sábado, 1 de dezembro de 2012

Cartas transatlânticas

Ontem ou anteontem, já não me recordo, li um excelente artigo teu no blogue sobre o livro de papel e a sua substituição pelos novos meios tecnológicos. Concordo plenamente contigo, pois, como muito bem sabes, e apesar da minha provecta idade, sempre fui um entusiasta das novas tecnologias no que toca à leitura e à escrita. Já não consigo imaginar ver-me a escrever à mão em suporte de papel. Quanto à leitura, também verifico que se torna mais entusiasmante e, se não existe o cheiro ao papel e à tinta (antigamente dizia-se ou escrevia-se: tenho nas mãos um livro acabado de sair do prelo, as páginas ainda meio húmidas a cheirar à tinta da impressão...), se não há aroma, existe espanto, o espanto de levarmos no bolso uma biblioteca inteira... Aquando da vulgarização dos computadores nos anos oitenta do século passado, adquiri um, de mesa, Schneider de sua graça, que, apesar de pré-histórico (não tinha disco duro nem as funções que os actuais têm, tudo se fazia com põe disquete, tira disquete e daí os muitos enganos), me poupou muito tempo e papel, pese embora ter-me dado grandes desgostos por inépcia da minha parte: perdia textos, esquecia-me de os "salvar" e, ao abrir a máquina no dia seguinte, verificava, desconsolado e raivoso, que desaparecera o que tinha escrito, com tanto suor, na véspera. Nesse tempo, como tinha ainda a memória intacta, não me era difícil reconstituir o texto perdido, pois, como sabes, tudo quanto escrevo me sai a conta-gotas, palavra por palavra, e era fácil ficar com tudo discado na memória. O mesmo acontecia quando a electricidade se ia com o vento, o que era frequente no alto em que morávamos. Deixei, por outro lado, de ter o cesto de papéis a abarrotar com as inúmeras folhas de papel que ia deitando fora à medida que ia corrigindo, porquanto não suportava, nem suporto, ver emendas no papel, o que me levava a escrever tudo de novo, em página limpa, até à altura em que me surgia outra correcção e a dobadoira recomeçava, e os papéis se rasgavam, e o caixote se ia enchendo, até ao cimo da paciência... Ainda hoje tenho o hábito de gravar, quase linha a linha, o texto que tenho entre dedo (escrevo só com o indicador direito), resquícios do tempo em que tudo desaparecia por encanto! Por isso, gosto muito do computador moderno (parece o final de uma redacção da escola se, nesse tempo, já existissem tais máquinas endiabradas...), sobretudo do portátil, maneirinho, que me acompanha para todo o lado como cachorro fiel e que me guarda tudo e nunca se aborrece se desloco uma frase ou uma parte do texto do fim para o início ou vice-versa... Depois é muito limpo, deixa-me a página tal qual como se não tivesse caído um borrão de tinta de escrever sobre o papel de prova, o que dava pano para muita manga e palmatoada!

Aqui pelo Canadá já chegou a neve.

4 comentários:

  1. Gostei muito deste seu texto Cristóvão. E gostaria também de ler sobre a sua experiência com o kindle. um abraço do Atlântico Leste.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Nope. Era um Timex 2068, com cartridge. Era 99% compatível com o mais famoso ZX spectrum.

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