Segundo
consta, saíram notícias em dois jornais dando conta da alegada intenção do primeiro-ministro
em se demitir no caso de serem declarados inconstitucionais alguns dos artigos do orçamento. Ontem, o primeiro-ministro chamou a atenção para as
responsabilidades do TC e para os efeitos das decisões dos juízes do Palácio Ratton.
De acordo com uma teoria estapafúrdia que por aí se inventou, isto é uma
pressão intolerável do governo, que se deve remeter ao silêncio sobre o assunto.
Por que carga de água deve o governo estar calado? Onde é que está escrita essa
obrigação? Por acaso também é inconstitucional o governo expor publicamente os
seus argumentos e alertar para as consequências das decisões dos juízes? O erro
crasso do governo foi ter ido nessa conversa sem sentido. Era o que mais
faltava o governo não ter o direito de se exprimir, só porque isso pode
perturbar as cogitações dos senhores juízes, que, coitadinhos, podem ser muito
sensíveis. O governo não só pode como deve chamar a atenção dos portugueses
para o que está em jogo. A decisão dos juízes é apenas uma interpretação da
Constituição, que não deve ser alheia à realidade do país, não é nenhuma
revelação do Espírito Santo.
Um blogue de tip@s que percebem montes de Economia, Estatística, História, Filosofia, Cinema, Roupa Interior Feminina, Literatura, Laser Alexandrite, Religião, Pontes, Educação, Direito e Constituições. Numa palavra, holísticos.
sexta-feira, 29 de março de 2013
quinta-feira, 28 de março de 2013
Um homem muito sobrestimado
Compreendo
a excitação à volta do “fim do silêncio” de Sócrates. A entrevista foi um
regresso ao passado, o homem está na mesma, a mesma agressividade, a mesma má-educação,
a mesma “narrativa” (estava tudo a correr sobre rodas até a oposição chumbar o
PEC IV e nos atirar para os braços da troika), a mesma manipulação dos números
(o José Gomes Ferreira explicou bem, por exemplo, os relativos à dívida pública),
enfim, não vale a pena perder tempo a analisar as palavras do homem agora que
ele decidiu “tomar a palavra”. O que me espanta são os dons que os comentadores insistem
em atribuir-lhe. Ele é carisma, ele é dotes comunicacionais, ele é “star
quality”, ele é capacidade e inteligência política, etc. Um exagero.
Especula-se sobre os "efeitos Sócrates” no governo, no país, no PS e no diabo a
quatro. Sócrates é um político muito sobrestimado. Ou muito me engano ou a
audiência dos seus programas na RTP vai ser um fiasco - tirando talvez a fase inicial. Sócrates não vai agitar coisa
nenhuma, essa agitação só existe na cabeça de jornalistas, comentadores e
políticos.
terça-feira, 26 de março de 2013
O crime e o ciclo económico
Isto não pretende ser uma resposta à entrada anterior do Zé Carlos, até porque eu faço parte daqueles que acha que um gráfico com duas linhas não prova absolutamente nada. Fica aqui, apenas como forma de pequena provocação.
Fonte: Richard Rosenfeld (ex-presidente da American Society of Criminology e académico com dezenas de artigos sobre criminalidade) |
A criminalidade aumenta com a crise?
