Há umas semanas, fiquei incrédula quando vi que há quem ache que a demissão de António Costa representa algum tipo de golpe judicial, como se ele tivesse sido forçado a demitir-se. Tenho uma opinião completamente contrária, pois o governo PS já teve bastantes escandâlos em que a demissão de António Costa era o mínimo esperado e, como nas outras vezes não se demitiu, é surpreendente que o tenha feito. Ou seja, o seu comportamente passado não dá credibilidade à ideia de que ele não tinha outra hipótese. Para mim é evidente que ele pretere os interesses do país aos próprios e do partido, logo a sua demissão deve ter sido motivada por algo que desconhecemos.
Galamba finalmente demitiu-se para que, logo a seguir, na Comunicação Social aparecessem conjecturas acerca da possibilidade de Pedro Nuno Santos o poder salvar. É como se alguém atirasse barro à parede para tirar a temperatura dos ânimos. Como é que alguém do calibre de Galamba chega onde está e lá fica tanto tempo, sem que sequer tenha o benefício da nossa ignorância acerca da sua incompetência? Podia-se invocar a lei dos grandes números, mas, num país tão pequeno, onde o PS já governa há tantos anos, talvez se deva cunhar a lei do pequeno número de amigos. Só que um Primeiro Ministro não pode ter amigos, dizia António Costa para se distanciar da pocilga política que criou. Fica a nota para quem vier a seguir.
Aqui na minha parte do mundo, as coisas estão curiosas. Os Democratas acham que a questão do aborto lhes dá apoio político, mas no meu caso--e note-se que eu não sou uma pessoa representativa do eleitorado americano--retira-lhes apoio. Como já aqui escrevi, sinto que a questão do aborto faz de nós mulheres reféns políticos, especialmente pelo partido Democrata. Não há nenhum assunto pertinente ao corpo dos homens que seja tão contencioso como a questão do aborto para as mulheres, logo a ideia da igualdade entre homens e mulheres está cada vez mais no reino da utopia.
Talvez num futuro próximo no qual a gestão de bebés possa ser feita fora do corpo das mulheres, o debate mude de figura, mas não sou tão optimista. O que penso estar a acontecer é uma reversão à média e, se formos a ver, historicamente, as mulheres nunca usufruiram verdadeiramente de igualdade e os períodos em que tiveram mais direitos nunca duraram muito.
Neste contexto, votar Democrata não ajuda as mulheres porque dá-se uma cheque em branco aos Democratas que eles usam noutros assuntos que não o do avanço das mulheres na sociedade. Depois há o facto curioso de a sociedade americana se tornar muito mais activa no sentido de preservar direitos quando os Republicanos estão na Presidência. Esta curiosidade não é única daqui porque, em Portugal, os governos de Direita também têm maior resistência da sociedade portuguesa do que os governos de Esquerda. Talvez a malta da Esquerda saiba resistir melhor do que os de Direita.
Finalmente, há a questão Israel-Gaza/Palestina. Neste conflito, a maior parte das vítimas são mulheres e crianças e os Estados Unidos não têm qualquer problema em enviar armas a Israel sem exigir que se salvaguardem as convenções internacionais que regem conflitos e os direitos humanos. Se Trump se comportasse assim, os americanos sairiam à rua. Há muitas mulheres americanas que estão contra Biden neste conflito, ou seja, o melhor dos cenários para os Democratas é Biden morrer antes das eleições. Se ele for a votos, perde com certeza mesmo contra Trump.
Enquanto escrevia este post, saiu a notícia de que Henry Kissinger morreu aos 100 anos. Pode-se não gostar do homem, mas tinha um calibre intelectual que hoje em dia raramente se encontra; se quiserem ler o seu pensamento, têm acesso a algumas entrevistas dele aqui. Em 2018, Kinssinger dizia ao FT "We are in a very, very grave period." Ainda estamos.
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