Começo por dizer que nada
me ligava a António Borges. Do seu passado, pouco conhecia. Das suas
intervenções públicas recentes, apenas retenho o que defendeu sobre a TSU e,
como é sabido, fui das pessoas que mais se esforçaram por mostrar que ele estava
errado. Pelo que li a seu respeito, parece-me que dizer que ele era um dos mais
brilhantes economistas de sempre é manifestamente exagerado. Ele foi director do
INSEAD — pelos vistos um brilhante director — fez uma carreira assinalável no
FMI, na Goldman Sachs, entre outros. Estes dados permitem-me a dizer que ele
foi um gestor notável com uma carreira internacional brilhante. Mas não há
registos escritos relevantes sobre o seu pensamento económico ou sobre a economia
portuguesa, por isso não considero que se possa dizer que é um dos mais brilhantes
economistas de sempre. Dito isto, algumas reacções à morte de António Borges são
absolutamente disparatadas.
Dizer-se que morreu um
homem que lutou para que os salários baixassem é, simplesmente, não se fazer o
mínimo esforço para o entender. E na verdade é simples, António Borges
acreditava que só uma descida de salários podia evitar o disparar do
desemprego. Podia estar errado, mas era nisto que acreditava. Com toda a
certeza que Carvalho da Silva, ou Francisco Louçã, ou Tozé Seguro se indignariam
se os acusassem de lutar para que o desemprego aumente. A acusação seria absurda.
Quando estas pessoas defendem a subida dos salários mínimos (ou um mercado de
trabalho mais rígido) não o defendem com o objectivo de que o desemprego
aumente. Defendem-no porque acreditam que o desemprego não é (muito)
influenciado por estas restrições legais. Da mesma forma, quando António Borges
defendia que os salários deviam baixar, não o defendia porque quisesse que os
salários baixassem. Na sua cabeça, esta era a melhor forma de evitar que o
desemprego disparasse. Adicionalmente, na sua cabeça, o aumento do desemprego leva
inevitavelmente a uma queda dos salários. Assim, ao defender uma maior
flexibilidade salarial, pretendia apenas evitar os custos do desemprego.
O modelo económico de Borges pode estar certo ou
errado. Tal como o de Louçã e Carvalho da Silva. A partir daí, não é lícito
fazer julgamentos morais, muito menos linchamentos morais.
Muito bem. Abraço e continuação de bons posts.
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