Compreendo
a excitação à volta do “fim do silêncio” de Sócrates. A entrevista foi um
regresso ao passado, o homem está na mesma, a mesma agressividade, a mesma má-educação,
a mesma “narrativa” (estava tudo a correr sobre rodas até a oposição chumbar o
PEC IV e nos atirar para os braços da troika), a mesma manipulação dos números
(o José Gomes Ferreira explicou bem, por exemplo, os relativos à dívida pública),
enfim, não vale a pena perder tempo a analisar as palavras do homem agora que
ele decidiu “tomar a palavra”. O que me espanta são os dons que os comentadores insistem
em atribuir-lhe. Ele é carisma, ele é dotes comunicacionais, ele é “star
quality”, ele é capacidade e inteligência política, etc. Um exagero.
Especula-se sobre os "efeitos Sócrates” no governo, no país, no PS e no diabo a
quatro. Sócrates é um político muito sobrestimado. Ou muito me engano ou a
audiência dos seus programas na RTP vai ser um fiasco - tirando talvez a fase inicial. Sócrates não vai agitar coisa
nenhuma, essa agitação só existe na cabeça de jornalistas, comentadores e
políticos.
É possível que ele seja de facto sobrevalorizado. Mas tente perceber as razões olhando para o seus dois sucessores, no governo e no PS. Conhece alguém que até hoje tenha sido capaz de defender - sem se rir - que eles têm "dotes comunicacionais, star quality, capacidade e inteligência política"? Os mais esforçados - e interessados - apelam a coisas como ''boas intenções'', ''sinceridade'', "simpatia pessoal" e outras patetices do género. Por exemplo, o grupo cada vez mais restrito de defensores do governo só admira e elogia verdadeiramente Vítor Gaspar, pela razão muito simples de que só ele é que é capaz de pensar e se expressar com clareza no meio daquela gente. Eu não vi a entrevista de Sócrates mas não tenho a menor dúvida de que foi pelo menos capaz de comunicar, coisa que o Passos daqueles divagações surreais na Assembleia cada vez menos consegue. E isso faz toda a diferença.
ResponderEliminarSaudações,
André
Compreendo os argumentos: por comparação com os actuais príncipes corremos o risco de Sócrates qualquer dia parecer um estadista. Convém contudo relembrar alguns pormenores. O poder caiu nas mãos de Sócrates sem que este antes tenha dado quaisquer provas como líder da oposição, saltou quase directamente de secretário-geral do PS para primeiro-ministro e tenho as mais sérias dúvidas de que tivesse cumprido bem aquele papel, porque ele gosta é de exercer o poder, à bruta. Sobre os “grandes dotes comunicacionais” do senhor só lembro a sova que apanhou no último debate com Passos Coelho, o tal que, ainda por cima, é muito fraquinho como comunicador – e era um debate decisivo para Sócrates que, na altura, aparecia muito atrás nas sondagens.
ResponderEliminarSaudações
Zé Carlos