Abri um artigo do meu jornal português preferido, o "Jornal de Negócios", para tentar perceber as exigências que justificam a greve da TAP. Não encontrei resposta e não percebi quase nada do que li porque, a meu ver, nada era essencial. Apenas percebi que o sindicato dos pilotos quer contrapartidas salariais. Depois lembrei-me de outro artigo que li depois do BES cair. Já não me lembro do jornal, mas entrevistaram um vizinho de Ricardo Salgado, que era piloto aéreo, e conduzia um Porsche.
Um Porsche Carrera era o meu carro de sonho até a Alemanha decidir destruir a UE--nunca mais vou comprar um carro alemão. Achava piada ao Carrera. Isto do Carrera lembra-me uma história antiga. Quando eu estava na faculdade nos EUA, o meu amigo Travis achava que eu devia ser actriz pornográfica e disse-mo várias vezes. A primeira vez que ele mo disse, eu retorqui qualquer coisa como "Interesting... What makes you say that?" Esperava eu que ele me dissesse qualquer coisa a respeito de eu gostar de sexo ou de ter mamas grandes, sei lá. Mas não, era o meu nome. É que há (havia?) uma actriz pornográfica chamada Asia Carrera e ele achava o meu apelido pornográfico, logo era como o código postal: meio caminho andado. Eu devia ter comentado isto com a minha mãe porque ela deu-me o nome de duas santas--a história do meu nome é interessante--; mas, ao ter escolhido o meu pai para casar, ficou com crianças com apelido pornográfico. Nunca me ocorreu dizer-lho...
Então hoje, que é o Dia do Trabalhador, há uns certos trabalhadores da TAP que decidiram fazer greve por 10 dias. A TAP é a companhia aérea que me deixou sozinha em Nova Iorque numa noite de Janeiro de 1999. O avião da TAP atrasou-se e eu perdi a minha ligação seguinte. A TAP recusou-se a dar-me um hotel e pagar-me o jantar, diziam que era da responsabilidade da Delta Airlines, à qual eu tinha comprado o bilhete. O voo Lisboa--Nova Iorque (JFK) era operado pela TAP mas era uma colaboração com a Delta. Então andei de balcão para balcão, entre a TAP e a Delta. A menina portuguesa da TAP, aquela que nasceu no mesmo país que eu, não demonstrou qualquer preocupação com o meu bem-estar. A menina da Delta era americana, mas os pais eram gregos, e estava muito preocupada em eu ter um hotel e comida.
A certa altura, diz a menina americana/grega que a responsabilidade era da TAP e eles iriam pagar. E a americana/grega, que nasceu num país diferente do meu, foi falar com a TAP e obrigou-os a cuidar de mim. O meu voo, no dia seguinte, saía do aeroporto La Guardia muito cedo. Eu tinha de lá estar para aí às 6 h da manhã. A americana/grega disse-me para eu prestar atenção à hora e eu disse-lhe que esperava conseguir lá estar. No dia seguinte, lá estive a tempo e horas. E quem lá esteve também foi a menina americana/grega da Delta que foi certificar-se de que eu tinha passado bem a noite e tinha conseguido chegar ao meu voo.
Não tenho pena de quem trabalha para a TAP, especialmente de quem trabalha para a TAP e ganha o suficiente para conduzir Porsches. É que a TAP dá prejuízo e é subsidiada por contribuintes que têm empregos mal-pagos e que vivem num país com uma taxa alta de desemprego, maus salários, e são massacrados por impostos altos e um estado abusador, que penhora casas por dívidas de €1.000; mas que, ao mesmo tempo, tem legislação que permite que as obrigações ao estado prescrevam, o que dá um jeitaço a políticos distraídos.
Ainda bem que a maioria dos pilotos decidiram não fazer greve e os voos estão a funcionar a 75%, numa greve em que os sindicatos esperavam uma adesão de 90%. É sinal que, talvez, finalmente, haja alguém com consciência na TAP.
ResponderEliminarPequeno comentário. Que 1 piloto da TAP tenha um porsche e viva ao lado do Ricardo Salgado não quer dizer que todos os pilotos da TAP (quanto mais os outros trabalhadores da TAP) tenham carros de 100,000€ ou vivam na quinta da marinha. Fazendo as contas (é nessa parte que me desilude um pouco), é fácil perceber que o salário mais alto de um piloto da TAP não dá para comprar um porsche em condições normais. Que haja pilotos da TAP (como de outros sítios) com muito dinheiro pode obviamente ter muitas explicações (dinheiro de família, dono de empresas, ás da bolsa, totoloto ou mesmo tráfico de droga). Foi um pouco gratuito, não foi? :-)
Nem por isso, os pilotos ganham bem, especialmente comparados com o resto dos portugueses; mesmo a nível internacional os pilotos portugueses ganham mais do que os alemães em média. Acho que eu teria mais simpatia por eles se eles fizessem pressão para dar um serviço melhor aos clientes, mas quando tudo se reduz a questões salariais eu não tenho grande simpatia. Ter greves todos os anos é muito mau e é pior num país que pensa que é rico, mas é pobre.
ResponderEliminarSem querer epilogar, os pilotos não são responsáveis por atrasos ou pelo tratamento dado aos passageiros no caso desse atraso (ninguém lhes perguntou nada), nem fazem greves todos os anos (há muitos trabalhadores na tap a fazer greve, não só os pilotos), e as reivindicações incluem frequentemente questões de serviço e funcionamento da empresa (nem sempre bem comunicados, certo). O meu único comentário tinha a ver com misturar exemplos com o todo. E isso foi gratuito. Quanto a simpatias ou antipatias, claro que cada um é livre! Eu simpatizo imenso com a Rita e nunca falei consigo nem a vi!
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