Na mais recente entrevista do Primeiro
Ministro, este confessou que a decisão mais difícil que teve de tomar face à pandemia
foi quando, no dia 12 de Março, anunciou o encerramento das escolas. Na véspera,
o Conselho Nacional de Saúde Pública não se pronunciara favoravelmente pelo
encerramento generalizado de escolas, esclarecendo que apenas naquelas zonas
onde os serviços de saúde o recomendassem se devia fazê-lo. Recordo que a
Universidade do Minho encerrara, por deliberação do Reitor, no dia 8, e também estavam fechadas as escolas dos
concelhos de Felgueiras e Lousada e algumas da Amadora e Portimão. Existia no
entanto uma forte pressão das associações representativas de pais e de escolas,
para o encerramento, e começava a falar-se num “alarme social” latente.
António Costa acabou por decidir a
cessação das actividades lectivas presenciais, mas deixou em aberto portas para
gerir o futuro, que começou de imediato a ser pensado pelo Ministério da Educação.
Num post anterior, defendi
a ideia de que perante a situação de crise sanitária provocada pelo Covid-19,
seria aceitável que as escolas permanecessem encerradas até final do ano lectivo,
com a ressalva de se encontrar uma solução para os alunos do 12º ano, por causa
do acesso ao ensino superior, porventura incentivando formas de ensino a distância,
o qual, se as circunstâncias permitissem, poderia ser complementado com alguma
assistência presencial.
Muitos comentadores (não à minha
prosa, mas noutros contextos) defenderam posição diversa e alguns consideraram
mesmo que as escolas não deveriam ter fechado. Entretanto, o Governo definiu um
sistema (arriscado) em que o ensino a distância foi privilegiado, incluindo a
utilização da televisão, lembrando a Telescola. Mas foi sempre considerada a
possibilidade de uma excepção para o ensino secundário, estimando como possíveis
aulas presenciais numa fase avançada do período escolar. Depois dos períodos do
estado de emergência e de calamidade e face ao desconfinamento, concretizou-se o
que estava pensado, alterando não só o calendário de exames mas a forma de
considerar os resultados, tendo em vista a admissão ao ensino superior, e acabando
por fixar a data de recomeço dessas aulas, o dia 18 de Maio.
Amanhã.
Acontece que existem muitas vozes
preocupadas e críticas por este recomeço. Vêm de todo o lado: directores,
conselhos gerais de agrupamentos, professores, alunos, pais – estão contra. E uma
estrutura representativa (Conselho das Escolas Médicas Portuguesas), veio, pela
voz do seu presidente, dizer que a abertura das escolas representa “um risco desnecessário”.
Há medo de que o regresso às aulas, ainda que com todas as precauções definidas
pelas autoridades sanitárias, não seja suficiente. E em jeito de conclusão,
como disse um director de uma escola de Lisboa, tudo isto “pela teimosia de
haver exames”. A pergunta necessária é: não deveriam ser feitos os exames,
prejudicando centenas de alunos na sua legítima expectativa de prosseguir estudos
no ensino superior?
A minha posição é hoje a mesma
que defendia há tempos: as escolas deveriam manter.se encerradas, as aulas a
distância continuariam, e os exames teriam sempre lugar (não referi na altura, mas
admito que com algumas alterações, como a data de realização). Tenho desde há
muito assumido uma posição crítica para com os exames, mas clarificando sempre
que considero que devem existir na transição do ensino secundário para o
superior. Seria gravoso para os alunos em situação de poderem ingressar num
curso superior serem impedidos de o fazer, perdendo um ano da sua vida escolar.
“Inventar” uma qualquer outra forma de acesso para este ano seria impensável.
Quero acrescentar que tenho as
maiores reservas quanto ao actual sistema de acesso e desejaria que ele fosse
alterado. Às escolas competiria a selecção dos alunos que a elas se candidatassem,
ainda que inicialmente devesse existir uma prova comum, do tipo dos Graduate
Records Examinations (GRE) nos Estados Unidos da América, que permite avaliar as
capacidades dos alunos no raciocínio verbal e quantitativo e no pensamento
crítico. Sei como é complicado pensar numa mudança como essa (ainda me lembro do
que se passou com a PGA, no início dos anos 90), mas algo tem de ser feito para
tornar o sistema mais confiável.
E agora? Agora, é esperar que não
existam problemas em relação à saúde de todos os que vão estar nas escolas, e
que não surjam situações geradoras de controvérsia. Goste-se ou não da maneira
como se decidiu a conclusão deste ano lectivo, temos de aceitar o que foi
decidido.
É necessário ser muito rigoroso
na avaliação de tudo o que foi e vai continuar a ser feito, não procurando
esconder insuficiências nem empolar pequenas vitórias. É necessário ter já quem
esteja a planear o que vai acontecer no próximo ano. Não é tarefa fácil, porque
não há certezas: o distanciamento social vai manter-se? Se vai, como lidar com
o problema em escolas pensadas para salas de aula para 30 alunos? Continuando com
ensino a distância, como se vai organizar o ensino? Este ano, remendou-se; no
futuro não serão toleráveis remendos. A ideia é continuar a usar a televisão?
Se for – e não tenho objecções – o modelo apressado deste ano, por muito razoável
que tenha sido, não pode continuar assim.
Finalmente, é preciso coerência: há
que conciliar o modelo a definir para o ensino a distância com a importância
concedida por este governo à autonomia e flexibilidade curricular. Pode parecer
difícil, mas nunca será impossível, continuar a dar a escolas e professores liberdade
para, face ao quadro real em que actuem, gerirem o currículo que melhor sirva
os interesses dos seus alunos.
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