Regresso ao continente (expressão tipicamente
açoriana…) dez dias depois de ter vivido uma experiência única. Fui obrigado a
uma reflexão exigente para interpretar racionalmente esta comemoração de
quarenta e poucos ex-alunos de um curso liceal terminado há cinquenta anos e
para a qual fui convidado como seu professor, embora para a quase totalidade
delas e deles não mais tivéssemos tido qualquer contacto. Se alguns desses
alunos ainda vivem no Faial, outros vieram de ilhas vizinhas (Pico, S. Jorge,
Terceira, Flores) e outros de bem mais longe - não falo de Lisboa, mas de
Toronto, por exemplo! A simpatia, carinho, as manifestações de amizade para
comigo, evocando o passado, foram tão sinceras que me tocaram
profundamente.
Independentemente das conclusões a que possa ter chegado, ou
venha ainda a chegar, a verdade é que este reencontro foi muito emotivo. Eu
tinha memórias, algumas muito vivas, desse passado distante, mas é evidente que
enquadrar nessas memórias de jovens que éramos (eu tinha 32 anos, eles à volta
dos 18) os adultos (alguns verdadeiramente idosos…) que somos, obriga a uma
ginástica mental por vezes complicada. Houve muitos cabelos e barbas brancas, a
par de calvícies e gorduras inoportunas. Mas também houve quem de imediato reconheci;
às vezes não ligava o nome que me ocorria à pessoa que me abraçava, mas algum
tempo depois como que refiz o meu quadro mental de há cinquenta anos.
O ponto alto das comemorações foi a reposição da peça “A Longa
Ceia de Natal”, que hoje estou certo foi o cimento que nos uniu a todos –
alunos e professor. Há cinquenta anos fui o encenador e ensaiador do grupo de
alunos que a levou ao palco, e ela foi o “prato forte” da festa dos finalistas,
tendo tido tanto êxito que foi exibida mais três vezes. Não foi possível manter
todos os mesmos actores, mas os substitutos estiveram à altura. Antes da
exibição da peça, fui entrevistado por um actual professor da Escola Secundária
Manuel de Arriaga, o Dr. Victor Dores, tendo como tema uma comparação entre os
anos 60 do século passado e a actualidade, com foco na educação.
Nos outros dois dias, a confraternização abrangeu no sábado uma
ida à ilha do Pico, com almoço em S. Roque, e no domingo mais um almoço na
Praia do Varadouro, no Faial, a que se juntou uma visita ao Centro de
Interpretação do Vulcão dos Capelinhos.
Acrescentei a estes mais cinco dias de visita aos Açores,
que será motivo para um outro post, a
publicar em breve.
(Fotografia
do grupo de alunos comigo, depois da exibição da peça)
Victor Dores? O Victor Rui Dores?
ResponderEliminarEsse mesmo! Neste momento é professor na Escola Secundária da Horta. Eu não o conhecia, creio que foi convidado a ser meu entrevistador por ter interesse em teatro e, claro, por ser professor na escola que substituiu o "meu" liceu de há cinquenta anos. Conheces?
ResponderEliminarConheço. É amigo do meu pai, fez-me uma visita guiada extraordinária ao Faial.
EliminarTem também alguma obra publicada e é um estudioso dos vários sotaques das ilhas. E consegue falá-los todos. Só no Pico há três sotaques diferentes.
Tem alguns livros de poesia.
Algumas das melhores críticas que li sobre os livros do meu pai foram escritas por ele. E quando digo melhores não no sentido de serem elogiosas é mesmo pela profundidade da análise.