Entre as vendas de bananas coladas à parede com duck tape (é a fita cola do MacGyver) e pseudo-orgias da Desigual, em que uma das participante era a filha da Madonna, já toda a gente em Portugal deve conhecer a Art Basel Miami. Eu também conheci, mas foi porque fui lá, mas não vi a banana. Deixo-vos as minhas impressões do que vi. (A sério que achavam que a DdD não iria estar presente? Nós não somos bananas...)
O Brooks Museum, que é aqui em Memphis, organizou uma visita para os membros e achei que era uma boa experiência: três dias de arte fenomenal, bons restaurantes, e um hotel na praia ao pé do Atlântico é a minha cara. Partimos na Quinta-feira de manhã e regressámos hoje, Domingo. Para os curiosos, esta minha aventura custou $3475, ou seja, quase 3150 euros, que pagou o voo, autocarro privativo, quarto individual no hotel (ficámos no Grand Beach Hotel), bilhete de entrada na Art Basel Miami, e duas refeições. A Art Basel Miami realiza-se no Miami Beach Convention Center e este ano, pela primeira vez, teve um andar só de instalações de maior escala e vídeo.
As actividades da nossa pequena excursão incluíam visitas guiadas a dois museus (o Perez Art Museum Miami e o Rubell Museum), pequenas palestras dadas ao nosso grupo por alguns representantes das galerias que estavam representadas na Art Basel Miami, um almoço no PAMM, um jantar de despedida no restaurante Amara at Paraiso, e algum tempo livre para explorarmos Art Basel ou outra coisa que quiséssemos. Na Sexta de tarde, não fui a algumas palestras e dei um pulo a Art Miami, que tem apenas arte do mercado secundário (é o mercado de obras que foram vendidas mais do que uma vez).
A primeira palestra que tivemos e que foi absolutamente espectacular e informativa foi com a galeria James Cohan, de Nova Iorque, que se especializa em arte contemporânea e foi o próprio que conversou connosco. Os trabalhos expostos estão na website da galeria, mas o que falta é a escala dos trabalhos. Por exemplo, a peça do Elias Sime, que é um artista da Etiópia que trabalha com diferentes media, inclusive circuitos de computadores que vão parar à Etiópia porque são lixo, é enorme, com mais de dois metros de altura.
Para além de James Cohan ser um excelente orador, que se nota ser completamente apaixonado pelos artistas que representa, contou-nos histórias bastante interessantes acerca de como o trabalho dos artistas tem repercussões na sociedade em que se inserem. Por exemplo, com o dinheiro que Elias Sime recebeu das vendas das suas peças através desta galeria, comprou um terreno em Addis Ababa onde construiu o Zoma Museum, que, para além da galeria, tem centro infantil, biblioteca, jardim de plantas comestíveis, escola primária, escola de arte, anfiteatro, café e loja. O museu foi aberto em 2009, mas teve tanto sucesso que já foi expandido e Sime foi convidado pelo Primeiro-Ministro da Etiópia para criar um espaço no Palácio Nacional da Etiópia.
Nesta palestra, também nos explicaram a economia da feira: o James Cohan pagou $150 mil para estar presente na Art Basel e para cobrir o custo tem de vender pelo menos $600 mil em peças de arte. O preço das peças expostas ia de algumas dezenas de milhares de dólares até centenas de milhares, mas, em 24 horas, já tinha conseguido vender várias, duas delas a museus (uma vai para o Fine Arts Museum em Boston, que por acaso tive oportunidade de visitar há um mês).
A vista ao PAMM também foi bastante educativa. Neste momento, há um enorme interesse em artistas de África e da América Latina e na redescoberta de artistas que foram até agora ignorados, especialmente mulheres. Pessoalmente, acho bastante curioso, pois não é de todo inédito. Há cerca de 100 anos, também houve um período de descoberta da arte africana, que influenciou artistas do movimento Dada, do Surrealismo, as inovações de escultura de Henry Moore, etc. O PAMM, que especializa em arte contemporânea, foi inaugurado em 2013, num edifício novo desenhado pelos arquitectos Herzog & de Meuron e sucedeu ao Miami Art Museum.
O Rubell Museum também é de arte contemporânea e abriu há menos de uma semana em instalações novas: converteram um armazém enorme em museu. A colecção da família Rubell, que excede 7200 peças e é uma das maiores coleções de arte contemporânea do mundo, está armazenada nestas instalações, mas pouco mais de 300 peças estão expostas nas galerias. Os Rubell davam bastantes festas frequentadas por artistas desconhecidos ou em início de carreira e foram donos do Studio 54, em Nova Iorque; a família mudou-se para Miami há mais de 20 anos.
Como este post já vai longo, vou terminar com uma agradável surpresa: na Art Basel Miami, encontrei a galeria Cristina Guerra Contemporary Art, de Lisboa, e tive oportunidade de conversar com a Cristina, o Samuel, e a Teresa. Fiquei super-feliz de poder praticar o meu português e também fiquei feliz porque um dos artistas representados é de Angola. Vão-me desculpar, mas esqueci-me de apontar o nome, mas tirei uma foto para partilhar convosco.
Em 2015 estive em Miami em visita à Miami Design Week e pareceu-me de facto uma cidade bem viva em arte e design. PS: o Studio 54 era o do Basquiat, certo? Li há tempos que a sua ex-galerista e ex-Rainha da arte em NYC, Mary Boone caiu em desgraça...
ResponderEliminarO Studio 54 era frequentado por muitos artistas, o Basquiat também lá ia. Confesso que tenho um conhecimento muito limitado desta época, em termos de arte. Ainda não tive interesse em aprender.
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