domingo, 26 de outubro de 2025

Há sempre os jacarés

Neste momento, os EUA são uma ditadura. O Presidentenão obedece a lei e não tem limites ao poder, pois o Congresso recusa-se a controlá-lo. O Supremo Tribunal de Justiça também lhe tem dado o benefício da dúvida e não censura as suas acções, pelo menos em primeira apreciação. Mas mesmo que censurase, nem ele, nem as pessoas que estão na administracão se preocupam em obecer à lei. ICE, a entidade que controla a imigração dos EUA, foi instruída para recolher toda a gente que possa ser um imigrante ilegal (gente "castanha"), mas cidadão americanos, alguns até veteranos militares, já foram apreendidos e passaram mais do que um dia na prisão. O Supremo Tribunal indicou que a apreensão de cidadãos americanos é permissível porque supostamente seriam libertados "prontamente"--o que é "prontamente", um dia, dois dias, uma semana?

A Administração indica que 400 mil imigrantes ilegais já foram deportados este ano. O que é ser imigrante ilegal? Há pessoas que estão legais nos EUA, que nunca estiveram ilegais, mas a quem a Administração retira o visto, logo passam a ilegais e são deportados. É normal, "agentes" da ICE irem a centros comerciais e prédios de apartamentos e apanharem pessoas, colocarem-nas num camião, por vezes um camião de mudanças alugado, sem atender à segurança durante o transporte de quem apreendem, e levarem-nas para prisões privadas, onde são mal alimentadas e não têm acesso a cuidados de saúde (um dos meus amigos em Houston foi deportado recentemente, e soube pela família que era acordado às 5h30 da manhã para tomar o pequeno almoço e depois tinha outra refeição às 15h, a comida era de má qualidade, e não davam água suficiente para o manter hidratado; apesar de ele ser diabético, não tinha acesso a insulina). Também ouvi relatos de que nem sempre são agentes da ICE, porque supostamente há um programa em que a administração paga $1.500 por pessoa apreendida que for entregue. O meu amigo, apesar de ilegal, pagava impostos, tinha comprado uma casa recentemente, e tinha iniciado o processo para se legalizar há anos.

O objectivo é deportar um milhão de pessoas até ao final do ano, logo o Presidente está prestes a substituir os reponsáveis pela ICE para acelerar o processo. Uma das pessoas próximas do Presidente (infelizmente chama-se Laura) até já sugeriu que há 6,6 milhões de jacarés com fome. (Ironicamente, sempre achei que o crime perfeito era ir à Louisiana ou à Florida e dar a vítima de comer ao jacarés--é no que dá ver documentários sobre gangs violentos).

Em algumas cidades, a Guarda Nacional foi acionada (já chegou a Memphis), supostamente para combater crime. A Guarda Nacional é uma força de reserva, muitos jovens inscrevem-se porque lhes pagam as propinas e taxas de frequentar a universidade; em troca esses jovem oferecem um fim-de semana por mês para se treinarem e, em caso de emergência, são activados. Normalmente, as emergências que os activam são prosaicas--um pós-furacão, tornado, ou inundação, mas também podem ser despoletadas para "manter a ordem". Depois há as forças militares propriamente ditas. O Secretário à frente do Departamento da Guerra, é o Pete do WhatsApp, aconselhou o topo das forças militares a tratarem o território nacional como treino para intervenções militares, ou seja, usarem força bruta.

Obviamente, parte da população está horrorizada e outra parte encantada com tal exibição de força. A marcha "Não há Reis" foi um sucesso, com 7 a 8 milhões de pessoas a participarem por todo o país. Foi este o tópico da conversa durante alguns dias até que o Presidente decidiu destruir a ala leste da Casa Branca e deixou-se de falar da marcha.

É imperativo que a Europa emita um alerta aos seus cidadãos: os EUA neste momento não são um país seguro onde viajar. As coisas estão a deteriorar-se muito rapidamente e os países europeus vão ter de decidir qual a melhor maneira de confrontar os EUA quando os seus cidadãos começarem a ser apreendidos. Notem que ser deportado pelos EUA não é trivial, o Supremo Tribunal autorizou que os EUA deportem pessoas para terceiros países e há acordos entre os americanos e alguns dos países mais inseguros do mundo (por exemplo, o Sudão do Sul) que permitem deportar pessoas para lá, independentemente de os países de origem destas pessoas se disponibilizares para os receber de volta--os americanos nem contactam os países de origem dos deportados. E há sempre os jacarés.

4 comentários:

  1. Alguma esperança com os dois dígitos de vantagem em NY

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    1. Nova Iorque e Califórnia são demasiado progressistas e o que funciona lá demora mais tempo a ser adoptado pelo resto do país. Eu diria que são líderes em ideias, mas a execução normalmente vem de alguém mais moderado de um estado que esteja na fronteira entre os dois partidos.

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  2. É imperativo que a Europa emita um alerta aos seus cidadãos: os EUA neste momento não são um país seguro onde viajar.

    Pfff... Isso já é verdade há montes de anos. Os EUA há décadas que não são um sítio recomendável para se ir.

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    1. Como mulher, sempre me senti mais segura nos EUA do que em Portugal. Aliás, nunca um homem português me socorreu quando em situações de apuros, enquanto que os homens americanos sempre me ajudaram ou perguntaram se eu queria ajuda.

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