Há dias ouvi na TSF que os Ipod e Iphones são produzidos na
China e exportados a um preço médio de 130 dólares para os EUA, que por sua vez
os vendem a 490. A China tem um ganho de cerca de 5 dólares por peça, uma vez
que antes tem de comprar materiais a mais de 120 dólares à Coreia do Sul,
Singapura e japão. Moral da história? O grosso do dinheiro não fica para quem
os produz, mas para quem os concebe, promove, distribui e vende. Numa palavra, nesta
“cadeia de valor” são os serviços, e não a indústria transformadora, que geram
a maior parte do valor.
No século XVIII, os economistas (os chamados
fisiocratas) achavam que só a agricultura gerava riqueza porque, diziam eles, a
indústria se limitava a transformar. Hoje, muita gente ainda tem dificuldade em
perceber onde é que está o grosso do valor. Mesmo em indústrias como o calçado
e o vestuário portugueses, a maior parte do valor é gerado pelos serviços, seja
do lado da produção, seja do lado do consumo - design, marketing, publicidade, distribuição, etc. Em bom rigor,
ainda fará sentido a tradicional distinção entre serviços e indústria?
Faz sentido olhar para a globalidade do processo produtivo e considerar a criatividade - em todas as fases - com aderência às expectativas do mercado como a maior alavanca de valor...monetário. E faz sentido discutir o conceito de valor que mais se adequa às sociedades que se querem sustentáveis.
ResponderEliminarCaro JCA,
ResponderEliminarFazer, faz. Nem que seja em termos de emprego gerado (os serviços, com algumas excepções, são menos intensivos em mão-de-obra).
Mas, pegando no seu exemplo, mesmo no passado o que gerava valor não era tanto a mão-de-obra, mas antes a percepção desta. Uma peça produzida por "A" podia ter mais valor que uma produzida por "B" com o mesmo gasto de mão de obra. Bastava que fosse percepcionada como tal.
Uma mudança que, de facto, ocorreu não foi entre indústria e serviços, mas antes a sobreposição da imagem construída dos produtos (o marketing) sobre características intrínsecas do mesmo (a qualidade / utilidade). A ideia de "marca", que surgiu a partir da qualidade do produto (a marca "x" é boa porque o produto "y" produzido por esta é bom), inverteu-se. Agora os produtos são automaticamente bons porque são produzidos pela marca (o produto "y" é bom porque é vendido por "x").
Uma (ou "a") consequência disso é que deixou de importante quem produz e passou a ser importante quem vende. Daí que o negócio está - como disse e bem - nos serviços (design, marketing, vendas) e não na produção.
Mas, como tudo, as coisas mudam: a própria Apple fez um alarido há uns tempos de ter Mac Pro's produzido nos EUA. A alta costura insiste em sapatos italianos (senhora) ou ingleses (homem). Os fatos "bespoke" são de Saville Row. Os carros topo-de-gama são alemães (da Alemanha) ou italianos (de Itália). Marcas há muitas e o verdadeiro sucesso de um país é conseguir transformar-se numa marca (o Japão é um excelente exemplo recente). A China, nesse aspecto, tem muito que andar.