“Pais e filhos”, publicado em 1862, é o melhor romance de Ivan Turguéniev
(1818-1883) e um dos melhores do século XIX. Nikolai Petróvitch ouve por acaso
uma conversa entre o seu filho Arkádi e o amigo Bazárov, um niilista radical – é, sem dúvida, a grande
personagem do livro. Bazárov diz: “O teu pai é boa pessoa, mas é um homem
antiquado, o tempo dele já passou.” Estas palavras desanimam o “velho” Nikolai, na altura com quarenta e poucos anos. Apesar de viver no campo, este aristocrata generoso e culto esforçava-se por
se manter actualizado e a par das modas intelectuais e políticas, havia lido os grandes autores, autores que a juventude via agora com desdém,
considerando-os inúteis e uma perda de tempo. Nikólai desabafa então com Pável,
o seu irmão mais velho: “Sabes do que me
lembrei mano? Uma vez discuti com a nossa falecida mãe: ela gritava, não me
queria escutar… Eu por fim disse-lhe: «a mãe não me pode compreender,
pertencemos a duas gerações diferentes.» Ela ficou horrivelmente ofendida, e eu
pensei: que fazer? A pílula é amarga, mas é preciso engoli-la. Pois agora
chegou a nossa vez, e os nossos herdeiros também nos podem dizer: vocês são de
outra geração, engulam a pílula.”
Turguéniev captou de forma genial uma questão intemporal.
De uma forma ou outra, tarde ou cedo, temos de engolir a pílula. É a vida.
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