Ontem à tarde, nas notícias dos EUA, enquanto se tentava enquadrar a queda do mercado accionista, que chegou a estar 10% abaixo do máximo histórico, o que faz das quedas da semana passada e desta uma correcção e não apenas uma flutuação, a grande pergunta que se fazia era se o governo federal americano iria fechar outra vez à meia-noite. No All Things Considered, da NPR, entrevistavam-se membros do Congresso do lado dos Democratas e do lado dos Republicanos, num jogo de passa-a-culpa.
Joe Crowley, Democrata e Representante de Nova Iorque, entrevistado pela Mary Louise Kelly, dizia que não compreendia como é que os Republicanos, que detêm a Casa Branca e maiorias na Câmara dos Representantes e no Senado, não conseguem passar uma lei de despesa (spending bill). Se eles -- Republicanos-- passaram os cortes de impostos sem os Democratas, o que é que os impede de governar e passar agora esta lei? E rematava: se não conseguem convencer os próprios Republicanos, não contem com os Democratas. Quem presta atenção à coisa, compreende que este argumento era uma crítica indirecta ao Vice-Presidente Pence que culpou o último fecho do governo federal numa "minoria de Democratas", ignorando que a lei falhou no Senado porque cinco Republicanos votaram contra.
Coube a Ari Shaphiro entrevistar Mo Brooks, Representante do Alabama, entrando a matar perguntando-lhe sem papas na língua como é que os Republicanos poderiam ser considerados o partido da responsabilidade fiscal, quando Crowley os acusa de aumentar o défice em $300 mil milhões, depois de passarem um corte de impostos de $1,5 biliões longos (são os trillion americanos), em que 82% desse valor irá beneficiar os tais 1% mais ricos. Brooks, na resposta, especulou se o Partido Republicano irá ser mais "um Partido Democrata que aumenta despesa, défices, dívida" e leva o país à falência. A culpa, conclui, é dos os eleitores que elegeram pessoas que são "viciadas em dívida".
Quem tem analisado as contas públicas americanas verifica que é ao contrário: os Democratas têm um desempenho melhor do que os Republicanos nas contas públicas. Parte da explicação deve-se a uma questão de atitude: desde Reagan, quando o Presidente é Democrata, os Republicanos no Congresso travam a despesa, mas quando o Presidente é Republicano, nem os Republicanos, nem os Democratas servem de travão. [Por exemplo, tanto Bill Clinton como Barack Obama tiveram um Congresso favorável durante duas sessões, i.e., dois anos, mas George W. Bush teve um Congresso favorável durante 4,5 sessões (anos) e na sua administração houve deterioração das contas públicas: para além de passar cortes de impostos que não estimularam a economia, mas destruíram o excedente da Segurança Social acumulado durante os anos de Clinton, desorçamentou a despesa das guerras que iniciou -- até 2003, todas as guerras dos EUA tinham sido financiadas com um aumento de impostos ao invés de emissão de dívida e a despesa tinha sido contemplada no Orçamento de Estado; com Bush, a despesa das guerras foi mantida em Orçamentos Suplementares (rectificativos) e só foi incluída no Orçamento Geral no início da Administração Obama --, e, antes de sair, Bush aprovou a TARP para combater a crise financeira.]
À meia-noite de ontem, não havendo acordo porque Rand Paul, quase-Republicano, se recusou a votar a favor da spending bill, o governo federal começou a fechar -- o segundo fecho em três semanas. Oito horas e meia depois, chegou-se a acordo e o tecto da dívida pública foi aumentado, não sendo necessário revisitá-lo antes de Março de 2019. O nível da despesa também aumentou, inclusive a despesa militar, que tinha encolhido durante a Administração Obama. A lei passou na Câmara dos Representantes com 73 votos a favor de Democratas.
Entretanto, há um mês -- já parece há tanto tempo -- Nicki Haley, nas Nações Unidas, tentou convencer os outros países que o Irão está em violação da resolução do Conselho de Segurança e os EUA têm "undeniable" evidence. Lawrence Wilkinson, que ajudou a escrever o discurso que Colin Powell deu nas Nações Unidas fez esta semana 15 anos, em que foi argumentado que os EUA tinham provas de que o Iraque tinha "weapons of mass destruction", acha que os EUA estão a pensar em invadir o Irão. Ainda bem que a Administração Trump conseguiu autorização para gastar mais.
Felizmente, já sabemos como isto irá (não) terminar e poderemos acautelar-nos. Só falta notar que as coisas são aproximadamente duas vezes mais rápidas com Trump do que com Bush: a isto chama-se progresso!
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