Há quem ache que a
China está a um passo de ultrapassar os EUA em termos do PIB. Um passo que pode
demorar 20, 30 anos, dizem. Acredito que sim. Afinal de contas, mais de mil
milhões de pessoas fazem toda a diferença nestas contas. Todavia, duvido que a China
ultrapasse os EUA na ciência e tecnologia. Por um motivo fundamental: são uma
ditadura com propensões totalitárias. Neste tipo
de regime, o objectivo da ciência não é a procura da verdade, mas sim servir um
bem maior definido pela elite. E nenhuma ciência escapa a esse desiderato,
incluindo a matemática e a física. Há décadas, os teóricos socialistas falavam
de uma matemática ao serviço da burguesia. Era, pois, necessário redireccionar a ciência, pô-la no caminho certo e justo. Em todas as cabeças com inclinações totalitárias, a ciência está
sempre ao serviço de alguém (classe, comunidade, Estado) e consideram fútil uma
ciência (ou arte) que não tenha uma utilidade ou aplicação prática. Nada de actividades espontâneas, sem uma orientação superior, não vão as coisas descambar, fugir ao controlo da elite e provocar resultados e consequências não previstas no plano. Ora, o que
fez o avanço científico e tecnológico do Ocidente foi precisamente a
despreocupação com a utilidade; foi a ciência pela ciência, a procura
desinteressada da verdade. Hoje, o ocidente está ainda a beneficiar de teorias
e descobertas de há séculos, que nunca teriam sido possíveis se os cientistas à
época estivessem preocupados com a sua aplicação imediata. Se no
ocidente continuar a existir esta liberdade, se a ciência não tiver de se curvar
apenas a interesses económicos ou políticos imediatos - como, infelizmente,
alguns iluminados reclamam -, a China não se transformará na vanguarda científica
ou tecnológica, pelo menos enquanto for governada por uma ditadura.
Interessante observação. No entanto, um contra-exemplo. A União Soviética produziu uma enorme quantidade de ciência e de tecnologia apesar de ser uma ditadura, não ter nenhum interesse pela "verdade" (a não ser a que dava jeito are regime) e de ter um conceito totalitário da ciência e da tecnologia como estando ao serviço do Povo (ou da Revolução). Pode-se sempre argumentar que o nível cientifico atingido pelo ocidente era francamente superior ao soviético (como se pode ver mais claramente depois da queda do muro), não deixou de fabricar bombas atómicas, misseis intercontinentais, satélites e enviar humanos para o espaço, já para não falar dos avanços em física, química e biologia. Impressionante para um país com uma população inferior aos EUA.
ResponderEliminarTem razão, tudo o que diz é verdade. Os nazis, por exemplo, também tiveram invenções impressionantes. O problema é que quando uma ciência está ao serviço de uma ideologia, num sistema totalitário, acaba sempre a prazo por gerar grandes desastres. Foi o caso, por exemplo, na União Soviética, da aplicação das receitas do cientista preferido de Estaline, o biólogo e agrónomo Trofim Lysenko. "Estaline e os Cientistas – Uma História de Triunfo e Tragédia" de Simon Ings é um bom livro sobre este assunto.
EliminarA ciência, infelizmente, acaba sempre por gerar grandes desastres (bomba atómica, armas químicas, aquecimento global, etc. etc.), dixit um ex-cientista (eu).
EliminarDificilmente a China ultrapassa os EUA porque tem um modelo de crescimento através das exportações. Como a população está bastante envelhecida, a indústria já está a sair da China por causa dos custos de trabalho, que terão tendência a aumentar por causa do envelhecimento da população. Mesmo agora, a China só é a segunda maior economia mundial por causa dos ajustamentos do purchasing power parity, ou seja, depende muito do custo de vida interno se manter baixo relativamente aos EUA.
ResponderEliminarFaz sentido.
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