Ignacio Palacios-Huerta,
professor de economia na London School of Economics, é um reputadíssimo especialista
em Teoria dos Jogos. Num dos seus artigos científicos mais engraçados, Palacios-Huerta
viu a marcação do penalti como um jogo não-cooperativo em que simultaneamente o
marcador tem de decidir se atira para a esquerda ou para a direita e o
guarda-redes tem de decidir se se atira para a esquerda ou para a direita
(esqueçam a hipótese de a bola ir para o centro).
Usando dados reais sobre marcação de penaltis, testou um modelo matemático adequado a este tipo de jogo. Para tal recolheu dados para todos os penáltis marcados entre 1995 e 2000 (quase 1500) nos principais campeonatos europeus (Itália, Inglaterra e Espanha) e estudou-os.
Se o avançado seguir a estratégia óptima, atirará mais vezes a bola para o seu lado
mais forte, mas também algumas vezes para o seu lado mais fraco (se atirasse
sempre para o mesmo lado, facilitava a tarefa de adivinhação do guarda-redes). A
solução óptima é tal que, no momento do remate, as probabilidades de golo são
iguais quer chute para o seu lado mais forte ou mais fraco. Ao guarda-redes
aplica-se um raciocínio semelhante. Mais, as escolhas dos jogadores devem
parecer puramente aleatórias para não serem previsíveis.
A que conclusões chegou
Palacio-Huerta? Escrevi sobre o assunto num artigo passado. Os jogadores de elite,
como Figo ou Zidane, são estrategas exímios. E, mesmo que não saibam Teoria dos
Jogos, a verdade é que se comportam como soubessem. “Os marcadores de penaltis escolhem o lado para onde atiram
a bola de forma que a probabilidade de marcar golo é praticamente igual, quer
chutem para a esquerda ou para a direita. A probabilidade de um guarda-redes
defender o chuto é também igual, quer se atire para a esquerda ou para a
direita. Finalmente, não vale a pena tentar prever se o remate vai ser enviado
para um lado ou para o outro, ou para que lado mergulha o guarda-redes. Tal
como o previsto, essas decisões são, regra geral, imprevisíveis.”
Que conclusões
tirar? Possivelmente, poucas pessoas terão estudado tanto Teoria dos Jogos e
estratégias óptimas para a marcação de penaltis como o Professor Palacios-Huerta.
Por outro lado, muito provavelmente, poucas pessoas terão estudado tão pouco Teoria
dos Jogos como Jardel ou Ronaldo. Mas, no momento de marcar o penalti pela nossa equipa, quem é
que preferimos? O Cristiano Ronaldo ou Palacios-Huerta, professor de economia,
especialista em estratégia do penalti?
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