Há uns tempos escrevi num comentário no FB que achava ofensivo para os
pobres associar maior pobreza a maior criminalidade. O LAC, simpática e
pacientemente, lá me tentou explicar que havia dezenas ou centenas de estudos
académicos que demostravam que nos períodos de maior crise económica os crimes
aumentavam, em especial os de natureza violenta. Acrescentava ainda que a
questão não era associar pobres e criminalidade mas sim o facto de a mesma
pessoa, à medida que empobrecia, revelar maior apetência ou propensão para o crime. Daqui
se devia inferir (penso eu) que, como há um empobrecimento geral em Portugal,
seria de esperar uma maior tendência para todo o tipo de crimes. Todavia, não é
para isso que aponta o recente Relatório Anual de Segurança Interna: “A
criminalidade geral participada à Polícia Judiciária (PJ), à PSP e à GNR baixou
2,3% em 2012 face ao ano anterior e a criminalidade violenta e grave desceu
ainda mais, com menos 7,8% de participações às polícias.” (Público)
Haverá com certeza pessoas que, em horas
de desespero, sem dinheiro para os compromissos assumidos ou até para comer,
são capazes de desatar aos tiros e assaltar supermercados e joalharias. Felizmente,
parecem ser uma minoria, insuficiente para se fazerem generalizações abusivas.
Algo vai mal no reino da Holanda
Um amigo chamou-me a atenção para
este vídeo, passado na televisão Dutch Nederland 2, a 17 de Fevereiro. Vêem-se jovens
muçulmanos, de origem turca, mas de nacionalidade holandesa, a elogiarem
Hitler, lamentando que o ditador não tivesse matado os judeus todos. Durante
nove dias praticamente ninguém reagiu na Holanda a esta exibição grotesca de
racismo. E esta passividade da opinião pública choca tanto como o vídeo. Imagine-se
agora que jovens holandeses (nem quero imaginar se fossem judeus) faziam
declarações deste teor sobre os muçulmanos e o islamismo. Haveria com certeza
manifestações de grande indignação e violência, ameaças de morte, e
esquerdistas eminentes marchariam solidariamente ao seu lado. Algo vai mal no
reino da Holanda. E este vídeo, como se pode ler no texto que o acompanha, é
apenas a ponta do icebergue.
segunda-feira, 25 de março de 2013
Os três principais problemas
Leio
algures que os três principais problemas de Espanha são: dívida impagável,
Estado insustentável e sistema político obsoleto. Salvo as devidas diferenças,
estes são também os principais problemas de Portugal e, já agora, da Grécia, da
Itália e, porque não?, da França. A solução de cada um destes problemas implica a solução
dos outros, isto anda tudo ligado.
domingo, 24 de março de 2013
Falsidades transformadas em dogmas
Duas falsidades (ou factos não verificados) transformadas em dogmas: a recente geração é a mais qualificada de sempre - confundindo-se percentagem de canudos com conhecimento; as mulheres, para as mesmas funções, ganham menos do que os homens. Este autor refere-se ao caso espanhol, mas o caso português não deve ser muito diferente.
Um problema de mentalidade
Enquanto
via o jogo miserável de Portugal com Israel, lembrei-me de uma entrevista de Stan
Valckx dada há cerca de 20 anos. O holandês foi um dos últimos grandes centrais
do Sporting (1992-95). Um dia acusou, de forma polémica, os seus colegas
portugueses de equipa de falta de profissionalismo. Valckx dizia jogar sempre da
mesma maneira, tanto lhe dava jogar com o Real Madrid ou com o último
classificado da distrital, dava sempre o litro. Ao contrário, os jogadores
portugueses jogavam de forma displicente com adversários teoricamente mais
fracos, o que Valckx considerava ser uma falta de respeito pelo adversário e,
sobretudo, uma falta de profissionalismo. Nada mudou em 20 anos neste capítulo.
É um problema de mentalidade, como disse Paulo Bento.
quinta-feira, 21 de março de 2013
Dresden 1945: uma cidade de mortos
Em
1942 a Alemanha começava a pagar um preço terrível, colhendo a tempestade que
semeara, ainda antes da guerra, com o bombardeamento desapiedado de Guernica em
1937, e, depois da guerra começar, nos ataques implacáveis a Varsóvia,
Roterdão, Coventry e zonas densamente povoadas de Londres.
