Conheci-o porque ele foi convidado para apresentar um seminário no Departamento de Economia onde eu trabalhava. Depois do seminário, o convidado de honra, os estudantes e os professores foram todos para um bar na Dickson St. para conversar. Durante a conversa ele disse uma coisa que não me saiu da cabeça e frequentemente penso nela. Ele disse que não tinha aprendido nada de física durante o seu doutoramento nos EUA. Todo esse conhecimento tinha sido adquirido quando ele tinha estudado no Chile. O que os EUA lhe tinham ensinado foi a ver o mundo de forma a que a teoria que ele tinha aprendido pudesse ser aplicada de uma forma criativa.
Aqui há uns anos, depois do colapso financeiro, uma das histórias que passou na NPR era sobre um modelo desenvolvido por Ben Bernanke nos anos 80, o modelo chamava-se "financial accelerator". As previsões desse modelo indicavam que os EUA iam entrar em crise. Nessa história há uma parte que eu acho engraçada e que sublinhei para vós:
Bernanke's computer model is called the "financial accelerator." It's now in the office of Mark Gertler, an economics professor at New York University, who worked on it with Bernanke decades ago. You might expect a model of the economy to look like a video game, with avatars and a virtual trading floor. But when asked to show off the financial accelerator, Gertler turns to his computer and starts printing out paper.A investigação pesada nos EUA depende actualmente dos estudantes estrangeiros, mas antes disso dependia de cientistas estrangeiros que vieram para os EUA como refugiados. As universidade americanas têm uma visão oportunista do mercado.That's because he and Bernanke worked on equations, not computer programs. "For that, we have highly intelligent and ambitious graduate students," Gertler says.
Uma das minhas antigas alunas da cadeira de econometria que eu leccionei na Universidade dos Arkansas é do Sri Lanka e, depois de terminar o curso e regressar para o seu país, pediu-me ajuda para encontrar um programa de mestrado nos EUA e para organizar a sua candidatura e o financiamento dos estudos. Como ela terminou o curso recentemente, eu decidi escrever-lhe para ver como as coisas tinham corrido. No email, ela disse que tinha arranjado emprego, pois durante o curso tinha tido um estágio dentro da universidade, o que lhe deu oportunidade de encontrar um emprego de consultoria no governo local de Nova Iorque, e depois disso encontrou um emprego normal.
Diz ela que pessoas que tinham acabado o curso um ano e seis meses antes dela ainda não tinham emprego. O seu conhecimento de estatística aplicada com SAS e Stata ajudou-a bastante--esta parte fez-me orgulhosa porque as minhas recomendações foram todas no sentido de ela ter um bom background nesta área e conseguir estágios. E depois ela mencionou uma coisa que aprendeu na cadeira do primeiro ano de Microeconomia do Andy Horowitz--uma curiosidade, o Andy fala português porque se apaixonou pelo Rio de Janeiro e decidiu aprender. Ele disse: "It's not about where you have absolute advantage; it's about where you have comparative advantage." É a teoria de David Ricardo, que até tinha ascendência portuguesa.
E agora pergunto-vos o seguinte:
- Temos nós em Portugal uma visão oportunista do mercado?
- Será que exploramos as áreas onde temos vantagens comparativas ou esperamos que vantagens absolutas nos caiam do céu?
- Quando Álvaro Santos Pereira mencionou que devíamos olhar para coisas usando uma visão oportunista do mercado, o que é que o país lhe fez?
- Quando o nosso governo olhou para todos os licenciados portugueses, tiveram uma visão oportunista do mercado?
- Quando António Costa olhou para as cheias na baixa de Lisboa, teve uma visão oportunista do mercado?
- Quando a Grécia elegeu um governo maluco, tiveram os nossos governantes uma visão oportunista do mercado?
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.