Foi tão fácil apanhá-lo e estava tão calmo, que me surpreendeu imenso que confiasse em mim. Trouxe-o para casa, mas disse à minha vizinha que não sabia onde o meter porque não tinha uma gaiola. Ela emprestou-me uma gaiola antiga, só que o pássaro enfiava a cabeça pelas grades, que eram largas. Tive medo, mas deixei-o lá.
Agora quando penso nisso, sinto-me estúpida. Devia tê-lo embrulhado numa toalha e posto numa caixa de cartão. Dormia assim durante a noite e ao outro dia soltava-o, se estivesse melhor. Foi isso que uma vez fiz com um pombo quando vivia em Houston e correu bem. Voou logo quando o levei para a rua na manhã seguinte.
Mas deixei esta criatura na gaiola, que estupidez. Cobri a gaiola com um cobertor e tinha o pássaro embrulhado numa toalha. Estava a correr bem quando regressei alguns minutos depois e ainda estava calmo. Voltei a ir vê-lo antes de me ir deitar e encontrei-o num alvoroço a enfiar a cabeça pelas grades da gaiola a tentar sair. Liguei a luz, outra estupidez, e fui à garagem buscar a caixa, mas quando regressei estava morto, penso que partiu o pescoço.
Não percebo como é que a minha reacção não foi a de o ter tirado da gaiola e o ter acalmado, dado o seu pânico. Não faz sentido agora pensar no animal e deixá-lo como o deixei, mas foi como se duvidasse de mim própria e achasse que ele estava mais seguro se não lhe mexesse. Que estupidez...
The road to hell is paved with good intentions.
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