Há quatro anos, mudei-me para o Texas e cheguei a Houston no final do dia anterior ao Thanksgiving, que é uma altura complicada porque, no Thanksgiving, estava quase tudo fechado e não dava para fazer compras ou ir a restaurantes. Quer dizer, dar, dava porque os asiáticos não costumam observar o Thanksgiving e é sempre possível ir a um restaurante asiático em qualquer parte dos EUA -- essa parte eu sabia. Depois, Houston é uma cidade tão grande, a quarta maior dos EUA, que há sempre mais escolha -- essa parte é agora óbvia.
Mas não pensem que era tão deprimente quanto isso porque a minha chefe tinha-me pedido para ir jantar a casa dela, mas eu não estava com cabeça para fazer sala depois de ter conduzido quase 13 horas, que reparti durante dois dias porque tive de contornar uma tempestade e fazer um percurso mais longo. Viajei com três cães, sendo que um deles, a Stella, tinha muitos problemas de saúde e precisava de constante atenção especialmente num sítio novo. Convém acompanhar um cão com epilepsia cuidadosamente quando estão em situações estranhas porque o stress causa ataques.
Em conversa com a minha senhoria, ela mencionou que o Luby's, que é um restaurante estilo bufete, estava aberto durante o Thanksgiving e pareceu-me uma boa opção. Havia muitas famílias lá porque é prático poder ter a ceia de Thanksgiving e não ter de cozinhar ou limpar. O pior é que não há sobras e é tradição fazer sandes de peru com os restos do peru assado. Faz-se assim: barra-se duas fatias de pão com maionese e coloca-se pedaços de perú assado entre as fatias de pão. Há quem ache que isso é a melhor parte do Thanksgiving.
Dizia-vos que fui ao Luby's sozinha, meti-me na fila, pedi a comida que queria no prato e fui sentar-me a uma mesa. Veio a empregada perguntar-me o que queria para beber e ficou com muita pena de mim por eu estar a comer sozinha e foi super-atenciosa. Pela minha parte, tive pena dela por sentir pena de mim porque, como dizia a minha mãe, por vezes sou bicho do mato e preciso mesmo de estar sozinha. No final da refeição, pedi um café para beber com a tarte. A pena era tanta que a empregada nem me cobrou pelo café. Deixei-lhe uma gorjeta generosa para atenuar a minha pena.
Nos últimos três anos tenho passado o Thanksgiving com a minha vizinha. Comprometi-me a fazer a compota de arandos e perguntei-lhe se era preciso mais alguma coisa. Ela pensou durante uns segundos e sugeriu um "relish plate", que eu não sabia o que era. Um "relish plate" ou "relish tray" é um prato com coisas como talos de aipo, palitos de cenoura, couve-flor, pepino, azeitonas, etc. Para mim, aquilo era um "vegetable plate", mas as azeitonas não são "vegetables", logo lá se vai a minha teoria. Costuma-se servir com um molho no centro, normalmente "ranch dressing", mas ela pediu-me para não levar molho e apenas queria cenoura, aipo, e azeitonas. Lá percebi o conceito e disse-lhe que tinha um prato ideal para isso. Efectivamente, cá em casa, há um "relish tray" de cerâmica feito em Portugal, do qual eu gosto muito, e que eu comprei há muitos anos, quando vivia no Arkansas.
Ontem, decorei o meu "relish tray" e, quando cheguei a casa da minha vizinha, toda a gente achou que estava muito bonito e o prato era lindo. Ela até me perguntou se eu o tinha comprado de propósito porque já se tinha esquecido de eu ter dito que já tinha o prato. Adoro cerâmica portuguesa. Deviam inventar um posto de embaixatriz da cerâmica portuguesa porque eu adoraria esse emprego. Aqui está o meu prato todo catita:
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