Na aula de yoga de hoje, a minha professora, que foi aluna do Iyengar, iniciou a nossa instrução a falar dos oito ramos de yoga. O primeiro é o Yama, que tem a ver com ética -- é a nossa conduta moral e social. Yoga devia ser obrigatório em Portugal porque a ética anda pelas ruas da amargura. Imagine-se que, hoje em dia, há grande indignação por eventos que ocorreram há tanto tempo que legalmente já devem ter prescrito, ao mesmo tempo que muitas das pessoas envolvidas continua a sua actividade profissional, como se nada se tivesse passado. Ninguém se recusa, se demite, ou é demitido. E será que não fizeram uns coisitas mais recentes que mereçam ser investigados e submetidos à justiça sem haver o risco de prescrição? Daqui a 10 ou 15 anos, teremos a nossa resposta.
Em 2011, uma jornalista de investigação, a Suki Kim, infiltrou-se na Coreia do Norte onde viveu durante seis meses, fingindo ser uma professora de inglês numa universidade frequentada pelos filhos das elites. Fê-lo porque tinha um contrato para escrever um livro sobre como é viver lá e porque entrevistar pessoas e visitar como turista não dão uma visão realista, pois as pessoas são treinadas para mentir: a sua sobrevivência depende da sua capacidade de mentir e mentir tem uma conotação diferente da que toma nas sociedades ocidentais. Visto assim, parece que Portugal ainda vive sob o espectro de uma ditadura porque finge-se indignação quando é conveniente, finge-se que as instituições funcionam, finge-se que os políticos irão redimir-se um dia destes, finge-se que há jornalismo a sério, etc.
Olafur Hauksson, que era um mero comissário de polícia de uma cidade pequena quando a Islândia sucumbiu à crise financeira, diz que sentiu que tinha o dever de servir o país e candidatou-se ao posto de investigador da crise -- ninguém mais se candidatou, mas a Islândia tinha menos de 315.500 pessoas em 2008. A equipa de investigação tinha apenas cinco pessoas, mas cresceu e chegou a exceder 100. Em 2012 houve a primeira condenação; até agora conseguiram quase 40. Diz ele que os políticos se sentiram obrigados a ter uma investigação. Portugal tem uma população 33 vezes superior à da Islândia e, se havia alguém com sentido moral de investigar as falcatruas lusas, essa pessoa deve ter emigrado.
Parece que a única obrigação que existe no nosso rectângulozinho é apoiar ladrões, daqueles que "roubam, mas fazem"...
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