trump com o Embaixador da Rússia nos EUA, Sergey Kislyak. Se tal for verdade, entraria em conflito com o testemunho passado de Jeff Sessions ao Congresso, o que seria uma razão para a sua demissão.
Entretanto, Sean Spicer, o porta-voz da Casa Branca, demitiu-se na Sexta-feira, o que aumentou o alvoroço. A razão dada para justificar a sua demissão foi discordar de o Presidente Trump ter oferecido a Anthony Scaramucci a posição de Director of Communications, mas há quem suspeite que isso foi apenas uma oportunidade conveniente para Spicer sair, pois ambos --Trump e Spicer -- estavam "fartos um do outro".
Durante a semana também se discutiu o poder do Presidente em termos de conceder um perdão: será que poderia perdoar a si próprio e a outros intervenientes por acções discutíveis que envolvam a Rússia? A questão do Presidente poder perdoar-se a si próprio tem sido alvo de bastantes peças de opinião, pois o Presidente acha que é indiscutível que o Presidente tenha o poder absoluto para perdoar a quem quer que seja, enquanto que os analistas acham que não tem lógica o Presidente ser juiz de si próprio: até o Papa tem de pedir a outro padre para lhe absolver os pecados.
Outro desenvolvimento foi a equipa de Robert Mueller ter instruído a Casa Branca a reter toda e qualquer comunicação que tenha a ver com a Rússia. Robert Mueller também está a estudar as ligações dos negócios de Donald Trump com a Rússia durante os últimos 10 anos e na entrevista ao NYT, Trump disse que a gota de água seria se Mueller decidisse investigar as declarações de impostos do Presidente. Esta preocupação em não revelar os impostos é suspeita, levando a que Chris Cilizza na CNN ache que "todos os caminhos nos levam às declarações de impostos de Donald Trump."
Esta próxima semana irá continuar a ser interessante, pois Jared Kushner foi chamado a testemunhar no Congresso na Segunda- e na Terça-feiras e muitas das polémicas que têm ocorrido nas últimas duas semanas devem-se à equipa legal de Kushner tentar proteger o seu cliente: foi a actualização dos contactos de Kushner com pessoas de interesse que levou a que se descobrisse a reunião de Donald Trump, Jr., com a advogada russa. Entretanto, há dois dias, Kushner também actualizou as suas declarações financeiras e as de Ivanka Trump, sua esposa, revelando mais de 70 activos anteriormente não declarados "inadvertidamente", o que pode levar a mais polémicas à medida que os jornalistas investigam o conteúdo das declarações.
Xi, mas que telenovela...
ResponderEliminarAnyway, não percebo como é que não houve já um leak das declarações de impostos de Trump!