Há poucas horas uma amiga minha italiana, que vive numa cidade à beira-mar, mas não na zona de alto risco, dizia que o governo tinha acabado de fechar o país 30 minutos antes. As pessoas podiam sair de casa de vez em quando, mas não podem ir trabalhar a não ser em super-mercados, farmácias, hospitais, etc. Tudo o resto deixou de ser essencial. Não sabem se irão receber o salário ao fim do mês, mas as contas, essas chegam de certeza. A minha amiga diz que odeia este governo italiano, mas que aprecia todo o seu esforço e o facto de não mentirem, nem esconderem a dimensão do problema.
Todos os dias, a Itália conta as suas vítimas, todos os dias, informa o mundo de quantas pessoas morreram, de quantas ficaram doentes. Na revista Time, indicam que por cada milhão de cidadãos, a Itália testou 638 pessoas; não é tanto como na Coreia do Sul, onde testaram 1100 pessoas por cada milhão, mas é um esforço gigante. E dois médicos italianos escreveram uma carta à comunidade internacional a relatar as lições que aprenderam para que os outros se preparem e não tenham de enfrentar esta batalha enorme sem conhecimento prévio. É a Itália, aquele país que nós achamos meio avariado porque elegeu o Berlusconi, mas estão a tentar tudo por tudo.
A minha preocupação é que tenho a certeza que Portugal não está a testar um número suficiente de pessoas para controlar o contágio. A minha amiga diz-me para não me esquecer que a Itália é um país envelhecido, que a idade média dos falecidos por causa do COVID-19 é 81 anos. Isto faz-me lembrar que o meu ex-cunhado, num Natal, me deu um livro intitulado "One Year in the Village of Eternity", sobre a longevidade dos residentes de Campodimele, em Itália, que nunca cheguei a ler. Talvez esta seja a minha dica.
Portugal também é envelhecido e fui ver a distribuição etária dos países: Portugal tem 21,5% da população com 65 anos ou mais; os italianos têm 23%; a Coreia do Sul tem 14%. A Coreia do Sul tem 7478 casos e 53 fatalidades; a Itália tem 9572 casos e 463 fatalidades. O número de casos em Itália aumentou 1300 hoje. Portugal tem 30 casos, mas o Público dizia que se estava à espera dos resultados dos testes de mais 47 pessoas, ao mesmo tempo que dizia que a primeira paciente tinha infectado 10--o suficiente para eu começar a fazer suposições. A primeira paciente veio de Itália, suponho que num avião, suponho que o avião tinha mais de 47 passageiros e, suponho também, que depois foi usado para transportar outros tantos, mas não antes de ser limpo, suponho outra vez, por uma equipa de várias pessoas. Acho 47 pouco, pronto.
O cidadão mais importante, que não sabe estar quieto para que não pensemos que morreu é o nosso Presidente da República que lá arranjou maneira de ser testado. Amanhã, para podermos estar mais descansados, o PR devia repetir o teste e o Primeiro Ministro devia mais uma vez dar-lhe os parabéns. Sim, porque a banda no Titanic também tocou até ao fim e mais vale morrer civilizadamente: não podendo haver selfies, restam-nos os tuítes de parabéns.
preparados, nós? Vamos ao site da DGS, dizem que se tivermos sintomas devemos ligar à saude 24. Eu estou com pressão no toráx há mais de 24h, decidi ligar agora. Tentei várias vezes, o numero nem estava acessível, dizia para ligarmos noutra altura. Ao fim de 20 minutos a ligar para dar com desligar automatico, finalmente atendem e peo-me em lista de espera. 15 minutos a ouvir musica, mais nada. Saude24, DGS com tudo sob controlo....Acho que estamos ainda piores que a Italia.
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