Gostaria de partilhar convosco a forma como os americanos calculam a actividade de um senhorio vs. os portugueses. Mas antes alguns esclarecimentos.
- Quem preenche os meus impostos nos EUA é um Certified Public Accountant; eu apenas recollho as despesas ao longo do ano e envio-lhe as coisas para ele preencher o formulário.
- Notem que os valores da declaração americana estão em dólares e os da portuguesa estão em euros. Para converter os euros para dólares, tenho uma tabela das receitas e despesas do apartamento por mês e uso a média mensal da taxa de câmbio, que é publicada pela Reserva Federal americana.
- Os impostos pagos em Portugal que declaro no formulário americano são o IRS, o IMI, e os impostos de selo que me cobram quando faço pagamentos de coisas pertinentes ao apartamento. Nas despesas do formulário americano incluo coisas como as despesas com o condomínio, obras, seguros, comissões bancárias relativas ao pagamento do empréstimo, e juros de empréstimo. Todas estas despesas são dedutíveis a 100% nos EUA.
- Para além das despesas, a lei americana também permite a amortização do imóvel, o que reduz o valor do imóvel durante o tempo de vida da propriedade que se considera ser 30 anos. Ou seja, o que a amortização faz é diminuir o custo que se pode invocar se o senhorio um dia vender a propriedade. Nessa altura, o imposto sobre a mais valia obtida da venda da propriedade irá incidir sobre o valor da venda ao qual são deduzidas as seguintes componentes: o custo da venda, o valor residual do imóvel, e quaisquer perdas que tenham transitado do arrendamento.
- No formulário português apenas incluo as deduções permitidas pela lei portuguesa.
Conclusão, perante a lei portuguesa, como senhoria tive rendimentos prediais de 1.739 euros em 2018 e paguei um IMI de 487 euros. Perante a lei americana, tenho uma perda de 4.123 dólares e não pago nenhum imposto sobre o rendimento. Apenas transito a perda para a actividade do póximo ano e quando vendo uma propriedade uso as perdas acumuladas para mitigar qualquer ganho que tenha na venda.
É óbvio que Portugal e os EUA têm sistemas de impostos muito diferentes, mas para um investidor, o que interessa é o potencial do investimento gerar retorno. O sistema de impostos português e a forma como a economia é gerida condenam a maior parte do território nacional a perdas prediais. Não há grande incentivo fiscal para comprar uma propriedade para a ter a arrendar a longo prazo. As únicas situações em que claramente compensa ser senhorio serão locais como Lisboa e Porto ou propriedades que as pessoas herdem e sobre as quais não têm de pagar empréstimos.
No meu caso, não comprei esta propriedade para a arrendar; comprei-a porque os meus pais queriam que eu tivesse um sítio em Portugal, mas como já ninguém da família lá vive não a posso deixar vazia. Poder-se-á dizer que acabei por investir por "amor", mas a forma como os portugueses me tratam, seja cidadãos (ver primiero comentário ao post anterior) ou a Autoridade Tributária, não me dão grande vontade de continuar a ter uma ligação física a Portugal. A única coisa de Portugal que me faz falta é poder visitar a campa da minha família no cemitério. Tudo o resto é-me indiferente.
Aliás, ultimamente, não tenho pensado em regressar a Portugal depois de me reformar nos EUA. Eu gosto de Portugal, mas não aprecio a atitude de muitos portugueses que gostam de me insultar só porque eu tive a brilhante ideia de me fazer à vida e saí de Portugal para tentar construir uma vida melhor. Eu posso ser muita coisa, mas o que eu não sou é masoquista.
Vamos aos números.
Excerto do formulário americano:
Excerto do formulário português:
Excelente post. Faz falta conhecer os sistemas de outros países para além da superficialidade. Isto evidencia bem a diferente filosofia entre um regime que entende o investidor e outro, centrado no estatismo, visando unicamente captar receita. Parabéns.
ResponderEliminarO meu coracao sangra pelos despauterios que "os investidores" rentistas tem de de ler e ouvir...
