Desde há quase dois anos que andamos nisto do trabalho remoto e algumas das coisas que ouço dos meus colegas é que apreciam a flexibilidade, gostam de poder passar mais tempo com os filhos, e as poupanças de tempo de gasolina também ajudam. Já aconteceu em conferências por telefone alguns (homens!) estarem a lavar a louça ou a preparar uma refeição, também têm a possibilidade de ir levar e buscar os filhos à escola, etc. Ou seja, em vez de se trabalhar as oito horas quase seguidas com intervalo de almoço, a gestão de tempo é mais fluída e os empregados ganharam alguma independencia de como organizar o seu dia. Desde que apresentem o serviço a tempo e horas, não parece que seja um problema ter um horário mais felixível.
Em empresas multinacionais, há também um outro aspecto a considerar, dado que parte da equipa pode estar espalhada por outros países. Recordo-me de uma vez ter uma reunião às 6 da manhã porque um colega estava na China, mas o mais frequente é os colegas dos outros países terem horários não-convencionais para poderem contactar com quem está nos EUA. Por exemplo, há um colega que está na Índia de quem nós dizemos, a brincar, não dormir porque está sempre a responder aos nossos emails. É no que dá ter pessoas na Índia, China, Europa, EUA, Brasil, Àfrica ocidental na mesma equipa.
Tudo isto para perguntar quem é que na sua supra-sapiência acha que vai atrair trabalhadores estrangeiros, como sugere o artigo, para ir trabalhar para Portugal, quando é proibido contactar a pessoa fora das horas de trabalho portuguesas? Uma empresa americana, que está pelo menos 5 horas atrasada relativamente a Portugal vai incentivar alguém a trabalhar de Portugal dada esta legislação?
E como é que a legislação vai ser aplicada? Quem vai fiscalizar? Como é que vão cobrar as multas? Suponhamos que havia realmente empresas estrangeiras que deixassem os empregados trabalhar de Portugal, que jurisdição teria Portugal sobre estas empresas para lhes aplicar multas?
Percebe-se esta tendência populista para ganhar votos perto das eleições, mas uma pessoa fica envergonhada com esta mania que o mundo gira em torno de Portugal.
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