sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Winter is coming

Amanhã celebra-se o solstício de Inverno, que é tradicionalmente celebrado pelos povos nativos das Américas com vários rituais. Um pouco por todo o mundo, às 22:23 de Portugal, irá haver uma meditação global.

É mesmo de uma meditação que iremos precisar porque as coisas estão bastante feias nos EUA. O Presidente anunciou ontem que ia ordenar a saída das tropas americanas da Síria. Acordámos hoje com notícias de Vladimir Putin a elogiar a decisão de Trump. À tarde, via Twitter, o Presidente disse que o General Jim Mattis, Secretary of Defense, que é o equivalente a um Ministro da Defesa, se ia reformar depois de uma carreira de distinção, mas pouco depois o próprio General contradisse o Presidente e, não só afirmou ter-se demitido, como tornou pública uma carta de demissão que não abona a favor do Presidente. Horas depois, Trump anunciou que as tropas também iriam sair do Afeganistão.

Nada disto faz sentido, claro, pois Trump aumentou a despesa militar e decidiu estas coisas espontaneamente, sem discutir com os seus conselheiros e, mais importante ainda, sem planear a saída. É de uma ingenuidade atroz achar que fazer um anúncio destes nestas circunstâncias promove a segurança dos militares e dos aliados dos americanos; o que garante é que o nome de Trump apareça 24/7 nas TVs durante a época de Natal.

Washington, D.C., está em choque, até porque dada a forma como Donald Trump trata as pessoas, já há pouquíssima gente que se queira submeter a uma experiência humilhante para substituir estas pessoas. Mas há uma complicação maior: John Kelly e Jim Mattis fizeram um pacto em que um deles estaria sempre nos EUA disponível para verificar as ordens da Casa Branca. John Kelly foi despedido por Trump e agora Mattis demitiu-se, ou seja, não há baby-sitter de serviço.

Esta semana tem sido também uma razia na bolsa, que está com bastante volatilidade, apesar de a Reserva Federal ter aumentado as taxas de juro de referência, o que deveria dar a indicação de que a economia estaria em condições de suportar tal aumento. Em contrapartida, a divida pública americana a 10 anos está em alta, com as yields a descer (o preço sobe e as yields descem, pois são inversamente proporcionais). Aliás, recentemente deu-se uma inversão e as yieds de curto prazo estão mais altas dos que as de longo prazo, o que costuma acontecer antes de uma recessão e basicamente indica que o curto prazo é mais arriscado do que o longo prazo. Numa situação normal, o longo prazo deveria ser mais arriscado do que o curto prazo. Dados os acontecimentos de hoje, que se deram após o encerramento da bolsa americana, amanhã vai tudo estar atento ao comportamento do mercado.

Em Portugal, felizmente, somos governados por um génio político. Os coletes amarelos que se preparem porque o inverno está à porta.

3 comentários:

  1. Trump foi eleito com um discurso que incluiu a redução do intervencionismo americano no Mundo. Está a cumprir o que prometeu.

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    1. Vou supor que o Nuno anda distraído: o Trump decidiu sair da Síria depois de falar com o Presidente da Turquia, sem sequer consultar os seus conselheiros; não teve nada a ver com promessas eleitorais.

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    2. Esse é um ponto. Trump escolheu uma equipa pouco alinhada com as propostas que levou a eleições; Bolton, Haley ou, agora, Nauert, por exemplo. Me parece que quem melhor cumpriria o programa desintervencionista que o elegeu seria Rand Paul. É também um grande problema que a agenda desintervencionista tenha uma representação escassa entre os democratas. Tulsi Gabbard e pouco mais, me parece.

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