quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Concordámos em discordar à vezes

Na minha reunião semanal com as minhas amigas de Houston, uma delas perguntou o que achávamos da terceira dose e se iríamos tomar. A questão não é tão pertinente para mim, que sou a mais nova e que não estaria afectada a curto prazo, dado que apenas aconselharam os mais idosos e de maior risco a levar. Mesmo assim, dei a minha opinião e acho imoral estar a dar terceiras doses nos EUA, quando os países mais pobres nem uma dose têm para toda a gente. Por sorte, eu tinha lido uma peça de opinião no NYT em que se falava da forma vergonhosa como os países mais ricos se têm comportado no acesso às vacinas e mencionei algumas das coisas que li.

Instead, as the Duke scientist Gavin Yamey told The Lancet, “rich countries behaved worse than anyone’s worst nightmare.” They bypassed Covax — either completely or by slow-walking their financial contributions — cut multiple deals directly with vaccine manufacturers and bought up many more shots than they would need, long before any had been authorized for use. As a result, not only did Covax never amass the purchasing power at the heart of its plan, but also by the time the initiative secured enough funds to start buying shots, it was at the end of a long queue.

De nada valeram estes argumentos para persuadir a minha amiga, dado que nos EUA não há falta de vacinas, foi a lógica dela. Ela ainda disse que era a favor de se partilhar a receita das vacinas para que os países pobres as pudessem fabricar. Só que os países pobres não só não têm as fábricas, como não têm a mão-de-obra porque uma das coisas que os países ricos fazem bem é captar a mão-de-obra qualificada dos pobres. Foi nessa altura que ela avançou o argumento dos contribuintes americanos pagarem impostos logo têm direito a que o governo lhes forneça vacinas.

Discordo na teoria, mas não subscrevo na prática, dado que na minha vida pessoal não sou apologética da pobreza franciscana, e muito menos vivo assim. Como dizia a minha amiga, sou contribuinte pagante e não pago assim tão pouco, mesmo assim, a não ser que me digam que as doses que já tomei não oferecem protecção nenhuma, irei evitar tomar a terceira dose.

O sabor amargo da terceira dose, que o Biden já foi tomar -- conflito de interesse! -- não me sai da boca porque isto de salvar os ricos e deixar morrer os pobres é digno do século XIX, não do XXI, e é mais um pontinho que marco contra o Biden. Até o Bush se preocupou em ajudar os países de África a combater o vírus do SIDA, logo como é que o Biden tem desculpa para agir assim?

3 comentários:

  1. Os EUA são os maiores doadores para o projeto Covax. Já eram diferentes na vacina da gripe, a vacinar roda a gente. Em Portugal só se vacina toda a gente acima dos 65 anos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. No meu emprego, quando trabalhávamos do escritório, todos os meses ia uma equipa de enfermeiras para dar injecções de vitaminas ou vacina da gripe ao empregados. A vacina da gripe é paga pela minha empresa, faz parte dos benefícios. Como não estou no escritório, agora tomo no médico; o gabinete da minha médica costuma enviar um SMS a dizer que está na altura de ir lá tomar.

      Eliminar
  2. Outro problema é os países muito pobres não terem capacidade logística para distribuir e manter as vacinas no frio.

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.