Rui Ramos no seu último artigo no Expresso relembra que o discurso sobre a necessidade de reformas estruturais já tem em Portugal cerca de 30 anos – Mota Pinto terá sido o primeiro em 1984 a declarar a sua urgência. Foram prometidas e anunciadas por todos os governos mas desgraçadamente o problema nunca mais fica resolvido e o país continua a patinar ou, pior ainda, a andar para trás.
Rui Ramos acredita que pode ser desta que a coisa seconcretize. Não porque tenha uma fé especial neste governo ou no PSD. Pelo contrário. Não se pode esperar dos principais beneficiários do regime qualquer mudança que ponha em causa ou diminua o seu poder – e as reformas necessárias passam precisamente por aí: tirar poder ao Estado, ou melhor, aos agentes dos partidos -, aliás, como seria de esperar, o assalto ao Estado pelos boys do PSD já começou em força e de forma cada vez mais despudorada.
Rui Ramos vê na falta de dinheiro uma oportunidade para forçar a mudança. Muito bem. É todavia preocupante verificar a ausência, por parte do governo, de um pensamento estruturado sobre o sentido e o alcance das tais reformas estruturais. O que temos visto até ao momento é um exercício político pragmático, feito em cima do joelho como resposta a situações de emergência e às exigências da Troika. Mas as respostas surgem aparentemente isoladas e sem coerência. Para onde nos querem levar? Acho que ainda ninguém percebeu bem. O problema é que provavelmente o governo também não.
Nada de novo. Em Portugal sempre foi assim. Primeiro conquista-se o poder, depois fazem-se as reformas em cima dos acontecimentos e, no fim, é que aparecem, às três pancadas, a teoria e as explicações. Há quem chame a isto pragmatismo. A mim parece-me mais a inversão do processo normal e, se calhar, uma das razões para estarmos onde estamos.
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