Em 2002, o meu orientador de doutoramento, Yi Wen, hoje a trabalhar na Reserva Federal Norte-Americana, calculou o impacto do Natal nas flutuações económicas. De acordo com Yi Wen, devido à aproximação do Natal, no último trimestre de cada ano o PIB de um país cresce à taxa 19%, para no primeiro trimestre do ano subsequente, cair 30%. Depois de contas bastante elaboradas e, confesso, difíceis de entender, Yi Wen estimou que cerca de 50% das flutuações económicas observadas são consequência do Natal.
Por esta época, todos, ou quase todos, nos dedicamos às compras de Natal. Há prendas que compramos por gosto, outras por obrigação ou reciprocidade. De 24 para 25 de Dezembro, os nossos esforços serão premiados recebendo prendas absolutamente inúteis. Vingamo-nos observando as faces de mal fingida alegria que as nossas prendas geram.
De acordo com a teoria económica “standard”, a melhor prenda que eu posso dar a alguém é um cheque, que depois essa pessoa gastará como entender. A não ser que estejamos perfeitamente informados sobre as preferências da outra pessoa, dificilmente daremos tão bom uso ao dinheiro da prenda. Baseado nesta ideia, Joel Waldfogel, professor de Economia na Universidade de Pensilvânia, tentou calcular o que chamou o “peso morto do Natal”. Joel Waldfogel fez um inquérito aos seus alunos perguntando-lhes quanto estariam dispostos a pagar pelas ofertas que receberam. Concluiu que, em regra, o valor atribuído a cada prenda era sensivelmente mais baixo do que o seu preço. A isto chama-se desperdício. Este desperdício era particularmente elevado com as prendas que os avós dão aos netos. Extrapolando os seus resultados para a economia americana, Joel Waldfogel concluiu que o peso morto do Natal andava algures entre os 4 e os 12 mil milhões de dólares.
Sei o que o leitor está a pensar, os economistas nem o espírito do Natal deixam em paz. Mas, sendo tão ineficiente, por que trocamos prendas? A resposta a esta pergunta tem dividido os cientistas sociais. Os economistas, como gostam de assumir que cada indivíduo é racional e egoísta, dificilmente encontram utilidade nas prendas. Por outro lado, mesmo assumindo algum altruísmo, a racionalidade sugere que as prendas sejam dadas em dinheiro. Como muitas vezes acontece, a realidade desmente os economistas: 90% das prendas são em géneros.
Claro que os economistas encontram justificações para todos os gostos. Alguns argumentam que oferecemos prendas para receber favores em troca. Vêem as prendas como um investimento no futuro. De acordo com esta perspectiva, quanto mais ineficiente e inútil é uma prenda, maior é a garantia de que estamos dispostos a investir numa relação futura. Ou seja, quanto maior o diamante do anel de noivado, maior o nosso amor. Há também os que têm uma visão paternalista e que argumentam que damos as prendas que consideramos melhores e não necessariamente aquelas que serão as mais apreciadas. Será o caso de uma mãe que oferece um livro clássico ao filho em vez do último jogo da “Play Station”.
Enfim, não deixe que nós, os economistas, lhe estraguemos o Natal. Nunca fomos grande coisa a lidar com emoções. Além disso, há altruísmos que dificilmente são explicados racionalmente. É o caso da autora do blogue Kassumai [http://www.kasumai.blogspot.com], que juntou pessoas em torno de um projecto, “Um Sorriso para a Guiné”, com o simples objectivo de recolher e enviar brinquedos e livros para o Natal das crianças da Guiné-Bissau. São estas pessoas que nos devolvem o sorriso pelo Natal.
* Publicado originariamente no Suplemento de Economia do Público em Dezembro de 2007 e republicado hoje a pedido de muitas famílias. Para ser sincero, foi só uma pessoa que pediu...
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