ResponderEliminarTambem acho chique a valer a forma como quem se afirma indiferente aos destinos do pais, nao so em palavras mas tamebm, e acima de acima de tudo, em accoes (abstencao) depois se queixa do sistema tributario em vigor - instituido pelo governo, democraticamente eleito nas eleicoes em que nao participou...
Experimente olhar para um investimento em Portugal como investidor estrangeiro que não vota e se pensar que precisamos de atrair investimento externo porque não há poupança tirará as suas conclusões...
Eliminar"As minhas proprias conclusoes" nao sao apropriadas para a idade da audiencia.
EliminarPegando na sua "experiencia de olhar", aproveito para aqui citar um certo maldito escritor nobelizado: "Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara".
Ora entao vejamos: este "investimento" visa extrair rendas de alguem em Portugal para as canalizar para fora do pais.
E depois repararemos nisto tambem: que o "modelo de negocio" so pode ser tornado "lucrativo" num contexto de deficiente aprovisionamento de habitacao social aos segmentos mais vulneraveis da sociedade portuguesa.
Agora o observador honesto se calhar e assaltado por pensamentos um bocado heterodoxos acerca das taxas de poupanca em Portugal e suas origens... pensamento esse bem mais incisivo, mais interessante, fora do espectro da opiniao economica publicavel e verdade, mas um pouco mais inteligente que a simples regurgitacao de lugares-comuns.
Assim sendo e bastante apropriado que o pedro me convide apenas a olhar... e mesmo assim com uma serie de condicionantes , uma especie de oculos especiais "amigos do investidor".
E quanto ao investimento estrangeiro que nao vota -uma pequena nota de rodape:
EliminarO investimento estrangeiro nao nasce todo igual. Ate os manuais de economia reconhecem que ha "investimento bom" e "investimento mau" - os criterios sao sempre mais ou menos subjectivos, e a questao que deveria ser central, deveria friso, e obviamente como os estabelecer de forma justa.
Ora, a falta de melhor, de momento a democracia e o que se arranja. Quem quer outros criterios, que vote neles.
Nos circulos economicos convencionais a democracia tende sempre a ser vista, de uma maneira ou outra, como um empecilho - e nao e defeito, e feitio de classe... profissional.
Depois indique quais os "manuais economicos" que reconhecem que ha investimento estrangeiro "bom" e investimentos "mau".
EliminarE também porque acha que é uma boa opcao economica, no hipotetico contexto de "deficiente aprovisionamento de habitacao social aos segmentos mais vulneraveis" penalizar a oferta como mais onus e encargos?
Obrigado
Fazemos assim: quando te passar a puberdade e as calosidades na tua "mao amiga do mercado" sararem das uma apitadela e depois a gente conversa.
EliminarVais-me desculpar por nao me despedir com um aperto de mao de momento OK?
Rita, não valorize o comentário de lowlander. Trata-se de gente que não vê um palmo à frente do nariz, que se inscreveu numa "igreja” tipo seita, que agora professa uma religião "sagrada" e que se permite andar por aqui e por outros lados malcriadamente a chatear as pessoas com argumentos tolos. Mantenha-se ligada ao nosso País e deixe passar a caravana.
ResponderEliminarSim sim, os economistas identificam-se a si proprios com termos giros como:
Eliminar"economistas ortodoxos"
"economistas heterodoxos"
"economistas de agua salgada"
"economistas de agua doce"
Sao eles os visionarios da nossa sociedade - sao cientistas carago!
Ja agora, passar por cima de argumentos e em vez disso tentar canhestramente rotular implicitamente o interlocutor com mimos como "fanatico religioso" e um claro sinal de educacao. Nao so ao nivel da simples capacidade de esgrimir um par de argumentos sem cair falacias, mas acima de tudo ao nivel das boas maneiras.
E esmagador e naturalmente eu so me posso sentir esmagado com o peso (e maturidade) da argumentacao exibida!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarSó baboseiras.
ResponderEliminar"Ate os manuais de economia reconhecem que ha "investimento bom" e "investimento mau"". Importa-se de partilhar connosco em que "manual de economia" é que encontrou essa pérola?
