quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Factos sobre o crescimento do sector não transacionável


"Numa altura em que urge criar riqueza no país e gerar novas bases de crescimento económico, é necessário olhar para o que esquecemos nas últimas décadas e ultrapassar os estigmas que nos afastaram do mar, da agricultura e até da indústria, com vista a produzirmos, em maior gama e quantidade, produtos e serviços que possam ser dirigidos aos mercados externos." 
 Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República
21 de novembro de 2012, citado no Expresso online.

Num trabalho em co-autoria com o Pedro Bação analisamos a evolução dos sectores não transacionáveis na economia portuguesa. Destacamos os seguintes factos:

1. O padrão de crescimento dos sectores não transacionáveis na economia portuguesa foi semelhante ao observado noutros países desenvolvidos. No entanto, desde o início dos anos 1990, o crescimento desses sectores foi significativamente mais forte do que nos outros países. 
2. A expansão dos sectores não transacionáveis tem sido muito rápida, tendo ocorrido à custa do sector agrícola no período 1953-95, e à custa da indústria no período 1995-2009.
3. Em 2009, os sectores não transacionáveis (definidos como a soma da construção e serviços) representavam 68% do Valor Acrescentado Bruto total, excluindo os sectores dos serviços expostos à concorrência internacional, e 81,1% daquele valor, considerando todos os serviços como não transacionáveis.
4. Mais de 50% do aumento do peso dos sectores não transacionáveis, no período desde a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, ocorreu nos anos 1988-1993.
5. Desde 1986, o sector da construção e os serviços sujeitos a uma forte procura pelo Estado (educação e saúde, por exemplo) foram os principais motores do aumento do peso dos sectores não transacionáveis na economia portuguesa.

9 comentários:

  1. muito interssante.
    uma nota:
    "2. A expansão dos sectores não transacionáveis tem sido muito rápida, tendo ocorrido à custa do sector agrícola no período 1953-95, e à custa da indústria no período 1995-2009."
    Não é líquido que o crescimento dos serviços no primeiro período se tenha feito à custa da agricultura. As transições entre actividades ou estados perante o trabalho podem ter ocorrido de forma mais complexa. Por exemplo, pode ter havido uma transição da agricultura para a inactividade dos mais velhos e entrada de jovens activos directamente para os serviços. Ou então fluxos tipo agricultura - indústria e indústria-serviços.

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  2. Tens razão - transferência também para a construção; diminuição por emigração.Mas como nós dizemos a dada altura do texto a transferência entre sectores, sobretudo desde finais da década de 80 carece de uma análise mais detalhada: para que serviços foram as pessoas que perderam o emprego na indústria? isto é tanto mais importante que hoje falamos na necessidade de transferir recursos de secotres não transacionáveis para sectores transacionáveis. Os QPs podem aqui dar importantes insights.

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  3. Mas o facto que eu acho mais interessante, de diversos pontos de vista, é o aumento registado no peso dos não transacionáveis no período 1988-1993. O próximo paper dá respostas a isso...

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  4. de facto, no quadro da globalização, foi (é) uma bela receita para a desgraça

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  5. Ouviste, Aníbal? Acho que a boca era para ti...

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  6. Um comentyário, não ao vosso trabalho, mas ao Cavaco Silva - se o que tivesse afastado as pessoas da pesca, da agricultura e da industria fosse "estigmas" (isto é, fosse um processo da lado da oferta - as pessoas não gostarem de trabalhar/investir nesses sectores) isso em principio teria levado a que os preços tivessem subido nesses sectores comparativamente aos serviços. Na realidade, penso que a evolução dos preços foi ao contrário.

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    1. Miguel, não percebo exactamente onde queres chegar com o teu comentário, mas eu diria que na Europa tudo o que tenha a ver com agricultura e pescas é tão influenciado pelas políticas económicas europeias para o sector que, dificilmente, raciocínios de mercado, como o que estás a fazer, têm grande aplicabilidade.

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  7. por essa razão, a da regulamentação, muitas classificações incluem a agricultura e pescas nos bens não transaccionáveis. as regulações e subsídios também justificam que os preços não reflictam as condições de procura e oferta do mercado.
    As causas do afastamento daqueles sectores é o que estamos a analisar noutro artigo.

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