Foi surpreendente que esta semana se tivesse falado tanto em “gun control”; tanto, tanto, que até Mitch McConnell, o líder Republicano, disse que o Senado teria de discutir a questão em Setembro (mas pessoalmente acho que isto só lá vai se houver mais uns tiroteios entretanto) e o Presidente Trump também admitiu que algo teria de ser feito.
Eis que ontem Jeffrey Epstein se suicidou e, de um momento para o outro, todas as atenções se focaram em como é que uma coisa destas podia ter acontecido a alguém que, depois da sua primeira tentativa de suicídio, estava supostamente sob vigilância constante numa prisão em Nova Iorque, prisão esta sob a jurisdição do Department of Justice, cujo Attorney General é William Barr.
“Supostamente” é a palavra de ordem porque tiraram Epstein da vigilância anti-suicídio, o que é estranho dado que ele tinha insistido muito em ficar sob prisão domiciliária, o que facilitaria uma tentativa. E depois houve a primeira tentativa, logo havia fortes suspeitas de que não seria a única.
Entretanto, a aura em torno do falecido dissipa-se. Afinal não era um génio da alta finança; pelo contrário, um dos seus primeiros clientes, Leslie Wexner, CEO da L Brands, a companhia dona da Victoria’s Secret diz que Epstein lhe fez evaporar 46 milhões de dólares, que depois reaveu porque Epstein fez uma doação para a organização com fins de caridade de Wexner — digam lá se não é conveniente? Wexner não informou as autoridades que Epstein era um "bocadito" ladrão. Para além disso, Epstein também comprou a preço de “amigo” pelo menos um avião, uma mansão em Nova Iorque, e outra mansão em Iowa, que eram de Wexner e família.
Ficou também claro que a antiga namorada de Epstein, Ghislaine Maxwell, foi promovida a sua melhor amiga e aparentemente ajudava a recrutar vítimas para o ex-namorado; até fazia a simpatia de as instruir na técnica de broche e outros prazeres sexuais apreciada por Epstein. (Ah, mulheres fofinhas, aquelas que estão atrás de homens deste calibre...)
Ghislaine foi educada nas escolas elite do Reino Unido, pois era filha de Robert Maxwell, imigrante checoslovaco no Reino Unido, antigo membro do Parlamento britânico e dono do Mirror Group, que detinha o Daily Mirror, e que desviou dinheiro dos fundos de pensão das empresas que geria para evitar a falência — faz-nos pensar acerca da qualidade da imprensa, quando os proprietários se enfiam nestas tramóias.
Uma outra filha da elite, a Abigail Disney -- sim, sim, pseudo-irmã do Rato Mickey --, tem andado na comunicação social a advogar impostos mais altos para os ricos porque diz que o universo em que estes se movimentam pertence a uma realidade paralela com regras que não têm nada a ver com as que regem o universo dos comuns mortais. Confere. A meu ver, se os ricos não se apercebem que lhes roubaram $46 milhões, não há grande perda para a humanidade se começarem a pagar mais impostos.
Pela Internet circulam fotos de Epstein com pessoas como os Trump, os Clinton, Príncipe Andrew, etc. Os liberais acham que Epstein morreu para proteger Trump, pois tiveram negócios juntos, inclusive a aquisição de Mar-a-Lago parece ter sido financiado com a ajuda de Epstein. Os conservadores vêem na morte de Epstein mais uma tramóia do “deep state”, pois é claro que Epstein iria comprometer os Clinton. (O “deep state” é aquela força tão poderosa, que fez tudo para que Hillary Clinton ganhasse a presidência americana. Super-competente, portanto.)
Os Republicanos não sabem para onde se virar, mas ontem o Ben Sasse, um senador Republicano do Nebraska, achou por bem enviar uma carta a William Barr a pedir satisfações. Ontem, Sábado. Depois, armado em Joe Berardo, publica a carta na Internet para todos verem, certamente antes de Barr lhe ter posto a vista em cima. Aguardemos que William Barr se arme em Ferro Rodrigues e denuncie esta falta de respeito para com as instituições.
Isto tudo parece digno da República Portuguesa, mas eu bem digo que os EUA se aportuguesaram.
Vejo que essa Ghislaine Maxwell tem portanto uma tradição de conhecer bem homens que morrem misteriosamente.
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