Há dias assisti a uma conferência de Pacheco Pereira. O
tema era o comentário político nas televisões. Pacheco desvaloriza o facto de
umas largas dezenas de comentadores serem políticos no activo ou na reserva. Vê
até vantagens nesse fenómeno. Primeira, é preferível sabermos as posições de
quem fala ou escreve, em vez de “pseudoindependências” – disso é que Pacheco
Pereira diz não gostar nada. Segunda, este tipo de comentador tem um
conhecimento directo da realidade que os outros não têm, o que lhes permite
muitas vezes esclarecer melhor a audiência sobre certas práticas e
comportamentos partidários. Por fim, declarou que, ao contrário do que por aí
se diz, Portugal não é um caso único no panorama europeu. Por exemplo, em
França também é normal este trânsito entre a política e o comentário. Por azar,
na plateia, estava um senhor que conhecia muito bem a realidade mediática francesa.
Espantado com a observação de Pacheco Pereira, pediu que lhe desse um exemplo -
um exemplo que fosse, insistia o senhor - de um político ou ex-político que
tivesse um espaço de comentário político regular num órgão de comunicação
social francês. Ficou sem resposta.
O referido vai-vem é, sem ponta de vergonha, substituto pobre da culpa, quase uma marca igualmente observável em outros domínios da sociedade portuguesa. Há quem diga que é das mentalidades mas isso é outra maneira de evitar carregar um pouco de ciência sobre o quotidiano.
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