terça-feira, 13 de janeiro de 2015

11 de Setembro, 11 de Março, 7 de Julho e 7 de Janeiro

Defendi a minha tese de mestrado em 18 de Dezembro de 2000. Na Faculdade de Economia da Universidade do Porto. A seguir à defesa, segui para o meu gabinete na Universidade do Minho. Tinha dezenas de candidaturas para preencher. Candidatei-me vários programas de doutoramento nos Estados Unidos. No dia 1 de Abril de 2001, envio um e-mail à Cornell, aceitando a proposta que me faziam. Meia dúzia de dias depois, recebo um e-mail da New York University. O sonho de viver em Nova Iorque estava ali. Tinha de escolher entre a Cornell e Nova Iorque. A escolha profissional mais difícil que alguma vez fiz. Não só ao nível académico, a Cornell excedeu as minhas expectativas.

Em 1 de Agosto, venho para os EUA. A Sandra veio comigo. Veio trazer-me à escola. Aterrámos em Boston. Fomos uns dias a Bristol, Rhode Island, visitar a família paterna. Também fomos uns dias a Nova Iorque. Ficámos no Mayfair Hotel. Na rua 49, ali com a Broadway ao lado. Nos dias em que ficámos, andámos. Muito. Pelo Central Park, pelos museus, pelas ruas. Pequenos-almoços sempre no Dunkin' Donuts. Nas Nações Unidas sentimos a solenidade do local. Na Broadway, vimos o "Cabaret" com a Brooke Shields.

Não subimos ao Empire State Building. As bichas eram enormes. A desforra seria nas torres gémeas. A caminho delas, parámos na NYU para sentir saudades do que tinha recusado. Chegados ao World Trade Center, enfrentámos a multidão. Queríamos subir. Subir até lá acima. À entrada para o elevador, descobrimos que tínhamos esgotado o rolo fotográfico. Voltámos para trás, comprámos um rolo, mas já não houve paciência para enfrentar de novo as intermináveis filas. Ficaria para uma próxima vez.

Voltámos a Bristol, onde encontrámos o meu irmão. O Artur vinha de férias com a minha recém-cunhada, Catarina. Tinham alugado um carro e trouxeram-nos a Ithaca. 

No primeiro dia, eu e a Sandra vagueámos pela Cornell. Passeámos, vimos o ambiente. Olhávamos para cada lunático com respeito. Algum cientista maluco, com certeza. Lembrei-me de, em pequeno, passear, com o meu tio Artur pelos campos da Brown University. Luisinho, é óptimo passear por aqui. Cada pessoa com que nos cruzamos é, muito provavelmente, mais inteligente do que nós!

No segundo dia, visitámos o departamento de Economia. Era no edifício mais feio de todo o Campus. Três dias antes de as aulas começarem, o Artur e Catarina voltaram a Ithaca. Vinham buscar a Sandra. Levaram-na com eles. No dia 25 de Agosto, levantou voo do aeroporto de Boston e voltou para Portugal. Eu fiquei.

No dia 11 de Setembro de 2001, acordo com o telefone. Já em Portugal, telefonou-me o Artur a dizer que ligasse a televisão. O segundo avião tinha acabado de embater na segunda torre. Não sabia o que fazer. Faltavam instruções. George Bush tinha desaparecido, na CNN faltavam informações, na Cornell continuavam as aulas. Sigo para a universidade. Nem todos sabiam do ataque.

A primeira aula foi de Microeconomia, com o prof. David Easley. Já se sabia que se tratava de um ataque terrorista. Começa a aula por dizer que ia haver aula. Não podíamos ceder aos terroristas. Mudar as nossas rotinas já seria uma cedência. Falou sobre a axiomática do consumidor. À saída da aula, já as Torres tinham caído. Havia mais informações. Era um ataque em larga escala que também envolvia a Casa Branca e o Pentágono. Tentavam atingir os três corações da América, o financeiro, o militar e o político.

Os aviões tinham partido do aeroporto de Boston.

Ao ver as imagens lembro-me do quão perto estive de estar ali. A NYU estava tão perto. Havia que descansar a família de Portugal. Eu estava no Estado de Nova Iorque, não na cidade. Os telefones não funcionavam. A minha mãe descansou a família do lado dela. Choveram também telefonemas para a minha sogra.

Em Portugal, queriam que eu voltasse, saísse de Nova Iorque, fizesse alguma coisa. Aqui, nos EUA, a única preocupação era não alterar a rotina. Esse o discurso oficial em nós entranhado. Os carros e as casas encheram-se de bandeirinhas patrióticas. As aulas na Cornell prosseguiram. Apenas foram interrompidas durante duas horas, na quinta-feira, 13 de Setembro. Entre o meio-dia e as duas houve uma cerimónia em honra do luto. Alguns discursos, muitas canções, muitos credos e raças. Um cordão emocional envolvia-nos.

A principal preocupação era evitar reacções racistas e xenófobas. A comunidade muçulmana não devia temer pela sua segurança. A polícia estava em alerta máximo. Qualquer ataque, físico ou moral, à comunidade muçulmana seria severamente reprimido. O país voltou a uma normalidade mais musculada.

1 comentário:

  1. A minha primeira aula também foi de microeconomia. O meu professor disse que não iria dar aula, que este era o tempo de estar com a família e não na sala de aula. Fui à Student Union telefonar para o meu marido. Lembro-me da excitação da adrenalina, quase irreal, que senti ao dizer-lhe para ligar a televisão.

    Quando fui para casa, vi na televisão as imagens, era difícil de acreditar, especialmente quando os edifícios começaram a cair. Pensei no que eu teria feito se eu estivesse lá dentro. Será que eu teria saído ou teria continuado dentro do edifício e mantido a calma?

    Durante muito tempo, todos os dias, depois dessa terça-feira, a primeira coisa que eu fazia ao levantar-me era ligar a televisão à espera que contassem histórias de sobreviventes. Eu precisava de ouvir que tinham havido sobreviventes. Não contaram... Só anos mais tarde é que eu vi histórias de sobreviventes em documentários.

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