Há dois dias, a propósito da presidente do Conselho Científico das Ciências Sociais e Humanidades, Eugénia da Cunha, escrevi uma piada despretensiosa. Basicamente, há muita gente a queixar-se que a nova presidente se especializou em Antropologia Forense, dedicando-se a estudar ossadas. Tendo seguido há uns anos uma série policial em que a actriz principal é, ela própria, uma antropóloga forense, a piada era fácil e inevitável. Apercebi-me, graças a algumas reacções nos blogues e no facebook, que a piada foi interpretada como uma crítica à nova presidente. É uma interpretação errada. Como não conhecia a senhora, e para não ser injusto, fui agora procurar saber um pouco mais sobre ela.
A verdade é que a minha piada era uma caricatura, mas, afinal, uma caricatura nada ridícula. Graças a Paulo Guinote, descobri uma conferência proferida por Eugénia da Cunha. Nela podemos ver Eugénia a falar nos ferimentos dos guerreiros de séculos passados, mas também de como os ossos são importantes para identificar crimes contra a humanidade actuais, dando mesmo como exemplo um trabalho de reconhecimento de um cadáver numa vala comum em Timor-Leste. Apenas consigo descrever este tipo de investigação como fascinante.
Lembram-se de há uns tempos haver uns historiadores que pretendiam abrir o túmulo de Afonso Henriques? Queriam estudar as suas ossadas e verificar a veracidade de alguns “factos” da História do nosso primeiro rei. Na altura, à última da hora, os trabalhos foram impedidos por ordem do governo central. Era a Eugénia da Cunha a responsável por esse trabalho interrompido sem que nunca fosse bem explicado porquê.
Disto tudo concluo que Eugénia da Cunha, que é professora catedrática na Universidade de Coimbra, é uma verdadeira investigadora na área das ciências sociais e humanas. O que há de mais social e humano do que andar a investigar crimes contra a humanidade e a estudar a História dos nossos reis. Assim, as críticas quanto à sua escolha para presidente do Conselho, argumentando que ela é de uma área científica estranha ao cargo que desempenha, são totalmente absurdas.
Fui também ver o curriculum científico de Eugénia da Cunha. Encontrei uma pessoa que já escreveu alguns livros, quer científicos quer de divulgação, o que é importante, mas, adicionalmente, encontrei também vários artigos científicos publicados em excelentes revistas científicas, sendo algumas delas revistas de referência nas suas áreas. Alguém que tem publicações regulares em revistas como Current Biology, Journal of Human Evolution, American Journal of Physical Anthropology, Journal of Forensic Sciences, International Journal of Legal Medicine, entre outras tem de ser um bom investigador.
Concluindo, não conhecendo a Eugénia da Cunha pessoalmente, tenho a dizer que, em termos científicos, é uma escolha muita acertada para o cargo.
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