Até
ao final da Guerra, nenhuma cidade ou vila alemã de qualquer dimensão
conseguira escapar completamente aos horrores das campanhas de bombardeamento
dos Aliados. Não sem razão, Goebbels falou de uma política de “bombardeamento
de terror deliberado de grandes centros populacionais alemães”. De facto, entre
1943 e 1944, de forma contínua e repetidamente, foram bombardeadas as cidades
de Colónia, Essen, Dortmund, Kassel, Darmstadt, Heilbronn, Estugarda,
Nuremberga, Munique, Berlim. Em Julho de 1943, num ataque especialmente
terrível e devastador a Hamburgo, cerca de 43 mil pessoas morreram consumidas
num mar de chamas.
Entre
todas as cidades massacradas pelos Aliados, Dresden tornou-se o
símbolo por excelência dos bombardeamentos de guerra. Em 13 e 14 de Fevereiro
de 1945, os aliados arrasaram impiedosamente o belo centro histórico de
Dresden, uma cidade conhecida, devido à sua glória cultural, de Florença do
Elba. O duplo ataque - primeiro dos britânicos, depois dos americanos -,
incendiário e explosivo, provocou uma autêntica tempestade de fogo que
transformou a cidade antiga num verdadeiro inferno. As fontes mais fidedignas
falam em 25 mil mortos. De uma realidade já horrível, Goebbels criou um mito
mais horrível e duradouro, inventando um número de 250 mil mortos. Os nazis
sublinhavam a necessidade de continuar a lutar. Em vão. A quantidade de vítimas
e a destruição de uma cidade de beleza singular chocou profunda e
duradouramente os alemães. A brutalidade do ataque dissipou todas as dúvidas: o
fim da guerra estava à vista.
Fantasias
Com certeza por preconceito meu, nunca li
os best sellers do momento. Nunca abri um livro do José Rodrigues dos Santos,
nunca li uma página dos aclamados romances do Miguel Sousa Tavares, nunca li o
“Código da Vinci” do Dan não sei das quantas, acho que nunca peguei num livro
do Paulo Coelho. Eu sei, eu sei, a falha é minha. No outro dia, ao folhear a
revista Sábado, deparei-me com um artigo intitulado, salvo erro, “As fantasias
sexuais das mulheres”. Mulheres dos 30 aos 50 anos, casadas, mães, divorciadas,
solteiras falavam com grande entusiasmo do best seller do momento, refiro-me,
claro, às “Cinquenta Sombras de Grey” da escritora britânica E. L. James.
Fiquei curioso. O livro parecia funcionar como uma espécie de revelação. Por
exemplo, uma dessas senhoras, de 38 anos, casada, um filho, gestora de sucesso,
resignada à regularidade do “sábado à noite”, encheu-se de repente de desejos
após a leitura do livro. Estava em Milão aquando da revelação e, confessa, desejava
ardentemente muitos dos homens com quem se cruzava na rua. Pois bem, pus-me a
ler o dito cujo a ver se percebia (e aprendia) alguma coisa.
