terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Percepção e realidade

O Financial Times oferece-nos uma visão interessante de como vê a actuação do governo português na reacção à eleição do Syriza na Grécia. Dizem eles:
"No European leader has poured more scorn on the radical aspirations of the Syriza-led government in Athens than the prime minister of Portugal."

Financial Times, 16/2/2015

A utilização da palavra "scorn" (desprezo, desdém, menosprezo) logo na frase de abertura diz tudo. Nós seguimos a estratégia da Alemanha: a Alemanha opôs-se e nós seguimos o mesmo caminho. Agora pintam-nos como oponentes mais radicais do que os alemães e como obstrucionistas, como se nós fossemos os criadores da animosidade contra a Grécia. Não sei se era essa a imagem que queríamos projectar no estrangeiro.

2 comentários:

  1. Eu tenho uma teoria de quais os melhores desfechos para Portugal. Por esta ordem:

    - Haver uma restruturação da dívida grega (que será politicamente impossível não ser generalizada a Portugal e à Irlanda)

    - A Grécia ser "expulsa do euro" (entre aspas, porque isto pode cobrir situação muito distintas), com Portugal claramente ao lado da Alemanha (isso poderá abrir caminho a um aliviamento da situação portuguesa, por duas razões: por um lado, porque os países dominantes da UE quererão mostrar que até não são nenhuns monstros, e que a culpa foi toda dos gregos porque se portaram mal; e depois de serem duros com a Grécia, esterão mais à vontade perante os seus eleitorados para serem brandos com outros países)

    - A Grécia ser "expulsa do euro", sem Portugal aparecer claramente ao lado da Alemanha (também pode vir algum alívio aí, exatamente pelos mesmos motivos do ponto anterior, mas não tanto como se nos colarmos a 100% aos vencedores)

    - Ficar tudo na mesma

    Acho que o nosso governo está a apostar na segunda opção (e suspeito que até é um desfecho mais provável que o primeiro)

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    1. Miguel, a propósito da saída da Grécia do euro, saiu uma peça de opinião do Mark Gilbert na Bloomberg hoje que é muito boa: http://www.bloombergview.com/articles/2015-02-17/three-reasons-merkel-is-so-stubborn.

      Eu acho que brincamos com o fogo. A Alemanha já nos achincalhou bastante por não termos feito reformas e até por coisas que não são verdade--disseram que trabalhávamos pouco, por exemplo. Apesar de ter muito potencial, a economia portuguesa tem sérios problemas de crescimento, e muito deles são demográficos e estão a ficar cada vez mais visíveis. Nada nos garante que os alemães não se virem contra nós a seguir por não conseguirmos crescer. Isto é um péssimo precedente. Apesar de tudo, a qualidade de vida dentro do euro é muito superior à qualidade de vida fora dele, especialmente em países com tendência para a corrupção e justiça lenta e ineficaz.

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