terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Frases famosas 85

Hoje cortaram mais três árvores na minha rua. Parece que assim ficam os passeios mais direitinhos, não há riscos de alguém tropeçar e processar a junta, não que ganhasse alguma coisa com isso.
O homem do café acha muito bem, pois claro. Só servem para sujar tudo, é as folhas, mais os pássaros. É o estacionamento, já cabem mais prái três carros, a menina está a ver. Concordo, são vantagens. Um café, se faz favor, cheio, sim. O vizinho também vê isto com bons olhos, ainda ontem andou às voltas mais de meia hora para estacionar. Pois é, assinto. Como não há um único ecologista no café, engulo o meu demasiado depressa e queimo a língua, é bem feito, devia tê-la usado melhor. Saio para pensar em desvantagens mas parece-me de tal modo claro que uma árvore é uma árvore que não poderia nunca voltar ao café e dizer olhe lá. Já não é a primeira vez que me acontece. Isto das árvores me serem evidentes. Ou seja, de não me levantarem problemas. Um problema, toda a gente sabe, é uma coisa que tem de ser resolvida. Incomoda, chateia, sugere maneiras de ser alternativas. Quando há um problema há coisas que não estão bem mas podiam estar se simplesmente fossem de outra maneira. E há quem os resolva. O que é que pode não estar bem numa árvore, pergunto. Pergunto também, mas sempre só a mim próprio, se isto de as árvores me serem tão evidentes como o princípio do terceiro excluído significa alguma coisa. A continuidade das coisas, ou a minha identidade secreta de enorme vegetal, ou o meu gosto peculiar. Nem respondo, já estaria a fazer da árvore um problema, coisa que ela não é. De qualquer modo, faço demasiadas perguntas a mim próprio quando devia antes andar por aí a dizer olhe lá. Mas é difícil. O que ninguém percebe é que há quem gaste uma tremenda quantidade de energia só para conseguir ser normal. Nem um café cheio chega.


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