Nunca li o Fausto do Goethe (uma grande falha na
minha formação). Há tempos, um ex-colega, que viveu mais de 20 anos na
Alemanha, contou-me, com orgulho, que tinha uma versão em alemão da obra, do
início do século XX. E achava que só agora, na reforma, é que tinha percebido bem o
livro e o drama de Fausto. Fausto tinha passado a vida a estudar e, já velho,
sentia uma enorme frustração: de que lhe servia agora todo aquele conhecimento
acumulado durante anos? Não resiste por isso a vender a alma ao diabo a troco
da jovem e bela Gretchen.
O meu ex-colega, na casa dos sessenta, dizia que tinha escrito uns
“livritos” (as palavras são dele) e uns artigos, mas que isso não lhe dava
nenhum consolo. Os livros estavam a apanhar pó nas prateleiras das bibliotecas,
e um dia seriam levados para um depósito e ali ficariam para sempre esquecidos.
Disse-lhe: “Bem, espero que não venda a alma ao diabo por causa de uma Gretchen”.
Sorriu e despediu-se. Nunca mais o vi.
Também nunca li--há tantos livros que eu tenho em atraso. Tal como o teu amigo, frequentemente me pergunto qual a parte que vale a pena. Nunca encontro resposta; por enquanto, fico satisfeita por apenas ter contemplado a pergunta.
ResponderEliminarEu nunca venderia a minha alma ao diabo em troca de alguém mais novo; mas de alguém mais velho até seria uma proposta a considerar...
nunca venderia a minha alma ao diabo em troca de alguém mais novo; mas de alguém mais velho até seria uma proposta a considerar...
EliminarJá não entendo nada de si, Rita. Num post anterior disse que gostava sempre de homens mais novos...
Ó Luís, é muito simples: porque razão precisaria eu de vender a minha alma ao diabo para seduzir um homem mais novo, quando eu já o consigo fazer sem dificuldade nenhuma? Pagar um balúrdio por uma coisa que já se tem parece-me um bocadinho estranho e razão suficiente para me tirarem o doutoramento. Depois, desdoutorada, lá teria eu de voltar para a escola, onde homens mais novos prontos a seduzir é o pão nosso de cada dia, para tirar um doutoramento novo.
EliminarÉ natural que não entenda. Já sabemos que tem pouca capacidade de empatia
EliminarTemos portanto um homem que já tinha escrito uns livritos mas que, seguindo as palavras do filósofo grego, achava que precisava também de deixar na Terra uma árvore e um filho. Ora, se plantar uma árvore é coisa que se consegue fazer sozinho, já para produzir um filho é necessária uma mulher jovem. Coisa que um homem velho só obtem se vender a alma ao diabo...
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