Anastasia Steele, uma jovem de 21 anos,
morena, virgem (pormenor importante), prestes a acabar o curso, desajeitada,
insegura mas, claro, gira, conhece o misterioso e intrigante Christian Grey, um
jovem empresário bilionário de Seattle, “super bonito”, cabelos pretos, alto,
ombros largos, ancas estreitas, pernas compridas e musculadas, abdominais
proeminentes (este é, como sabemos, o ideal de beleza masculino do momento, ou
melhor, o ideal de beleza masculino de todos os tempos, sim, a magreza
masculina foi uma moda fugaz, condenada a durar pouco tempo porque contrariava
os “fundamentais da natureza”). E a pobre Anastasia, conduzida pelo atormentado
e dominador Grey, descobre prazeres que nunca imaginou sequer serem possíveis,
nas mais variadas posições, com os mais variados objectos e nos mais variados
lugares, enfim, 547 páginas com muitas instruções e muitos orgasmos pelo meio. Vou a meio do livro
e já começo a ficar cansado, acho que não vou conseguir chegar ao fim - ah, é
verdade, e este é o primeiro de uma trilogia, é dose…
Chicotada psicológica
Ao
contrário do que alguns dizem, um bom treinador não precisa de tempo para
implantar o seu sistema de jogo porque o que caracteriza um bom treinador é
precisamente o ser capaz de montar uma equipa eficaz em pouco tempo – Mourinho
fala num mês. Lembro-me de Hernâni Lopes ter um dia afirmado que se ao fim de
18 meses não se virem os resultados de um programa de ajustamento é porque este
falhou, e o homem sabia do que falava uma vez que conduziu com êxito as
operações na anterior intervenção do FMI em Portugal (1983-1984). Este governo
já leva 21 meses no activo e, fora a redução do défice externo (resultante em
grande parte da contração da procura interna), os resultados não aparecem. Pelo
contrário: está tudo pior. É o memorando da troika que está mal desenhado, como
agora se desculpa o governo? Ou foi o governo que aplicou mal o
memorando, como sugere a troika? Seja como for, Vítor Gaspar falhou.
terça-feira, 19 de março de 2013
Pais incógnitos
Queridos leitores com descendência desconhecida. Em nome dos vossos filhos, desejo-vos um bom dia do pai.
sábado, 9 de março de 2013
New Orleans pela tarde
Depois do passeio
matinal, a tarde revelou uma cidade diferente. Antes escrevi que a minha
primeira impressão de Nova Orleães era de que, para minha enorme surpresa, se
tratava de uma cidade triste. Como seria de esperar, era impossível estar mais
errado.
Quem espera passear pelo French Quarter e encontrar uma série de pretendentes a artistas a cantar, tocar e dançar pelas ruas acerta em cheio. E isso foi logo pelo início da tarde. Encontrei vários quarteirões com o trânsito cortado que são o palco para dezenas de músicos espalhados pelas ruas. O comércio é surpreendente. Muitas lojas de antiguidades, joalharias tradicionais e, claro, muitas casas de arte.
Quem espera passear pelo French Quarter e encontrar uma série de pretendentes a artistas a cantar, tocar e dançar pelas ruas acerta em cheio. E isso foi logo pelo início da tarde. Encontrei vários quarteirões com o trânsito cortado que são o palco para dezenas de músicos espalhados pelas ruas. O comércio é surpreendente. Muitas lojas de antiguidades, joalharias tradicionais e, claro, muitas casas de arte.
Procurava eu um sítio onde almoçar que ficasse perto de uma dessas bandas de rua quando me apercebi que a melhor solução estava mesmo na rua. Comprei uma dose de sushi numa mercearia (‘Cajun sushi’, dizia o rótulo) e sentei-me no passeio a ver a banda tocar. Comer com dois pauzinhos é muito útil numa situação como esta. Uma das mãos segura o prato, a outra segura os pauzinhos. Com garfo e faca seria muito mais difícil.
Não foi o melhor sushi que comi mas foi, de longe, o
mais animado e musical. E deve ter sido a refeição mais barata que tive na vida
com música ao vivo. Continuando a andar pelo bairro francês, percebe-se por que
raio era tão triste pela manhã: estavam todos na cama de ressaca. Vemos bêbados, ouvimos bandas dentro de bares e restaurantes, reparamos em pintores
pelas ruas e, claro, chamam atenção os clubes nocturnos bem abertos de dia, com meninas de bikini à porta
convidando-nos para entrar.
New Orleans pela manhã
Passei a manhã a passear pelas margens do Mississippi. Não é o Tejo, nem o Douro, nem, muito menos, o Mondego. Mas foi por este rio que o escravo Jim e o seu amigo Huck Finn fugiram. Durante o dia, ou pelo menos durante a manhã, Nova Orleães é uma cidade triste. Mas, quem sabe, pode ser que à noite me cruze com Louis Armstrong.