segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A difícil perda do absoluto

Durante um século, os economistas clássicos andaram a discutir a origem do valor das coisas. Com os chamados marginalistas, no último quartel do século XIX, concluiu-se finalmente que o valor não está nas coisas, mas sim nas pessoas. Hoje, pode parecer estranho que se tenha demorado tanto tempo a chegar a essa conclusão. Mas, de facto, não foi fácil aceitar a não existência de uma fonte objectiva para o valor, como o trabalho, o lucro, a terra. A perda da valia intrínseca – o facto de que tudo deixa de possuir valor objectivo, independente da avaliação mutável da oferta e da procura – e a relatividade universal – o facto de que uma coisa só existe em relação a outras – são inerentes ao próprio conceito de valor. Talvez esta relatividade ou relativismo tenha provocado uma grande inquietação e lamentação naqueles primeiros génios da ciência económica. Talvez lhes fosse difícil suportar a perda de medidas e padrões absolutos, de deixar de medir através de réguas, normas e padrões.

2 comentários:

  1. De vez em quando falo com amigos em Portugal que estão deprimidos por causa do emprego ou por causa de salários baixos ou por causa de desemprego e eu digo-lhes que o problema não são eles; o problema é a conjuntura onde eles se encontram. Se estivessem noutro sítio ou noutra época teriam muito mais sucesso. O factor sorte é muito mais determinante do que o factor esforço ou o factor talento.

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  2. Concordo. O lugar e o tempo são determinantes. Li algures um estudo sobre a sorte da época em que se nasce e vive. Por exemplo, um americano nascido no início do século XX teve menos sorte do que os que nasceram no pós-guerra. O primeiro apanhou com a grande depressão no início de carreira e, como se não bastasse, ainda apanhou com a II Guerra Mundial. Quando os ventos começaram a mudar no pós-guerra, já estavam demasiado velhos para aproveitar as novas oportunidades. Os nascidos no pós-guerra tiveram muito mais sorte e ninguém escolhe o sítio e o tempo em que nasce.

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