Ja ouviu falar de "investimento productivo vs investimento especulativo"? E "investimento em bens transaccionaveis vs investimento em bens nao transacionaveis"?
EliminarE areas da economia sensiveis para a seguranca nacional, onde investimento estrangeiro e proibido - ja alguma vez se deparou com esta expressao?
Lowlander, olhe para os números. A renda são 2400 euros/ano brutos. Descontados os impostos e custos de manutenção (condominio, IMI, taxas e taxinhas) sobra um pouco menos de 1300 euros/ano. Ou pouco mais de 100 euros/mes.
ResponderEliminar100 euros/mes é um rendimento de luxo ? E o dinheiro para as as obras de renovação na fração e no prédio vem de onde ?
Nelson Goncalves:
EliminarO seu argumento tem alguma piada. Mais um convite para olhar, e nada mais...
Permita-me responder-lhe com outra pergunta:
E quando falamos de aumentos de 20 ou 30 euros /mes (280 a 420 euros /ano) no salario minimo nacional, sera um rendimento de luxo? E o dinheiro para pagar algumas necessidades do dia-a-dia como alimentacao e RENDAS, vem de onde?
Lowlander,
EliminarComo é que o salario minimo entra nesta discussao ? Discutir consigo é um diálogo de surdos.
Lowlander,
EliminarMas... vamos lá seguir a sua linha de raciocinio. O salario minimo é curto para as necessidades do dia a dia, rendas incluídas. Ora 100 euros é um quinto do salario minimo. Parafraseando o Lowlander, "o dinheiro para pagar algumas necessidades do dia-a-dia como alimentacao e RENDAS do senhorio vem de onde?"
A conclusão óbvia é que o senhorio está justificado em aumentar a renda, porque (parafraseando-o novamente) "aumentos de 20 ou 30 euros /mes (280 a 420 euros /ano) num salário de 100 euros/mes sera um rendimento de luxo?"
Chegamos portanto á situação trágica em que você defende que o senhorio deve aumentar as rendas, e defende que não aumente porque o inquilino é pobre.
Absurdo..... "Era previsivel e foi previsto."
Nelson Goncalves,
EliminarA linha de raciocinio era sua e nao minha. Quem trouxe para a discussao a magnitude dos valores recordo-lhe, foi o Nelson, com um convite para eu simplesmente "olhar" para isso e presumivelmente encher depois o meu coracao com ternura pelo "pobrezinho" do rentista.
O que a minha pergunta pretendia fazer, e suponho que eu saiba alguma coisa sobre isso ja que fui eu que a escrevi, era um simples teste de boa-fe na sua argumentacao:
Se a magnitude de valores e que e o argumento central aqui para o Nelson, entao concerteza que e um argumento universal para o Nelson. Isto e aplicavel em todas as questoes economicas onde os valores para o individuo sao diminutos.
Assim sendo, e expectavel que que o Nelson, porque argumenta de boa-fe e e um interlocutor intelectualmente honesto, tambem tera o coracao repleto de, pelo menos, tanta ternura pelos recipientes do salario minimo portugues como pelos "pobres" dos rentistas. Teria logica.
Pergunto entao de novo ao Nelson: o seu argumento e sustentavel quando aplicado ao salario minimo por exemplo?
Quanto as suas elocubracoes sobre "a linha do meu raciocinio" o unico tragico absurdo que expoem, por enquanto, e a sua incapacidade de apreensao.
Ufa! Que rolamborio que para aqui vai...
ResponderEliminarDisse eu: "As minhas proprias conclusoes" nao sao apropriadas para a idade da audiencia.
E previsivelmente as reaccoes confirmaram a idade da audiencia entre os pueris trocadilhos com o meu pseudonimo, pateticos links para os sites pornograficos onde esta tralha presumivelmente testa - sozinhos claro - a teoria economicas estimulantes sobre "mao amiga" ou "mao invisivel" do mercado e infantis tentativas de passar por cima de argumentos com rotulagens simplorias.
Era previsivel e foi previsto.