“A seriedade intelectual de Natália [Correia] levava-a a não omitir erros (injustiças, desvarios) cometidos pelos que lhes eram próximos. Não hesitou, por isso, em distanciar-se, no ano de 1975, da (sua) esquerda, de demarcar-se do feminismo que, na Primeira República, levou as mulheres a apoiarem Afonso Costa na trágica decisão de atirar Portugal para o matadouro da Primeira Guerra Mundial.
«Incompreensível essa atitude, sobretudo por parte de vultos como Ana de Castro Osório, que criou a Comissão Feminina pela Pátria, ou como Adelaide Cabete que lançou a Cruzada das Mulheres Portuguesas em apoio de tamanha infâmia! E isso depois de Afonso Costa ter impedido as mulheres de votar, uma vergonha! Elas comportaram-se, afinal, de maneira não muito diferente da das senhoras do Movimento Nacional Feminino, que actuaram nas guerras coloniais do fascismo».
A seu lado, o historiador Oliveira Marques sorria. Saltando sobre o tempo, logo Natália investia contra as mulheres que, em cargos de decisão, «se comportam hoje pior do que os homens», ultrapassando-os no que eles «têm de mais brutal».
Em vez de «praticarem a superioridade do feminino, como a afectuosidade, a sensibilidade, não, parecem travestis! Vejam-se, por exemplo, as atitudes implacáveis das que dirigem departamentos de recursos humanos em empresas com processos de despedimentos de trabalhadores. Grotescas!» As «carpideiras do vitimismo feminino» irritavam-na igualmente.”
Excerpt From: Fernando Dacosta. “O Botequim da Liberdade.” Apple Books. https://books.apple.com/us/book/o-botequim-da-liberdade/id703484323
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.