Hoje cortaram mais três árvores
na minha rua. Parece que assim ficam os passeios mais direitinhos, não há
riscos de alguém tropeçar e processar a junta, não que ganhasse alguma coisa
com isso.
O homem do café acha muito bem, pois claro. Só servem para sujar
tudo, é as folhas, mais os pássaros. É o estacionamento, já cabem mais prái
três carros, a menina está a ver. Concordo, são vantagens. Um café, se faz
favor, cheio, sim. O vizinho também vê isto com bons olhos, ainda ontem andou
às voltas mais de meia hora para estacionar. Pois é, assinto. Como não há um
único ecologista no café, engulo o meu demasiado depressa e queimo a língua, é
bem feito, devia tê-la usado melhor. Saio para pensar em desvantagens mas
parece-me de tal modo claro que uma árvore é uma árvore que não poderia nunca
voltar ao café e dizer olhe lá. Já não é a primeira vez que me acontece. Isto
das árvores me serem evidentes. Ou seja, de não me levantarem problemas. Um
problema, toda a gente sabe, é uma coisa que tem de ser resolvida. Incomoda,
chateia, sugere maneiras de ser alternativas. Quando há um problema há coisas
que não estão bem mas podiam estar se simplesmente fossem de outra maneira. E
há quem os resolva. O que é que pode não estar bem numa árvore, pergunto.
Pergunto também, mas sempre só a mim próprio, se isto de as árvores me serem
tão evidentes como o princípio do terceiro excluído significa alguma coisa. A
continuidade das coisas, ou a minha identidade secreta de enorme vegetal, ou o
meu gosto peculiar. Nem respondo, já estaria a fazer da árvore um problema,
coisa que ela não é. De qualquer modo, faço demasiadas perguntas a mim próprio
quando devia antes andar por aí a dizer olhe lá. Mas é difícil. O que ninguém
percebe é que há quem gaste uma tremenda quantidade de energia só para
conseguir ser normal. Nem um café cheio chega.
Como compreendo e ao mesmo tempo sinto um alívio.
ResponderEliminar:-D Eu cá só escrevo sobre a condição humana.
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